domingo, 23 de junho de 2019

Ainda a "era da vergonha"



Na cronologia da história humana a periodização constitui singular capítulo a demonstrar os estágios de avanço na construção que deságua nesta contemporaneidade (Era Antiga, Era Moderna etc.). 

Alguns levaram milhares de anos, outros bem menos tempo. 

Mas, talvez, nenhuma tenha surgido tão rapidamente como a "era da vergonha", criação tupiniquim desenvolvida nesta terra brasilis em menos de uma semana. 

[...} "Com Supremo e tudo" I
Vivemos uma situação inusitada (em que pese nada mais que envolva STF e quejandos justificar tal adjetivação): possibilidade concreta de um julgamento agendado para o próximo dia 25 ser adiado ao sabor dos humores da nova presidente da Turma que julgará o habeas corpus impetrado para reconhecimento da nulidade processual por suspeição do juiz Sergio Moro.

Onde o inusitado? Todo o planeta reconhece a postura criminosa de Moro. Inclusive não poucos magistrados e procuradores brasileiros. Sem descurar de ministros. Os fatos são gritantes.

Temos dito, porque sabido e consabido, que nada teria acontecido caso o STF houvesse cumprido com seu dever de protetor da ordem jurídica.

Eis aí o busílis: no momento Moro está às traças no quesito credibilidade; caso o STF (Cármen Lúcia) adie a decisão promoverá o reconhecimento da responsabilidade de muitos de seus pares na patranha que levou Lula à condenação/prisão e à impossibilidade de candidatar-se à presidência.

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

[...} "Com Supremo e tudo" II
Afinal, em estágio de confirmação e ratificação o alinhamento do Poder Judiciário e Ministério Público (por convicção) e a classe dominante e sua representação (Congresso) com o golpe que no primeiro instante evitou Lula tornar-se ministro de Dilma, em seguida alimentou a deposição/impeachment da presidente e se consumou com a perseguição judicial ao ex-presidente como pessoa e como político.

A Procuradora-Geral da República Rachel Dodge já exibiu as unhas e dentes: opina contra a suspeição de Moro. Resta o STF confirmar. Ou tentar se redimir dentro de um quadro irremediável.

Afinal, todo o desenrolar desta ópera bufa ratifica, mais e mais, o grande acordo refletido no diálogo Sérgio Machado/Romero Jucá: “A solução é botar o Michel [...] Num grande acordo nacional, com Supremo e tudo”.

"Botar o Michel” significa ‘botar’ qualquer um, gato, rato, papagaio, periquito.

O atual inquilino do Alvorada foi apenas a solução extrema, quando não mais havia outra saída.

No fundo, uma catarse viva e permanente muito bem ilustrada por Jessé Souza em seus últimos escritos/revelações, do qual destacamos “A Elite do Atraso” e por Petra Costa, no documentário “Democracia em Vertigem” (Netflix).

Mais uma da série
O inquilino do Alvorada retirou de Ônix Lorenzoni (civil) a articulação política com o Congresso e a transferiu para o recém nomeado General Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo.

Simplesmente retirou do político de carreira o controle da articulação com os pares políticos e o entregou a um general.

Como não sabemos da experiência política de um general de caserna, a não ser sob o critério do mando e da ordem unida, muito certamente o inquilino pretende que, com um grito, o Congresso se submeta, sob o risco de baionetas embaladas convencerem os recalcitrantes.

Busca repetir o que já aconteceu com o STF: ameaça de general já funcionou. 

Contra Lula, naturalmente.

A preço de ocasião
O STF (leia-se ministro Edson Fachin) legitimou mais uma falcatrua: a venda da Transportadora Associada de Gas, subsidiária da Petrobras.

A coisa remete a um cheiro comum, como aquele negócio mal feito da indenização/aquisição da Light, pelo Governo Federal, nos anos 70 do século passado, por 390 milhões de dólares.

Para relembrar: a Light (canadense) tinha concessão governamental para fornecer energia por 100 anos e todo o material investido no período seria do próprio governo ao final do período, 1991.

Resultado: ainda que fosse receber ‘de graça’ os investimentos feitos pela Light o governo pagou, para antecipar a entrega, a bagatela acima referida. 

O negociador, eufórico, declarou a um amigo a inconfidência (entreouvida pelo Jornalista Sebastião Néry, que a publicou no Tribuna da Imprensa) que só ele receberia 39 milhões. Supimpa.

Dias atuais: nesta entrega na bacia das almas a Petrobras vende um gasoduto em valores de mercado por aquilo que ora transporta. 

Por mera coincidência, logo depois anuncia mega campo em Sergipe de petróleo e gás.

Ou seja: o valor transportado poderia ser bem maior do que aquele que justificou o atual preço.

Apoteose: caso a francesa adquirente resolva vender hoje a TAG, sem mesmo tomar posse do que comprou, ganharia bilhões de dólares.

Viva o Brasil!

E para não perder o mote: "Com Supremo e tudo".

Perfeito
Do muito pouco que assisti da midiática sessão da Comissão (o que se tornou comum, especialmente quando se pretende utilizar  no caso a própria mídia  da contextualização conveniente para atingir este ou aquele objetivo) não alcancei a expressão deste senador. 

Cansei em razão de dois instantes: um deles, a mediocridade intelectual de uma senadora do PSL, que se proclamou advogada, tentando explicar e defender o inexplicável e indefensável; outro, o de dois senadores petistas, que  mais uma vez (os petistas)  transformam em palanque uma oportunidade de deixar a singular nada 'triste figura' na rés do chão, bastando que perguntassem ao dito cujo se "verdade ou não" o que foi divulgado. 

Caso assim fizessem deixariam o "artista" na condição de: 1. ou confirmava; 2 ou negava. No primeiro caso, a confissão; no segundo, a prática de crime, a ser apurado, por mentir perante a comissão. 

Mas assim não agiram Suas Excelências. 

E mais uma vez  não conseguem fazer a leitura da realidade (de que são 'o Cão chupando manga')  e alimentam a mídia favorável a tudo que a aí está, aquela para quem tudo "é coisa do PT". 

A postura do senador capixaba foi perfeita. Lembramo-nos, respeitosamente, da então senadora Marina Silva, interrogando ACM no caso da violação do painel, quando se limitou apenas a perguntar  de forma arrasadora  dispensando o discurso. 

                  

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