domingo, 13 de outubro de 2013

Alguns destaques

DE RODAPÉS E DE ACHADOS *

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Tributo à estupidez
O assistido nos Estados Unidos nestas últimas semanas não pode ser tributado à democracia, mas à estupidez. A disputa ‘democrática’ entre as idéias defendidas pelos partidos Republicano e Democrata, encontrando aquele o domínio de espaço para travar a administração do país, leva ao absurdo de pretender prejudicar a maioria para que seja assegurada a uma minoria, em torno de 0,1% da população, a manutenção e ampliação de privilégios. Típica luta de classes, entre ricos (minoria) e pobres (maioria).

O pomo da discórdia reside na proposta do governo Obama de assegurar benefícios aos desassistidos, através de recursos para cupons de alimentação (nosso Bolsa Família) e aos desempregados (seguro desemprego), não fora mais oferta de saúde para tais necessitados. Para tanto precisa de recursos, o que tem sido negado pela bancada republicana, visto que a tributação recairia em quem pode pagar – os ricos naturalmente.

Como nos EUA não há saúde pública universal como no Brasil – lá todos compram planos de saúde – quer o governo aumento de tributação dos ricos para que sejam reduzidos os subsídios governamentais dados ao sistema Medicare para que os americanos de baixa renda possam comprar ‘seguros de saúde’.

Para quem folheia os compêndios de História encontrará grandes semelhanças entre o instante estadunidense e aquele denominado de Ancien Régime, que desaguou na Revolução Francesa de 1789. Em França o absolutismo monárquico sustentava a Nobreza e o Clero às custas do Terceiro Estado. Mudaram-se os rótulos, o conteúdo permanece o mesmo.

É que socorro aos bancos pode. Esse o sistema que alguns brasileiros ensaiam para o país, com o discurso do Estado mínimo, caso cheguem à presidência da república. 

Como o de FHC e seu pupilo Aécio Neves, que desancam o país quando em viagem ao exterior, especialmente se Estados Unidos, mostrando que o complexo de vira-lata neles permanece.

Retomando
Pode nada significar, mas o fato não ocorria há três décadas, pelo menos. O papa Francisco, ainda que informal e discretamente, encontrou-se no Vaticano com o religioso peruano Gustavo Gutierrez, que é integrante da Ordem Dominicana.

Nada demais haveria se não fosse Gutierrez uma das expressões da Teoria da Libertação. Tanto que lhe é atribuída, como teólogo, a sistematização dessa corrente no interior da Igreja Católica.

Devagar, o retorno da Opção Preferencial Pelos Pobres, já apregoado por Francisco quando em passagem pelo Brasil.

Dom Hélder Câmara e Dom Paulo Evaristo Arns lideram o aplauso a Francisco. Alvíssaras!

Norma Bengell
Nosso tributo à atriz que nos deixou esta semana. Se muito por sua ousadia como atriz – méritos tantos, afogados em recentes mediocridades globais – muito mais por sua atuação política. Talvez a razão de haver buscado outro espaço seja encontrada na falta de exemplo em muitas de suas atuais companheiras.

Viciado
Viciado, por que não? A retomada da política monetária neoliberal para conter a “inflação” demonstra, pela recaída, que este Brasil vive como um organismo viciado em drogas. Caso delas se afaste, por pouco tempo que seja, a síndrome da abstinência exige nova dose.

Assim com a taxa SELIC, medicada pelo Banco Central, que volta a ser a maior do mundo.

Pesquisas
Os mais argutos observadores não confiam em pesquisas eleitorais – em geral – ainda que possam satisfazer o que defendam. No imediato da ‘coligação’ Marina-Eduardo Campos – fato que repercutiu apenas entre os interessados diretos e naqueles que acompanham a gangorra da política – o instituto Datafolha já mostra reflexos da arrumação.

Soa-nos estranho que Marina tenha subido, assim como Aécio e o próprio Eduardo.

Sem falar no salto de José Serra, num dos cenários, apontado como o “mais improvável” – quando pode ser o mais provável ou, quando nada, o sonhado pelas elites e pela oposição: Dilma com 38%, Marina com 28% e Serra com 20%. 

Tal ‘improvável’ cenário não somente leva a eleição para o segundo turno como pode alimentar/construir a possibilidade de derrota de Dilma caso concentrem-se maior parte de votos de Serra ou Marina em um ou outro, visto que a soma das intenções em seus nomes alcança 48% contra 38%.

