sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Lições

Não aprendidas
É o tema, por excelência. Mas que se evita discutir com a profundidade que está a exigir. A fuga, no primeiro plano, decorre do fato de que inúmeros atores (parcela considerável) não têm qualquer compromisso com o país em si. Dito assim com a construção de uma nação no sentido absoluto. No segundo plano – decorrente do primeiro – a conveniência da manutenção de um status quo que sempre correspondeu aos propósitos individualistas de uma oligarquia desenvolvida no curso dos séculos.

Isto posto, não temos como fugir a uma conclusão primária: vivemos uma luta de classes (ricos x pobres, abonados x desassistidos etc.) em que aquela oligarquia, tendo perdido o controle absoluto da cornucópia do Estado nacional (sem perspectiva imediata de retomada) põe-se na trincheira do ataque em defesa de seus interesses. Individuais, e não coletivos.

Levantando a hipótese de que a denominada Nova República fundava seu equilíbrio no pacto a partir do “imobilismo” diante do enfrentamento aos vícios históricos Vladimir Safatle traz no bojo de artigo publicado na Folha (A Nova República acabou, aqui disponibilizado através do JornalGGN)  ainda que não o avente de forma explícita  a manutenção do acordo histórico da apropriação do Estado por oligarquias. O que ocorre desde que o colonialismo português se sustentava na certeza da estabilidade pela detenção da propriedade dos bens da Coroa na pessoa do titular do singular absolutismo monárquico então imperante.

Dessa forma, a Coroa Portuguesa dotava o monarca de posse e domínio sobre tudo o que descoberto, a quem cabia distribuir a quem – e na forma que – lhe aprouvesse.

Assim ocorreu com a colonização através das Capitanias hereditárias, embrião da formação histórica da oligarquia nacional, que sempre viveu, vive e sobrevive às custas do Estado.

A propósito da Nova República e do pacto ‘imobilista’ que a sustentou aventa Safatle:

Desde o momento em que FHC se sentou com ACM e o PFL para estabelecer a ‘governabilidade’, a sorte da Nova República estava selada. Frentes heteróclitas de partidos deveriam ser montadas acomodando antigos trânsfugas da ditadura e políticos vindos da oposição em um grande pacto movido por barganhas fisiológicas, loteamento de cargos e violência social brutal.

Para tanto – observa Safatle, apoiado em José Artur Giannott, que cunhou a expressão ‘zona cinzenta de amoralidade’ – a Nova República exercita a “contenção por visibilidade”, que exige respeito a uma “linha de tolerância” para acomodar as forças díspares que a sustentam. “Havia coisas que não poderiam aparecer, sob pena de insuflar a indignação nacional” – observa Saflate.

Simplesmente, um “acordo fundado sobre uma zona cinzenta de amoralidade resultante de disfunções estruturais e democratização limitada.

Pontuando em torno de sua proposta textual (o fim da Nova República) o autor diz que toda aquela pactuação “é coisa do passado”. E acresce:

O primeiro sintoma do fim da Nova República é a pura e simples gangsterização da política e a brutalização das relações sociais. Não há mais 'linha de tolerância' a respeitar, pois não é mais necessário um 'pacto pelo imobilismo'.

Pacto pressupõe negociação entre atores que têm força e querem coisas distintas. Mas todos os principais atores políticos da Nova República já estão neutralizados em seu risco de mudança. Os que não querem a mesma coisa não têm mais como transformar seu desejo em ação.

Assim, como não há mais linha de tolerância a respeitar, o outrora impensável pode ser mostrado, desde que sirva para desestabilizar o governo de plantão.

Por exemplo, foi como um sindicato de gângsteres que o Congresso Nacional e seu presidente agiram na semana passada ao convocar, para uma CPI de fantasia, a advogada de defesa de denunciantes da Operação Lava Jato, a fim de intimidá-la.

De toda forma, só uma política gangsterizada pode aceitar que o presidente da Câmara seja um indiciado a usar seu cargo para, pura e simplesmente, intimidar a Justiça, como se estivesse na Chicago dos anos 1930."

Defendendo a ”radicalização da democracia” – que implicaria na refundação institucional que inclua um novo Poder Constituinte onde participe o cidadão não vinculado ao sistema eleitoral vigente – Safatle – dizemos nós – trilha por utopia.

Justamente porque tudo o que está sendo feito o é para manter o processo oligárquico vigente há cinco séculos. E com tal, a luta de classes que norteia esta terra de São Saruê.

Contrariando Vladimir Safatle em sua conclusão de que deixemos “os mortos enterrarem seus mortos” vemos caminhos postos para o ressussitamento de ‘mortos’ no que ora ocorre.

Porque as lições não foram lidas. Muito menos aprendidas.

A pauta
Em tempos de Eduardo Cunha, de O Globo (jornal e TV) e quejandos, os Brasinhas dizem muito.



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