Urariano Mota, no GGN, resgatou oportuna
ironia de Stanislaw Ponte Preta naquele imediato pós golpe militar. E afirmou
que a “fina flor dos Ponte Preta” não se limitara a ser um gênio da crônica
tupiniquim, mas um verdadeiro profeta. Ou melhor: profetizara o ridículo
tornando em realidade o que fora piada. É que — no caso da crônica — ainda
tínhamos pólvora de festim; no momento, a partir da informação de Urariano, nem
pólvora andam comprando, porque o orçamento militar mais comprometido está gastar
com inativos e pensionista (50 bilhões) e com o soldo dos militares da ativa
(28,6 bilhões).
Nestes áureos e augustos tempos em que nos
tornamos piada de plantão, cabe dizer que, para os rompantes do inquilino do
Alvorada — sem ajuda externa, leia-se Estados Unidos dos Trump da vida — não
temos armamento para enfrentar a Venezuela.
Em Ricardo III Shakespeare lança a angústia e
o desespero do último da Casa Plantagenet, no fatídico da batalha por ser
perdida: “— Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!” Perdeu a batalha e
o poder porque não havia ali cavalo que não estivesse em fuga a portar seu
cavaleiro. Faltara uma ferradura ao seu, caída em meio à batalha, posta aquela no
açodado da necessidade.
Por aqui não temos como escutar “— Meu reino
por um pouco de pólvora!” — por uma razão bem simples: há muito não se combate
com pólvora, hodierna matéria de rojões e quejandos tais.
Ainda que algumas mentes o imaginem.
Ou fixadas estejam na China!
O irônico Apparício Torelly, o Barão de
Itararé (1895-1971), influência de Stanislaw, como refere Jorge Amado em
prefácio ao “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé” (Editora Record, 1985)
pontua em sábias lições sobre paralelos quando posto ele a par. E Auguste Conte
se viu comparado em conclusões diante da verve brasileira. Assim, para quem
afirmou a verdade de que “Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos
mortos” discorreu em paralelo Apparício: “Os vivos são sempre e cada vez mais
governados pelos mais vivos”.
Em meio a tantas conclusões, a tantas e
nefandas manifestações defendidas como expressão de um dogma de fé quando
expressas pelo inquilino do Alvorada ficamos com Conte e seus “mortos” e com o
Barão de Itararé e seus “mais vivos” tanto se ajustam ao indigitado que nos governa.
Ainda que não seja o caso de falta de
ferraduras (como ocorreu com Ricardo III) basta saber — em meio a rastilhos da
dita cuja — quem ocupa um dos paralelos.
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