Há de ser entendido como defesa da sociedade a defesa do próprio Estado Democrático de Direito. Nesse sentido assuntos há que não se esgotam, não serão esquecidos, sob pena de falência das próprias instituições que alimentam a sociedade.
Evidentemente o assunto não
morreu, como esperam os que se dão por satisfeitos com o julgamento da AP 470 e
seus desdobramentos, como pode ser visto a partir de entrevista ora
disponibilizada em vídeo, publicada no último dia 9, quando foi ao ar o
programa Contraponto de dezembro, da TVb – Televisão dos Bancários. O
Contraponto reúne blogueiros, o Centro de Estudos Barão de Itararé e o Sindicato
dos Bancários de São Paulo.
O jornalista Eduardo Guimarães entrevistou o jurista Dalmo de Abreu Dallari para o programa Contraponto, onde também intervém Paulo Moreira Leite. Nada está dito além do que se conhece expressado pelo mundo jurídico sobre o julgamento da AP 470.
Ao programa afirma o jurista Dalmo de
Abreu Dallari: “O Supremo Tribunal Federal cometeu uma inconstitucionalidade”
ao receber denúncia contra acusados que não tinham foro privilegiado – o que
fere o princípio do juiz natural. O STF “Não guardou a Constituição. Ele
agrediu a Constituição. Agiu contra a Constituição. Basta este aspecto, ao meu
ver, para que se verifique que todo o processo do mensalão está comprometido.
Não foi um processo jurídico... Foram outras as determinantes do julgamento”.
Na segunda intervenção Dalmo
Dallari analisa diretamente a postura do ministro Joaquim Barbosa:
“Os réus estavam condenados
muito antes de começar o julgamento. E isso ficou muito evidenciado –
referindo-se ao (ab)uso de teorias incompatíveis com o Estado Democrático de
Direito – em vários momentos, em várias atitudes, várias decisões e
evidentemente é preciso relembrar as atitudes absolutamente antijurídicas e
arbitrárias do ministro Joaquim Barbosa. Isso não quer dizer que ele não
conheça o Direito, não conheça Direito Constitucional, mas o fato de ele
conhecer torna mais grave a sua posição. Ele sabia que estava agindo contra a
Constituição. Mas em várias ocasiões ele tomou posições claramente arbitrárias,
posições de verdadeiro inquisidor. E houve um dado, um pormenor que eu
inclusive tive ocasião de já mencionar, em artigo e entrevista. Num determinado
momento o jornal O Estado de São Paulo noticiou que no dia seguinte o ministro
Joaquim Barbosa ia proferir um despacho sobre determinado assunto em tais e
tais termos. O jornal um dia antes já sabia palavras que o ministro ia usar”.
Mais adiante: “O processo foi
influenciado pela grande imprensa, por fatores políticos e por fatores
emocionais de Barbosa”.
Ainda que a sanha político-emotiva
de uma parcela da sociedade, ávida por sangue, amparada no sensacionalismo que
norteia o que denominam de jornalismo, os absurdos cometidos no curso da AP 470
cobram manifestações como a de Dalmo Dallari, que falam em defesa do Estado
Democrático de Direito.
É provável que a recomendação
de Dallari – o processo de escolha de ministros precisa ser revisto –
comece a soar nos tímpanos da sociedade.
Antes que seja vítima do arbítrio.
A íntegra da entrevista de
Dallari em http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Pwl4HaFJrDg
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