Nesse momento manipulações podem ser instrumento de propaganda, a ser utilizado no curso dos meses seguintes. Não é coisa nova. Dar certo é outra coisa.  

Aguardando II
A euforia oriunda da aliança Marina-Eduardo Campos cobra-nos uma cena: a ex-petista e ex-verde, ainda sem nova cor, abraçada a Heráclito Fortes e Jorge Bornhausen.


Aguardando II
Da valorosa Luiza Erundina – que recusou ser vice de Fernando Haddad por que Lula trouxe o apoio de Maluf para o petista – também esperamos, pelo menos, uma fala – curta que seja – que demonstre a natureza de sua reação aos novos ‘companheiros’

Plataforma brasileira
Ainda que a totalidade de seus componentes não tenha sido produzida no país (o conteúdo nacional chega a 79%) o lançamento da Plataforma P-55, de 52 mil toneladas – que produzirá 180 mil barris e tratará 4 milhões de metros cúbicos de gás por dia depois de instalada na Bacia de Campos, com previsão do início de atividade ainda para este ano – sinaliza um instante singular para nossa indústria de base.

Construída/montada em Rio Grande-RS, bem demonstra o quão distante estão estes últimos dez anos de administração petista dos anteriores, onde destacada a tucana, que tinha olhos somente para Singapura.

No imediato das comemorações dos 60 anos de criação da Petrobras o lançamento de uma plataforma construída no Brasil configura instante simbólico. Não somente pela circunstância de não mais estarmos lutando pelo reconhecimento da existência de óleo em território brasileiro, mas pela retomada de uma indústria de base, que estava sendo transferida para estaleiros estrangeiros.

Segredo
Os dados levantados pelo DIAP mostram o porquê da dificuldade que temos (o governo, em particular) de emplacar decisões voltadas para a sociedade em geral, observada esta a partir da base da pirâmide social. 

Num Congresso onde as bancadas ruralista e empresarial confundem-se com números convergentes que lhes permite barrar qualquer iniciativa que não corresponda aos seus interesses, não há como ver a contraposição da representação sindicalista/ambientalista obtendo sucesso, a não ser que aquela concorde.

Apenas para ilustrar: a representação empresarial corresponde a três vezes a sindical.

Os cubanos estão chegando
Ainda que não gostem o CFM e seus acólitos estão chegando os cubanos (símbolo para a reação xenófoba de uma parcela da classe médica) ao lado de tantos outros estrangeiros. Para cuidar de saúde aonde muitos daqui não chegam, ainda que os espere o povo carente.

Contra a corrente, a aprovação da MP do Mais Médicos e o posicionamento da Organização Pan-Americana de Saúde (a mais antiga instituição médica do mundo), que, através de sua diretora-geral Carissa Etienne, diz ser o Programa uma iniciativa arrojada e inovadora.

Naturalmente a senhora Carissa seria vaiada no Brasil. Tanto que o texto dela em defesa e reconhecimento do programa brasileiro, publicado em O Globo, não mereceu a repercussão merecida.

Novo/velho
Um jovem velho aporta na política local. Dizem os que ouvem seu discurso que de novo somente a idade, uma vez que a prática soa muito antiga.

Buscam descobrir a fonte de onde bebeu.

Muito dinheiro
A administração de Claudevane Leite disporá de recursos superiores a 50 milhões de reais para aplicar em obras diversas no município. De saneamento básico à construção de milhares de novas moradias, passando por urbanização e reurbanização. Afirma-nos fonte de alto coturno do atual governo.

O detalhe fica pela forma como conseguiu tal volume de recursos: simplesmente recuperando os projetos que a administração de Azevedo não conseguiu efetivar, apesar de obtidos e assegurados os recursos.

Fecha o pano. Para a equipe de Azevedo!

Quarteto Olinda
Formação pouco comum – rabeca em vez de sanfona – o grupo mostra a força da qualidade da música que é típica do Nordeste, afastando-se dos modismos ‘universitários’ que hoje afligem vertentes várias da música brasileira. Leitura própria, autoral, com sotaque inconfundível.

O grupo, que existe há oito anos, tem assumido a divulgação do forró na Europa, destacando a rabeca como instrumento central, fato que remete à fonte que os motiva, de onde originários: forrós, boizinhos e cavalos--marinhos.

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Coluna semanal publicada em www.otrombone.com.br aos domingos.

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