DE RODAPÉS E DE ACHADOS *
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Tratamento diferenciado
Gente VIP é outra coisa,
chavão dos que se faziam importantes já nos anos 50-60 do século passado,
originado da expressão em inglês Very Important Person.
Assim entenderá o povão
– dispensado de compreender os escaninhos do Poder Judiciário – ao saber que
alguns dos muitos envolvidos no escândalo do propinoduto tucano-paulista a
partir de cartel que comandou aquisições de trens e construção do metrô são
tratados no STF, onde se encontra registrado inquérito para apuração dos
desmandos.
Lá estão as iniciais. Afinal,
gente VIP não pode ser identificada em inquérito que apura a bandalheira. Ainda
que o responsável pela apuração seja o Supremo Tribunal Federal.
Métodos e princípios I
Na campanha presidencial de
1950 dizia Carlos Lacerda – expressão maior da UDN, onde se encastelava o
conservadorismo econômico e político brasileiro – que Getúlio Vargas não podia
ser candidato, se o fosse não podia ganhar, se ganhasse não podia tomar posse,
se empossado não poderia governar. O discurso embutia o que há de mais
conservador, retrógrado e reacionário, uma vez que o poder – para esse pensar –
não pode sair das mãos de quem o detenha (quando sob tutela desse mesmo
conservadorismo).
Para alcançar os objetivos estabelecidos
nos princípios norteadores qualquer método servia: da campanha difamatória ao
extremismo do golpe contra as instituições. Getúlio governou sob permanente
crise política e não sucumbiu ao processo golpista em andamento porque optou,
entre a vida natural e a política, por perder a primeira, sacrificando-a com um
tiro no peito.
Sucederam-se outras tentativas
de golpe, desde negar posse a Juscelino, duas rebeliões (Aragarças e Jacareacanga),
açodada implantação do parlamentarismo em 1961 até a consumação do sonho em
1964.
Métodos
e princípios II
O biombo onde tal postura gerada
amparado estava na histórica presença das elites dominantes que nunca
permitiram ao país alcançar a mínima participação de outros estamentos da
sociedade em seu projeto político.
Vícios que remontavam à formação da
sociedade brasileira, desde os primórdios da Colônia. Do controle de vastidões
territoriais sob o comando de armas e chicote ao domínio pleno do poder político
sustentado em duas dimensões (únicas) de poder econômico: agricultura e
pecuária.
Décadas ultrapassadas e
nenhuma das alianças para enfrentar essa dimensão conservadora ainda conseguiu
ultrapassar o conflito original, tampouco enfrentar os seus fundamentos. O
discurso moralista ainda permeará a campanha presidencial sessenta e quatro
anos depois.
As lições e os custos passam
ao largo da lembrança conveniente.
Métodos e princípios III
Não nos cabe nesse instante
aprofundar expectativas diante do processo de evolução por que estejamos
passando. Mas verificar que as eleições de 2014 caminham para o óbvio – “ululante”,
como o adjetivou Nelson Rodrigues. A polarização político-partidária liderada
por PSDB e PT, iniciada pelo primeiro nos anos 90, sucedida pelo segundo no
início deste século – ambos tendo o PMDB como principal coadjuvante – tende a
manter-se.
Como mantida será a mesma
agenda – em muito desenvolvida nas eleições de 2010 – escancarando a fuga do
debate em torno de idéias para consolidação de acusações mútuas envolvendo o
mesmo tema: corrupção.
Cada um com sua bandeira e o
rótulo alheio como mensagem: contra o PT o moralismo tucano terá o denominado
mensalão; contra o PSDB, o moralismo petista terá o escândalo de trens e metrô em
São Paulo. Far-se-ão diferentes – já que o objeto de crítica é o mesmo – nos valores
envolvidos: pelo menos 500 milhões no governo paulista (envolvendo toda a
linhagem governante, de Covas a Alckmin) contra os 70 petistas. (Aqui não nos
debruçamos sobre provas ou não da existência de cada, mas tão somente do mote ensaiado
para o ano vindouro).
E, ao que parece, a História
se repetindo como farsa – como o disse Karl Marx no 18 Brumário.
Métodos e princípios IV
Como o demonstram as pesquisas
o discurso moralista não parece disposto a render votos. Nem para um, tampouco
para o outro. Em 2010 já o comprovara.
Por que então a insistência?
Justamente porque no curso de tantos anos de alegada democracia não conseguimos
formar um juízo de valor em torno de ações políticas concretas para o Brasil (e
o dizemos em nível de ‘políticas de Estado’), onde a sociedade tenha tido participação
efetiva. Limitadas estão para o depois, quando postas em prática pelo
governante eleito.
