“É vital o historiador lutar contra a mentira. O historiador não pode inventar nada, e sim revelar o passado que controla o presente às ocultas”. Eric Hobsbawn (1917-2012).
Não precisamos viajar no tempo no viés
do corte de Stanley Kubrick (1928-1999) em “2001: uma odisseia no espaço”.
Projetemos nosso instante para daqui a um ou dois séculos. Brasil em
particular.
Nas tabuinhas de argila chegaram os
fatos registrados que traduzem a história dos Sumérios. Não dispomos de meios
para afirmar em torno da ‘verdade’ das fontes que vicejaram no Crescente
Fértil, mas muito do escrito tem sido confirmado através da Arqueologia. Mas, o
que deles sabemos decorre do escrito há 5.000 anos.
Muito diferente daqueles idos, a
história que será escrita em futuro não tão distante, pautada o será em estudos
acadêmicos, cinema, áudio, vídeo e publicações veiculadas na imprensa
contemporânea, materializada a partir do quanto efetivado nesta segunda década
do século XXI.
Observando esse fato (o veiculado no
presente) poderá o leitor dimensionar a ‘verdade’ levada à História.
Neste quesito – o veiculado na imprensa, o que inclui tudo que dela tenha se originado – teremos no Brasil a “verdade” com muito pouco de Verdade. Como a “verdade” que se nos apresenta como história desta terra. A ‘verdade’ que esconde a Verdade. Porque nunca revela o passado que controlou o presente de antanho e o que vivemos. Isso porque muito (ou quase tudo) do veiculado corresponde a uma concentração textual que defende os interesses de uma diminuta parcela da sociedade, que disso se beneficia e para isso a remunera.
Por acaso há quem escreva a Verdade de
que o povo deste país continua servido como prato de valia menor na bandeja que
chega à mesa da classe dominante expressa em suas distintas castas?
Ao contrário, os crimes cometidos sob
a chancela do teorismo econômico a serviço de alguns grupos (prevalente o
financeiro) são elevados ao altar do mercado como dogma de fé sabujado pelos
meios de comunicação, o povo como cordeiro permanentemente imolado, massificando
no desgraçado e vilipendiado com tais políticas como se tudo fosse não só
necessário, mas imperativo para que surjam ‘dias melhores’. Que o sacrifício
permaneça porque a esperança está logo ali, no próximo programa econômico
quando o último não deu certo, não correspondeu ao prometido.
Caro e paciente leitor, como traduzir
o atual estágio econômico para este povo sofrido que disputa moedas aqui e ali
para ir ao açougue comprar osso (em Itabuna) a 5,00 reais o quilo? Não mais a carne de
pescoço, mas osso pura e simplesmente.
Caro e paciente leitor, como
justificar que um país autossuficiente em petróleo, extraindo-o do fundo do mar
com tecnologia desenvolvida por nós (Petrobras) a custos primários que variam
entre 8 e 14 dólares fixe sua política de preços como se importado o fora do
Oriente Médio sob preço cartelizado e vinculado aos interesses das petroleiras
privadas? Como entender que a imprensa tudo justifique como natural quando a
política de preços está sob controle do governo brasileiro, que se põe a serviço
do acionista privado como se fora ele o investidor da tecnologia que
desenvolvemos?
Caro e paciente leitor, como entender
normal a entrega a preço de banana do patrimônio brasileiro, como a
privatização da TAG S.A. (R$ 36 bi), construído ao custo do labor e suor do
brasileiro comum e venha o governo que dele se desfez a alugar do comprador a
utilização do que era seu passando a pagar anualmente 3 bilhões?
Eis a Verdade omitida. Um país aos
frangalhos, com poderes se engalfinhando em defesa de si mesmos e muito pouco
do que representam como instituições de Estado. Instituições que não se
respeitam quando negam valia ao processo histórico-democrático.
Por presunção não temos como perceber
razões de alegria, de esperança, de expectativa qualquer que seja quando o país
é administrado não em favor de sua gente, de sua população, mas para servir aos
que o exploram historicamente.
A fragilidade deste triste país é tal
que não se vislumbra qualquer esperança de senti-lo como nação. País que mais e
mais se amesquinha acreditando nas ‘verdades’ escritas, com seu povo aprendendo
com a mentira diuturna.
E mais fraco se torna quando nem mesmo
a decantada democracia que o norteia, mais e mais fragilizada, assiste o
noticiário de cada dia insinuando a necessidade de reconhecimento de um poder
moderador. Nos moldes daquele imposto pelo Pedro português ao Brasil, em 1824, através do
qual ele mesmo, imperador, se tornava a última palavra. A mais pura expressão
de absolutismo monárquico que a França lançara às calendas trinta e cinco anos
antes.
Na ausência de uma linhagem real
autêntica, não bastasse o ensaio de ‘nobres’ que sonham em sê-lo de plantão,
eis que as forças armadas (através de parcela de seus arautos do caos) anunciadas
como o legítimo poder moderador.
Para exercê-lo – à mingua de um reino ou império – até mesmo ditadura serve.
E tudo se apresenta sob o acovardado
dos que registram o instante, omissos como o são diante do esgarçamento social
e da desigualdade mais e mais aprofundada nestes últimos tempos...
Certamente será – com olhar que lhes chegue da atualidade – muito ingrata a tarefa dos historiadores de escreverem o país no futuro a partir do que dizem dele no presente!
Gostaríamos que a escrita de hoje, que
registrará a história amanhã, fosse compreendida sob o viés da Verdade, porque
quem a escreve está fazendo história.
Para tanto, nada mais compreender que é vital também o jornalismo lutar contra a mentira.
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