domingo, 15 de novembro de 2020

Por um pouco de pólvora e os paralelos do Barão de Itararé

 

Urariano Mota, no GGN, resgatou oportuna ironia de Stanislaw Ponte Preta naquele imediato pós golpe militar. E afirmou que a “fina flor dos Ponte Preta” não se limitara a ser um gênio da crônica tupiniquim, mas um verdadeiro profeta. Ou melhor: profetizara o ridículo tornando em realidade o que fora piada. É que — no caso da crônica — ainda tínhamos pólvora de festim; no momento, a partir da informação de Urariano, nem pólvora andam comprando, porque o orçamento militar mais comprometido está gastar com inativos e pensionista (50 bilhões) e com o soldo dos militares da ativa (28,6 bilhões).

Nestes áureos e augustos tempos em que nos tornamos piada de plantão, cabe dizer que, para os rompantes do inquilino do Alvorada — sem ajuda externa, leia-se Estados Unidos dos Trump da vida — não temos armamento para enfrentar a Venezuela.

Em Ricardo III Shakespeare lança a angústia e o desespero do último da Casa Plantagenet, no fatídico da batalha por ser perdida: “— Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!” Perdeu a batalha e o poder porque não havia ali cavalo que não estivesse em fuga a portar seu cavaleiro. Faltara uma ferradura ao seu, caída em meio à batalha, posta aquela no açodado da necessidade.

Por aqui não temos como escutar “— Meu reino por um pouco de pólvora!” — por uma razão bem simples: há muito não se combate com pólvora, hodierna matéria de rojões e quejandos tais.

Ainda que algumas mentes o imaginem.

Ou fixadas estejam na China!

O irônico Apparício Torelly, o Barão de Itararé (1895-1971), influência de Stanislaw, como refere Jorge Amado em prefácio ao “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé” (Editora Record, 1985) pontua em sábias lições sobre paralelos quando posto ele a par. E Auguste Conte se viu comparado em conclusões diante da verve brasileira. Assim, para quem afirmou a verdade de que “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos” discorreu em paralelo Apparício: “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mais vivos”.

Em meio a tantas conclusões, a tantas e nefandas manifestações defendidas como expressão de um dogma de fé quando expressas pelo inquilino do Alvorada ficamos com Conte e seus “mortos” e com o Barão de Itararé e seus “mais vivos” tanto se ajustam ao indigitado que nos governa.

Ainda que não seja o caso de falta de ferraduras (como ocorreu com Ricardo III) basta saber — em meio a rastilhos da dita cuja — quem ocupa um dos paralelos.


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