domingo, 16 de maio de 2021

De perfunctórios e de fato

 Inquirem os instantes perfunctórios (não é palavrão!) deste escriba de província, sibilando o olhar sobre colunas de ontem e de hoje, as razões por que muitos não enfrentam a persecução em torno dos reais motivos que levaram o Brasil ao atual estágio de mediocridade, subserviência e colonialidade.

Em especial depois de escancarada a porteira da desmoralização dos ‘donos’ e ‘construtores’ da verdade lavajatense, aquela que enaltece o “eu acho”, justamente porque dito ‘achar’ em muito se amparava na certeza de que sempre haveria uma fraude por trás da criminosa atuação funcional ao arrepio da lei nos casos em que o interesse político ocupava o jurídico.

Eis o que nos deixa cabreiro: parece-nos que efetivamente são perfunctórios os interesses dos que discutem a realidade desta terra brasilis a ponto de limitar-se ao imediatismo das superficialidades. E cômodo – assim nos parece – focar o fato em si em sua dimensão de irrelevância, em sua dimensão imediata, que discuti-lo.

Sob tal jaez alcançar o poder mais interessa que aprofundar razões e motivos por que tanta coisa aconteceu. Ou seja, o poder em si ainda que o “fato” esteja mais entronizado no controle do que lhe interessa.

Claro – sabe-o o caro e paciente leitor – que através da lavra deste escriba de província tem sido levantada a questão basilar de tanto acontecer sem que motivo plausível justifique tanto absurdo. E tal caminhar aponta sempre para o horizonte externo reproduzido nas telas internas como se de nossa lavra o fosse.

Até quem provoca o tema evita enfrentá-lo (aqui). Exceções há! (aqui)

Mas, sabemos e já o dissemos: o jogo é bruto. E não custa avaliar que sempre é possível algum temor guardado no fundo baú que pode ser a caixa de Pandora sobre cada um.

Sob o crivo de nossa observação o que se tornou fato: eleições. Que vai concentrando atenções, atraindo para si o olhar superficial e lançando ao largo das discussões o “fato”.

E a semana nos trouxe CPI para tornar público o que já sabemos a mancheia. E mais uma pesquisa elevando o ex-presidente Lula a estribo mais alto no palco sucessório, onde venceria com folga o inquilino do Alvorada no segundo turno e mesmo viabilizada a possibilidade de fazê-lo ainda no primeiro.

Euforia! Certezas!

Na verdade, a certeza de Lula disputar eleições faz precipitar, em nível eleitoral, os tropeços do inquilino do Alvorada, muitas vezes maiores que comer picanha de 1,8 mil reais quando o desemprego aumenta, o custo de vida mais que dobrou, a fome retorna, os pedintes voltam a ocupar as ruas e o número de mortes por Covid-19 caminha a passos não tão de cágado para ingressar nos quinhentos mil. E, como auxílio, a ameaça de Edir Macedo “quero mais” romper com o ‘mito’.

Os sinais de que pode ficar à própria sorte (com aqueles 20% a 25% que o têm como o encanto maior deste planeta) vão se solidificando. Parcela de quem o elegeu sente-se desamparada, até traída em alguns casos.

Por seu turno, a denominada direita, o âmago do conservadorismo nacional encastelado na classe dominante, às vésperas do processo eleitoral nada como “bosta n’água”, sábia expressão cabocla para dizer que a coisa não vai a lugar nenhum por vontade própria.

Para demonstrar como as coisas andam mesmo FHC(apareceu!) fala em votar em Lula como saída para enfrentamento ao inquilino.

Mas, eis, para este escriba de província, o busílis: FHC votando em Lula. Ele, pensador/servidor mor do mercado, arauto do neoliberalismo predador, custeado pela Fundação Ford desde que adjutorou aquela teoria da dependência, paternidade maior da entrega do patrimônio nacional, que não fala o que o ‘patrão’ não queira, sinalizando acompanhar petralhas e comunistas de plantão.

Isto o que muito preocupa este escriba: vencer eleição sem vitória para o povo. Naturalmente as políticas de governo petistas traduzem melhor as políticas de Estado. E não faltam a Lula capacidade e inteligência (como o fez no tempo em que governou) para entregar os dedos (agradar o mercado) para não perder os anéis (reduzir desigualdades, aplacar a fome, oferecer emprego etc.).

Mas, alguma certeza de reversão da criminosa entrega do patrimônio do povo? Particularmente não cremos que tal ocorra.

Quando FHC, oráculo do entreguismo, fala em votar em Lula alguma coisa sabe.

Concluamos explicando a quem diga que 2023 não será 2003, que a geopolítica econômica  mundial é diversa etc. etc. etc. Não trilhamos por tal raciocínio como prévia de avaliação do próximo governo.

Cremos que o próximo presidente nunca encontraria estado melhor para mostrar o que fazer, mesmo pouco. Afinal, depois da política de terra arrasada do atual inquilino do Alvorada tudo que seja pouco será de sobra.

O que deve preocupar mesmo são os perfunctórios escondendo o ‘fato’. Ainda que imprescindíveis neste instante.


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