domingo, 5 de agosto de 2018

Destinos


Encerrando-se o período de convenções/definições partidárias voltadas para as eleições majoritárias (governador, senador e presidente da república) e proporcionais (deputados federais e estaduais) o cenário sinaliza muito mais de ‘meu pirão primeiro’ que de unidade político-ideológica em torno de projetos para a nação.

Singularidades permeiam – como nunca dantes – o que está por vir. Começando por (in)definições em torno da candidatura do PT posta: Lula preso (prisão política, para muitos, e os fatos não conseguem desmentir) faz da única definição à vista (a de que o Judiciário não permitirá que seja candidato) uma indefinição de alta indagação: quem se beneficiará dos votos que transferirá e se configura acerto em correr na raia à esquerda como único capaz de vencer a avalanche conservadora que pretende atropelar o preferido para manter projetos que em nada beneficiam o povo.

Outra singularidade: a concentração em torno do tucano Geraldo Alckmin não anda tão concentrada assim: acende uma vela para o presidenciável mas lhe negará votos em muitos Estados, porque as alianças locais fazem por prevalecer o ‘meu pirão’. Fato, por sinal, que também norteou o PT. A diferença entre eles reside na circunstância de que o praticado por Alckmin não alenta resultados positivos.

Mais outra: o último militar com participação ativa em eleição direta para presidente foi o General Henrique Teixeira Lott, em 1960. Nunca mais fora lembrado qualquer deles para o processo eleitoral  depois dos malfadados anos de dominação através de ascensão ao poder por meio do golpe de 1964. No entanto, como se os tempos estivessem mudados, desperta como partido político, representado em chapa puro sangue e – para surpresa – disputando espaço para o segundo turno.

Eleições que esperam a abertura das urnas, tão somente. 

Porque o processo eleitoral permanecerá com um só foco para as atenções:  o candidato encarcerado, que o povo insiste em eleger. 

E que tem em suas mãos o destino do país pelos próximos anos.

Confissão
Raquel Dodge confessa: Lula está punido por ter sido Presidente da República “Que demonstrou desprezo aos ideais republicanos que prometeu cumprir como chefe de Estado”, "frustrou as expectativas de milhões de brasileiros” e usou o cargo “para obter vantagem financeira”.

Não bastasse a temerária afirmação de ‘uso’ do cargo para obtenção de vantagem (o que sua turma não conseguiu demonstrar, tanto que a condenação que recai sobre o ex-presidente decorre exclusivamente de delação premiada não confirmada, a ponto de fazer surgir uma figura inédita na ciência jurídica: a da corrupção passiva de quem não exercia cargo público por “fato de ofício indeterminado”) não deixa de ser triste ver uma dignatária no ápice da carreira enveredar pelo lugar comum – que agrada a mídia da elite – dizer que um presidente reconhecido internamente pelos milhões de beneficiados por políticas públicas efetivadas em seu governo e internacionalmente por aquilo que representa na história contemporânea cometeu crime que não conseguiu provar.

Sabido e consabido – e voltamos à Procuradora-Geral da República para reafirma a sua confissão – que todo o processo e a condenação são arranjo político. Tanto que a declaração proferida em manifestação perante o Supremo Tribunal Federal (em matéria do UOL), trilhou por caminhos impróprios, amparados na opinião que domina o instante (“eu acho”) em que a augusta Procuradora cuida de reafirmar.

Afinal, os argumentos acima expressos não são jurídicos, tão só políticos.


Agosto
Agosto, mês do desgosto – diziam os mais antigos. Mês do cachorro doido – havia o lugar comum de que todo cão, em agosto, adoecia - como muitos apelidavam o cão hidrófobo, que passava por ataque maciço do populacho, a base de paus e pedras, mesmo que não estivesse doente. Bastava estar vivo e solto, rosnar diante de uma ameaça para assinar a sentença de morte.

Mês de estranhas movimentações na história da política brasileira, tendo agosto de 1954 como parâmetro maior, quando Getúlio Vargas se suicidou para não sucumbir a um golpe armado pelas elites de então (as mesmas de hoje, ora travestidas em outras roupas); ou o de Jânio Quadros, em 1961, por não ter como enfrentar as forças poderosas – como dizia.

Em agosto morreu Juscelino Kubitschek, vítima de um acidente automobilístico até hoje carente de uma análise que não a "oficial".

Não, as referências a agosto não são nada salutares.

Mas nenhuma tão trágica, como o que permeia o início do processo eleitoral neste 2018.


Quem foi Naninha!
A expressão, da tradição baiano-nordestina, diz respeito a quem foi grande e/ou alguma coisa em evidência e nada ou pouco hoje representa.

Aqui está aplicada ao carlismo.

Ninguém imaginaria um fim tão melancólico para a direita, ou o conservadorismo, na Bahia, considerando a era que ora finda. 

Comandada com mão de ferro por ACM durante décadas hoje padece de pulso e, ao que parece, nada representa eleitoralmente. 

De 1970 até meados da primeira década do século XXI foram 36 anos de domínio absoluto, apenas rompido por Waldir Pires nas eleições de 1986, no instante histórico imediato à redemocratização.

Quem pensar o contrário analise a partir do périplo do candidato do ARENA/PDS/PFL/DEM José Ronaldo a governador para encontrar um vice. 

Ninguém aceitou sê-lo em sua chapa, até que alguém se ofereceu joanadarquicamente ao sacrifício. Fadada à derrota, o que espanta a todos.

O desgaste iminente começou quando o herdeiro natural de ACM correu da raia, para evitar o que sinaliza uma derrota histórica para o velho clã.

Nos tempos do velho “Toninho Malvadeza” ninguém seria louco de recusar ser indicado. Ao contrário, todos babavam por sê-lo.

Triste destino de quem ouve hoje  e ainda por um bom tempo ouvirá  apenas ‘quem foi Naninha!’

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