Trazemos ao terreiro da pessoalidade
tanto do que por aí há de gente, de sonhos, de pesadelos. Quando visitamos
contemporâneos na idade percebemos que, de certa forma, há em nós uma unidade
de conclusões em torno da vida, de vocação a destinos muitos não ansiados e
impostos como missão definitiva e inexorável.
Estivemos com um destes anjos lançados à Terra, também escritor, caráter singular. Acolheu-nos com carinho e gentileza como se diante de membro da realeza britânica. E nos disse que partia para Minas, passar uns tempos. – "Minas não há mais", caríssimo – já o dizia Carlos Drummond de Andrade. Mas, pelo menos – para ele, confessou – longe estaria durante o tempo em que lá permanecer daquilo que o leva a fugar desta Bahia de todos nós.
Tergiversamos em torno de muita coisa, como aproveitando o tempo que nos restava ali ou – a bem da verdade – o que efetivamente nos reste, enquanto permitido.
Deixei-o tardezinha, com saudade de um
papo de corpo presente enquanto pelas Gerais estiver, até porque não
desenvolvemos virtudes como a telepatia ou a telecinesia para levar o prosear sob
a égide da cevada ou do malte.
Chegando em casa folheei alguns textos
de variadas obras suas buscando razões para deixar o centro de sua razão de
escrever. Nada que nos convencesse, tanto o orgulho e a vaidade registrada.
Olhando em volta deixamos de lado as
nuvens e pisando no chão rochoso da existência sentimos um vazio tipo
não-sei-de-quê a nos chamar com um psiu quase inaudível. Atendemos ao chamado,
fundamos cabeça no travesseiro e lançamos os pensares rumo ao horizonte. Em
algum lugar-nenhum nos foi mostrado um cemitério de elefantes. Contestamos o
exibido, afirmando tratar-se de mito africano, nada mais. Por lá dizem que os
elefantes quando pressentem o fim da existência se deslocam para se finarem
solitários, como a não pretender dar trabalho a quem quer que seja, como
costumamos cobrando ladainhas e quejandos naturais à espécie, como sói ocorrer
com a humana.
Sim, bem poderia ser isso! O dileto amigo muito provável que estivesse vivendo um instante de elefante em fim de vida. Mas, muito diversamente, não a buscar um cemitério alheio para nele lhe lançarem o corpo inerte, mas – invertendo a mítica – para escapar de um cemitério mais aprisionador que aquele aonde alguns palmos de fundura, largura e altura acolhe em definitivo o que aqui fomos, precedido do direito de substituir o registro de nascimento pelo de óbito.
Sim, afinal nós, sapien sapiens, certamente aprendemos com o que vemos e ouvimos,
dispondo da capacidade de refletir em torno e de reformular conceitos e fundamentos. Talvez, sem o perceber que versamos,
concluímos por ensaiar o mito dos elefantes não ao perceber a morte, mas a
ausência de sentido para continuar existindo naquele lugar do qual nunca
imaginamos um dia deixar, o que durante anos anteriores buscaríamos para viver
últimos dias, como afirmávamos em rodas e tertúlias, um tanto casimirianos sem
Abreu, mas muito de retomar folguedos e piculas da infância.
Natural, assim, que de visibilizarmos
as evidencias de um conjunto de sinais passíveis de despertar insegurança e
incerteza em relação ao imediato escapar nos soa como melhor saída.
Mas algo está a nos espantar. Muito
certamente a certeza de que não nos falta só quem nos compreenda ou nos
interprete, mas o horizonte.
Tanto que, quando vivenciando esta
síndrome de elefantes em busca do horizonte corremos para Minas, ainda que a
dos versos de Drummond.
Vou abrir com mais frequência. Muito bom.
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