Afastados os senões que temos levantado em
torno do que representa o atual andamento do processo eleitoral em relação ao
tanto de tragédia até agora consumada há sinais evidentes de que a debandada em
torno do inquilino do Alvorada tomou corpo de forma inexorável. Caso não
materialize suas ameaças de golpe ou alguma tragédia física ocorra em relação
ao ex-presidente Lula o instante afirma-o futuro presidente da República.
As águas turbulentas não recomendam
tranquilidade ao inquilino na travessia para a reeleição. O apoio complementar
ao seu universo ‘delirante’ (ver), mesmo que não míngue mais, não será
suficiente para barrar o avanço das forças que se unem em torno de sua naufragada.
Tomando os dados expressos através do Vox Populi (disponilizados no 247) percentual ‘espontâneo’ que vota no inquilino (19%) e aquele outro de
28% que votaria nele no segundo turno temos os limites mínimo máximo de efetivo
eleitorado que “mata e morre” por ele neste instante. No primeiro aspecto (a
pequena parcela que mata) fato concreto; no segundo (a parcela que morre) há
controvérsias.
Contra a sua pretensão de continuar à frente
de tragédias (econômica, saúde, aniquilação do patrimônio público etc.) a
presença de Lula no palco sucessório abala pilares que o sustentaram, o que
inclui até mesmo a mídia digital (“popularidade digital”), onde seus grupos
fizeram o ‘discurso’ eleitoral e permaneciam em estado de ‘louvação’ ao mito.
Por outro lado, tendem a esvaziar-se as ameaças e chantagens do inquilino pondo
à frente da tropa os militares em nível de unidade. Tal fato nunca fora demonstrado,
muito menos agora. A não ser os que formam o ‘partido da boquinha’ como a eles
se referiu Florestan Fernandes em razão da quantidade de cargos que ocupam no
Governo Federal. Por outro lado, as cúpulas devem perceber os riscos à imagem, caso se aprofunde o observado em pesquisa publicada no 247.
Os interesses em jogo — que o levaram ao Alvorada — perceberam o risco (desnecessário) em
mantê-lo. Sua utilidade se efetivou no quesito entrega do país e satisfaz o
conseguido pelo mercado até aqui. Não podem aventurar a postura belicosa do
inquilino a colocar no olho do furacão —
a
partir de uma hecatombe social —
o
que a banca conseguiu até agora.
Então a saída se impõe: vencer suas diatribes
sem pôr na berlinda os interesses obtidos. Para tanto — como sói ocorrer em tais instantes — um pacto social por via eleitoral, que
possa garantir o afastamento do inquilino sem melindrar o conquistado. Para
tanto uma ação concreta: consenso. Para quem está fora, o desejo de entrar. Mas
sob articulações que não avancem sobre os resultados alcançados.
Neste instante, grandeza e desprendimento são a tônica. Depois da tempestade em muito causada por exacerbações individualistas postas acima do interesse coletivo, ainda que não se exija de quem quer que seja renunciar às suas convicções, o encontro de FHC e Lula sinaliza uma retomada da ação política justamente por colocar na mesma mesa de conversa peças emblemáticas no que diz respeito a projetos de governo que cada um defende em relação às políticas de Estado. Demonstram, ambos — ainda que alguma carta do tucano não esteja à mostra — que não há diferenças inegociáveis, que não há divergência que não possa transitar para uma confluência programável.
De elementar —
por aquilo que significa FHC para a corrente neoliberal — um sinal evidente de
que o mercado nada tem a temer de Lula; para o centro-esquerda a nova chance de
recomeçar dentro do dar os dedos para não perder anéis.
Política debate conflito de interesses em
busca de um consenso. A ausência deste debate no campo político, das ideias em conflito
em momentos recentes — não podemos
dizer que as coisas acontecidas recentemente são fruto de atuação política — exige a renúncia de parte a parte para
construir um ponto comum, farol a demonstrar o que leva o homem civilizado à
construção do Estado que deseja. Dos últimos grandes exemplos a transição na
África do Sul com Mandela e o Pacto de Moncloa —
que
edificou a transição da ditadura franquista para a democracia, aceitando-a sob
a égide de uma monarquia constitucional onde o rei foi a solução para atender aos
adeptos de Franco, aonde o irônico é que a monarquia espanhola (então extinta) ‘ressurge’
sob o crivo de uma canetada do ditador: a ‘nomeação’ do rei por ele indicado em
1969.
Os pactos assinados em Moncloa visavam sustar
a profunda crise econômica em andamento e estabelecer um programa de ação
política e social.
Neste Brasil de hoje há sinais de que uma parcela considerável de apoiadores do inquilino chegou a uma conclusão: sua permanência será a hecatombe para todos. Neste sentido até o comando de doutrinas evangélicas “quero mais” como bênção do Altíssimo — ainda não se manifestou o pentecostalismo católico — percebem que não há milagre nem exorcismo que as alimente ($$$$) e faça-as sobreviver sem os meios de que se valem: dinheiro em poder dos fiéis.
O dízimo nos tempos áureos da distribuição de
renda, ganhos reais para o salário mínimo e o quase pleno emprego fartou-as.
Minguou com o desastre atual de uma economia que não gera nem trabalho, quanto
mais riqueza a ser distribuída.
Para este escriba de província eis o lado
oculto do pacto em andamento: interesses de igrejas (que) carecem da retomada
de ações político-sociais. Que levem mais recursos ao bolso do povo. Não
estarão na mesa de negociações diretamente, mas influenciarão, com certeza.
No mais, ficamos a matutar desta singular capacidade
de por aqui inovarmos em tudo: inclusive em pactuação política. Na Espanha
Moncloa se fez à sombra de uma monarquia extinta cujo rei foi ‘nomeado’ pelo
ditador; aqui, até com o pentecostalismo ‘quero mais’.
Nenhum comentário:
Postar um comentário