domingo, 23 de janeiro de 2022

“Laranja madura...”

 

Das leituras esparsas palmilhadas por este escrevedor de província três alimentam este dominical: 1. A mensagem de Ciro Gomes; 2. A entrevista de Lula a blogueiros; 3. Matéria do El Pais sinalizando a ‘revolução’ proposta em Davos por alguns bilionários do planeta.

A terceira entraria como Pilatos no Credo se não houvesse relação direta com as manifestações trazidas ao debate por Lula e Ciro. Isso porque  não será de hoje  o Estado brasileiro  entre os mais destacados no concerto internacional (o instante não apaga o que representa aos olhos do mundo) está atrelado ao que pensam os senhores que controlam o mercado, esse ‘deus’ nefasto que o tem (o Estado) tão somente para corresponder ao que àqueles interessa.

E aí a ‘revolução’ alardeada como a chegada do messias (ops!) para livrar o mundo de todos os males: ricos pedem para pagar mais impostos. Parcelas da confraria, que se intitulam ‘Milionários Humanitários’ e ‘Milionários Patriotas”, ‘pedem’ que os Estados lhes atribua mais obrigações tributárias.

Leia-se que tais existem, naturalmente em doses ingênuas/hilárias diante do que sobre elas recai.

Não falta quem veja em tamanha ‘boa vontade’ uma manifestação de adesão da classe dominante ao que a denominada esquerda defende; taxação maior para as fortunas, heranças, rendimentos do capital especulativo e quejandos outros, o que inclui  em nível de Brasil  taxação de aviões, iates, helicópteros etc.

Os ricos quererem pagar mais impostos soa bonito na fita. Mas  quando tal acontecer, se acontecer  qual o limite do “sacrifício”. Até porque  não custa lembrar  a inaudita conversão foi trabalhada sob a ótica de que foram/serão atingidos (como empresários etc.) pela ausência de consumo e a redução da produção em decorrência da pandemia etc.

Neste particular colocamos um outro ponto: não estão clamando para serem reconhecidos como cordeiros por temor que uma ‘revolta pelo desespero’ destes atinja os lobos?

Por tal soa-nos este implorar repetir o tradicional ‘dar dedos para não perder os anéis’.

Por outro lado não se pode perder o mote e deixar de improvisar no repente.

Violas afinadas, vamos lá!

Natural a compreensão dos singulares ‘pedintes’ de que somente o Estado detém o poder de orçamentar (arrecadar e gastar) para corresponder às necessidades coletivas. Mas não se referem eles aquilo que retiraram do Estado (e continuam retirando) e que poderia voltar-se para o atendimento aos cidadãos.

Basta  à guisa de exemplo  o pré-sal brasileiro (antes pertencendo ao país e a Petrobras), extraindo óleo entre 8 e 14 dólares (no máximo 30), com percentuais do resultado destinados à saúde, educação e pesquisa. Mas o pré-sal que era nosso  com reservas que podem atingir 500 trilhões de dólares (em torno de US$ 150 trilhões já admitidas)  ora se encontra em parcela significativa (antes da ‘doação’ do restante) em mãos do capital petroleiro internacional.

Na outra ponta (a da confraria) um novo bilionário (bilionário!!!!) surgiu a cada 26 horas durante a pandemia (CartaCapital). Ou seja, mesmo com a atividade econômica desacelerada a cada dia um novo se junta à confraria dos poucos.

Para ilustrar aritmeticamente, considerando as 26 horas no universo das 8.760 horas de anos não bissextos, alcançamos cerca de 337 abonados em tal degrau a cada ano, que podemos especular beirando os 700 no curso da pandemia.

Acresça-se (diz a revista) que “os 10 homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas” no período: “de US$ 700 bilhões para US$ 1,5 trilhão”.

Caro e paciente leitor, para não nos alongarmos, cada bilhãozinho destes (apenas destes novos bilionários) representa em nível de salário mínimo atual significativos 1,4 TRILHÃO de reais em números arredondados para baixo. Por cada um dos 220 milhões de brasileiros (ricos, remediados e o resto!) o equivalente a 6,4 mil reais. Apenas para abrir prosa e dimensionar o dinheiro que se concentra na mão de poucos (sem falar dos outros não tão poucos!).

Para concluir nosso pensamento: que poderia ser feito pelos desassistidos do planeta se cada um deste novos 700 bilionários destinasse 200 milhões de dólares (20%) para um fundo de apoio aos miseráveis do mundo?

Apenas dos ‘pedintes’ teríamos em torno US$ 140 bilhões ou míseros 770 bilhões de reais, ou seja, cerca de 2,566 bilhões de cestas básicas de 300 reais.

E não falemos dos bilionários de costado e cutelo! Entre os quais 10 deles “dobraram suas fortunas”.

Simplesmente  sem depender do Estado  poderiam ditos ‘pedintes’ criar condições de melhoria da vida dos explorados para garantia de sua bilionariedade: instituir os meios pelos quais fizessem trafegar o dinheiro sem o risco de desvios. Construção e manutenção de hospitais, centros de pesquisa, escolas, renda mínima etc. etc. seriam bem vindos.

Mas, buscam eles transferir para o Estado como se o controle deste não lhes pertencesse através dos governos que elegem, dos congressistas que financiam e mesmo do judiciário que lhes corresponde em nível de interpretação pretória.

Transferindo para o Estado (que lhes pertence) entendemos que estão a expressar apenas um álibi. Coisa assim, tipo ‘quem o rato a pôr o guizo no gato para anunciar a chegada do dito cujo’.

De nossa parte ficamos com a ideia de que a coisa cheira a ‘laranja madura na beira da estrada”.

Quanto ao expressado por Lula e Ciro: correspondem ao seu papel de arautos de programas político-partidário-eleitorais confluentes. Decanos (programas e porta-vozes) da social-democracia pátria, atropelada e esfacelada nestes últimos cinco anos. Capazes de fazer bem mais do que o que pedem os ‘pedintes’.

E como nenhum deles em suas falas enfrenta o ‘cavalo de Tróia’ chamado “equilíbrio fiscal” (‘dogma de fé’ do Consenso de Washington) creem piedosa e piamente que a ‘laranja madura’ na beira das estradas em que trafegam os convida para uma salutar laranjada!


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