Das leituras esparsas palmilhadas por
este escrevedor de província três alimentam este dominical: 1. A mensagem de
Ciro Gomes; 2. A entrevista de Lula a blogueiros; 3. Matéria do El Pais
sinalizando a ‘revolução’ proposta em Davos por alguns bilionários do planeta.
A terceira entraria como Pilatos no Credo se não houvesse relação direta com as manifestações trazidas ao debate por Lula e Ciro. Isso porque — não será de hoje — o Estado brasileiro — entre os mais destacados no concerto internacional (o instante não apaga o que representa aos olhos do mundo) está atrelado ao que pensam os senhores que controlam o mercado, esse ‘deus’ nefasto que o tem (o Estado) tão somente para corresponder ao que àqueles interessa.
E aí a ‘revolução’ alardeada como a
chegada do messias (ops!) para livrar o mundo de todos os males: ricos pedem
para pagar mais impostos. Parcelas da confraria, que se intitulam ‘Milionários
Humanitários’ e ‘Milionários Patriotas”, ‘pedem’ que os Estados lhes atribua
mais obrigações tributárias.
Leia-se que tais existem, naturalmente
em doses ingênuas/hilárias diante do que sobre elas recai.
Não falta quem veja em tamanha ‘boa vontade’ uma manifestação de adesão da classe dominante ao que a denominada esquerda defende; taxação maior para as fortunas, heranças, rendimentos do capital especulativo e quejandos outros, o que inclui — em nível de Brasil — taxação de aviões, iates, helicópteros etc.
Os ricos quererem pagar mais impostos soa bonito na fita. Mas — quando tal acontecer, se acontecer — qual o limite do “sacrifício”. Até porque — não custa lembrar — a inaudita conversão foi trabalhada sob a ótica de que foram/serão atingidos (como empresários etc.) pela ausência de consumo e a redução da produção em decorrência da pandemia etc.
Neste particular colocamos um outro
ponto: não estão clamando para serem reconhecidos como cordeiros por temor que
uma ‘revolta pelo desespero’ destes atinja os lobos?
Por tal soa-nos este implorar repetir o
tradicional ‘dar dedos para não perder os anéis’.
Por outro lado não se pode perder o
mote e deixar de improvisar no repente.
Violas afinadas, vamos lá!
Natural a compreensão dos singulares ‘pedintes’
de que somente o Estado detém o poder de orçamentar (arrecadar e gastar) para
corresponder às necessidades coletivas. Mas não se referem eles aquilo que
retiraram do Estado (e continuam retirando) e que poderia voltar-se para o
atendimento aos cidadãos.
Basta — à guisa de exemplo — o pré-sal brasileiro (antes pertencendo ao país e a Petrobras), extraindo óleo entre 8 e 14 dólares (no máximo 30), com percentuais do resultado destinados à saúde, educação e pesquisa. Mas o pré-sal que era nosso — com reservas que podem atingir 500 trilhões de dólares (em torno de US$ 150 trilhões já admitidas) — ora se encontra em parcela significativa (antes da ‘doação’ do restante) em mãos do capital petroleiro internacional.
Na outra ponta (a da confraria) um
novo bilionário (bilionário!!!!) surgiu a cada 26 horas durante a pandemia (CartaCapital). Ou seja, mesmo com a atividade econômica desacelerada a cada dia um
novo se junta à confraria dos poucos.
Para ilustrar aritmeticamente,
considerando as 26 horas no universo das 8.760 horas de anos não bissextos,
alcançamos cerca de 337 abonados em tal degrau a cada ano, que podemos especular
beirando os 700 no curso da pandemia.
Acresça-se (diz a revista) que “os 10
homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas” no período: “de US$ 700
bilhões para US$ 1,5 trilhão”.
Caro e paciente leitor, para não nos
alongarmos, cada bilhãozinho destes (apenas destes novos bilionários) representa
em nível de salário mínimo atual significativos 1,4 TRILHÃO de reais em números
arredondados para baixo. Por cada um dos 220 milhões de brasileiros (ricos,
remediados e o resto!) o equivalente a 6,4 mil reais. Apenas para abrir prosa e
dimensionar o dinheiro que se concentra na mão de poucos (sem falar dos outros
não tão poucos!).
Para concluir nosso pensamento: que
poderia ser feito pelos desassistidos do planeta se cada um deste novos 700
bilionários destinasse 200 milhões de dólares (20%) para um fundo de apoio aos
miseráveis do mundo?
Apenas dos ‘pedintes’ teríamos em
torno US$ 140 bilhões ou míseros 770 bilhões de reais, ou seja, cerca de 2,566
bilhões de cestas básicas de 300 reais.
E não falemos dos bilionários de
costado e cutelo! Entre os quais 10 deles “dobraram suas fortunas”.
Simplesmente — sem depender do Estado — poderiam ditos ‘pedintes’ criar condições de melhoria da vida dos explorados para garantia de sua bilionariedade: instituir os meios pelos quais fizessem trafegar o dinheiro sem o risco de desvios. Construção e manutenção de hospitais, centros de pesquisa, escolas, renda mínima etc. etc. seriam bem vindos.
Mas, buscam eles transferir para o
Estado como se o controle deste não lhes pertencesse através dos governos que
elegem, dos congressistas que financiam e mesmo do judiciário que lhes
corresponde em nível de interpretação pretória.
Transferindo para o Estado (que lhes
pertence) entendemos que estão a expressar apenas um álibi. Coisa assim, tipo ‘quem
o rato a pôr o guizo no gato para anunciar a chegada do dito cujo’.
De nossa parte ficamos com a ideia de
que a coisa cheira a ‘laranja madura na beira da estrada”.
Quanto ao expressado por Lula e Ciro:
correspondem ao seu papel de arautos de programas político-partidário-eleitorais
confluentes. Decanos (programas e porta-vozes) da social-democracia pátria, atropelada
e esfacelada nestes últimos cinco anos. Capazes de fazer bem mais do que o que
pedem os ‘pedintes’.
E como nenhum deles em suas falas enfrenta
o ‘cavalo de Tróia’ chamado “equilíbrio fiscal” (‘dogma de fé’ do Consenso de
Washington) creem piedosa e piamente que a ‘laranja madura’ na beira das
estradas em que trafegam os convida para uma salutar laranjada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário