Há 200 anos este país alcançava a Independência(?) política urdida à luz dos interesses da Inglaterra a partir daquele 9 de janeiro de 1822. Não à toa, os ingleses os beneficiados por indenização do Brasil a Portugal por danos causados pela declaração de independência no 7 de setembro, em 2 milhões de libras esterlinas (Tratado de Paz e Aliança, de 25 de agosto de 1825), que cobriu a dívida portuguesa para com os bretões que financiaram sua campanha de defesa contra Napoleão e de transferência da Corte para a colônia em fins de 1807.
Sem falar na imediação obtida com a “abertura dos
portos às nações amigas” (leia-se, Inglaterra) no janeiro do ano seguinte.
No imediato do Centenário o presidente
Artur Bernardes precisou decretar estado de sítio para poder governar e
enfrentar os interesses da Inglaterra de se apropriar do Lloyd Brasileiro e do
Banco do Brasil, as joias da coroa à época.
No janeiro de 1971, vésperas do
Sesquicentenário da Independência, sucumbia nos porões da Barão de Mesquita o
ex-deputado Rubem Paiva, ouvindo – enquanto torturado – “Apesar de Você” (Chico
Buarque) e “Jesus Cristo” (Roberto Carlos) ritmadas sob choques elétricos e
cassetetes.
Três recortes da história desta terra brasilis encadeados. O mais
recente daqueles, fruto do projeto de eliminação física dos que exerciam o
direito de pensar e combatiam a ingerência do capital estrangeiro sob égide dos
Estados Unidos, que acabara de custear um golpe de estado e encastelara
militares no poder para garantia das reformas de seu interesse.
Neste ano da graça de 2022 duzentos os
anos da Independência, que nunca efetivamente desfez o colonialismo que norteia
o país desde idos de 1500 d.C. Tampouco estamos longe dos riscos de
antigamente. Mesmo ameaças de golpes.
Atentemos – para compreendermos o
instante na planilha histórica e geopolítica – para um fato a ser considerado
como relevante: quando Lula se elegeu em 2002 os Estados Unidos no âmbito geopolítico
detinha significativa hegemonia e não enfrentava o que hoje enfrenta (China e
URSS); a eleição do ‘barbudo’ incomodava, mas não impedia a manutenção das
políticas estadunidenses para o “quintal” chamado América Latina.
De lá para cá muita coisa aconteceu, e
a pior delas: a descoberta das reservas do pré-sal que não se encontram ainda
sob tutela absoluta do capital petroleiro internacional.
O desmonte do Estado brasileiro e das
estrias sociais então vigentes (relações capital-trabalho, programas sociais e de
geração de emprego e renda, acesso à saúde e à educação, seguridade social etc.),
aprofundado a partir do golpe de 2016, levou o país, em cinco anos, à degradação
de sua imagem externa e à desconfiança interna.
Lula fala(va) em ‘colocar o pobre no
orçamento’; ora substituído dito pensar por governos que visam ‘aprofundar a participação do rico
no orçamento’.
Caso vivêssemos em estágio tribal tal
aspecto seria tolerado, porque lhe é natural.
Não é o caso de um Estado nacional
politicamente organizado, com instituições definidas (ainda que algumas
controladas diretamente pela iniciativa privada, a exemplo do Banco Central e
das Agências reguladoras) e outras indiretamente (ordenamento jurídico e sua interpretação)
sob o crivo da legislação elaborada por um Congresso de maioria absoluta sob
controle da classe dominante, com representação à direita, centro e parte da
esquerda.
Estamos no estágio de realidade
nacional em que os monopólios, a especulação financeira e a acentuada
exploração do trabalho instalaram-se no comando das políticas públicas e o conforto
por eles gozado não será superado sem luta, porque para essa estirpe de chaga
estatal qualquer pretensão entendida como favorável à uma ordem social mais
justa e menos desigual lhe soa inconveniente e é alardeada como coisa de comunista,
de terrorista, de inimigo da família, da propriedade e das tradições cristãs
ocidentais.
Este 2022, ano do Bicentenário e de
eleição, repete aspectos semelhantes vividos no curso de dois séculos. Até
porque o sonho de independência, não alcançada em plenitude, soa aqui e ali ser
retomado através de projetos político-partidário-eleitorais.
Ainda que sob o pálio de alianças
conflitantes.
Mas, apesar de tudo... é o caminho que resta.
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