terça-feira, 21 de agosto de 2012

Não viveu para ver

Dona Dolores I
Entusiasmada com o trabalho que se desenvolvia, servindo cafezinho e água para os que trabalhavam e oferecendo sua própria casa como espaço para depósito do material para a obra, não cansava de repetir: "Agora sim, vou poder dizer que sou vizinha de Jorge Amado. Com muito orgulho!"

Foi das primeiras a internalizar a ideia de que o ferradense ilustre nascera realmente ali e era um conterrâneo muito especial. Podemos afirmar que nela estava representada a mudança da consciência que norteou um novo comportamento dos moradores de Ferradas para com Jorge Amado.

As ações positivas do município, revitalizando com a construção da casa onde residiu o "Menino Grapiúna" a memória local, abrindo espaço para que Ferradas venha a ser efetivamente ocupada no imaginário itabunense como uma das "Terras do Sem Fim", encontrou nela a melhor expressão do reconhecimento pelo que então se fazia.

Inaugurada a casa, faltou a Dona Dolores ver a promessa de que a vizinha ilustre pertenceria à comunidade, que seria nela referida e valorizada.

Morreu antes. Apenas viu a casa construída, não o ideal que a norteou, como aos demais ferradenses.

Dona Dolores II
Maria Dolores da Silva, simplesmente Dolores - como era conhecida - passou mal durante a madrugada de domingo 12, sendo levada para o Hospital Santa Cruz no dia seguinte. Cobraram-lhe, através dos parentes, 20 mil reais para garantia do internamento e outros 15 mil para a do tratamento enquanto estivesse internada. 

Dispondo de apenas 500 reais para a consulta (assim o disseram os parentes) e outros 300 para cobertura de exames, não tinha como permanecer na entidade filantrópica e foi encaminhada para o São Lucas, onde recebeu o tratamento possível.

Faleceu neste domingo 19, sepultada nesta segunda.

O legado de Dona Dolores
Não fora o entusiasmo e alegria com que via Ferradas tornando-se referência, Dona Dolores nos deixa um legado: de nos permitir registrá-la em texto, como mais uma, dos incontáveis que buscam o Hospital Santa Cruz para tratamento e se veem tornados inúteis trapos humanos se não dispõem dos recursos financeiros para assegurar o "negócio/empresa da saúde" em que se tornou o espaço sonhado por pioneiros para cuidar dos que carecessem de uma "Santa Casa", que por "Misericórdia" encontrassem.

Ainda que custeada com recursos públicos, que fizeram de suas instalações e equipamentos o primor que são e a tornaram referência em Medicina no estado da Bahia, a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, por sua estrutura original - o Hospital Calixto Midlej - é hoje um rendoso negócio para os profissionais privilegiados por nele trabalhar. Tanto que não largam o osso!

Nele não há "misericórdia".

As "Marias Dolores da Silva" que o digam. Se pudessem dizê-lo!


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