Neste particular a indiferença
ao discurso moralista prejudica a oposição. Quando o observador natural, o povo
– destinatário do discurso – entende a verdadeira mensagem, compara um e outro
período sob uma ótica individualista, como lhes ensinam os discursadores, e
conclui respondendo à indagação: o que está melhor para mim?
E assim, relembrando Marx na
citação acima, o vazio do debate – destoado de idéias – faz repetir o discurso
moralista oco e chocho, ocupando a agenda atual como ocorrido nos idos de seis
décadas passadas.
Sonegômetro
O Simprofaz – Sindicato Nacional
dos Procuradores da Fazenda Nacional – dispõe, em Brasília, de um sistema de
informação, em tempo real, sobre o volume financeiro da sonegação no Brasil.
No
último dia 11 o valor já beirava 400 bilhões (BILHÕES!) de reais, o que
equivale à multiplicação por vinte dos gastos com o Bolsa Família ou o
equivalente a 10% do PIB brasileiro. Ou seja, para atender a mais de 13 milhões
de famílias gasta o Governo em torno de 20 milhões de reais. Vinte vezes isso
paga o país por conta da sonegação.
Outra denúncia do Sinprofaz:
aguardam cobrança e execução outros 2 trilhões (TRILHÕES!) de reais de
sonegações passadas, ainda não alcançadas pela prescrição.
Maratona iniciada
Há pessoas e entidades que não
deixam a Globo sossegada. Tanto insistiram que a platinada pode ver iniciado
contra si a apuração envolvendo a sonegação milionária que tende a gerar
denúncia por crimes contra a ordem tributária e de lavagem e ocultação de bens,
direitos e valores.
Está em poder do Ministério
Público Federal do Rio de Janeiro a provocação cidadã, que já a encaminhou a
Polícia Federal para a devida apuração.
Considerando tratar-se da Globo temos que compreender que não acompanharemos uma corrida de 100 metros livres e sim uma típica maratona.
Caso não seja cancelada antes do término. Afinal,
até mesmo o processo fiscal desaparecera misteriosamente.
Em teste
A criticada forma desenvolvida
pelo Governo Federal para as concessões na área de energia, posta em prática
com a Medida Provisória 579, de 2012 – que recebeu enfrentamentos vários – está
demonstrando acerto em seu principal propósito: redução do preço da tarifa.
É o
que afirma a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica –
ABRADEE, comparando a redução média de 20% nos encargos setoriais da tarifa de
energia elétrica dentro da nova política de prorrogação de concessões de
geração e transmissão.
Hoje – segundo a ABRADEE – o
Brasil tem a quarta menor tarifa de luz residencial entre os países
pesquisados, tomados como base a partir dos valores disponibilizados pela
Agência Internacional de Energia, pelo EuroSat – provedor de informações estatísticas da
Comunidade Europeia – e pela Aneel, tendo por base o ano de 2012. O país fica
atrás apenas dos Estados Unidos, da França e da Finlândia.
A indústria passou a ser a
oitava. Antes era a 14ª. Enquanto a residencial era a 12ª.
De destacar o fato de o
parâmetro em dólar, de 2012, considerou a moeda americana no câmbio de 1,955
reais.
Em queda
Ainda que o TSE tenha
reconduzido a governadora Rosalba Ciarlini ao poder no Rio Grande Norte
(nenhuma informação se a prefeita de Mossoró o conseguirá) a situação do DEM não
alimenta expectativa nem de manter as atuais conquistas eleitorais.
A queda é vertiginosa em
número de prefeituras, governos e parlamentares.
Todos têm razão
“’Não se pode
confundir o advogado com o réu’, afirma presidente da OAB
Brasília -
O presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho,
manifestou contrariedade com as recentes declarações do chefe da
Corregedoria-Geral da União, Jorge Hage, que afirmou durante evento público que
“bons advogados” são pagos “muitas vezes com dinheiro obtido da corrupção”.
Ainda que sinalizada alguma
razão para a defesa – poder-dever de seu representante – não falta razão ao
Corregedor-Geral da União. Afinal, imaginar-se que não exista dinheiro de
corrupção em Carlinhos Cachoeira etc. é imaginar sexo dos anjos em pleno Natal.
Como na sabedoria popular: em
casa sem pirão todos reclamam com razão.
Jacques Wagner
A pesquisa CNI/Ibope publicada
na sexta 13 aponta para um quadro singular, no que pertine à avaliação de
governos estaduais e respectivos governadores. Dentre os governadores, o da Bahia,
detém 50% de avaliação para aprovação pessoal e 26% de positivo para o governo.
Os quatro melhor avaliados são
Omar Aziz (PSD-AM), Eduardo Campos (PSB-PE), Tião Viana (PT-AC) e André
Pccinelli (PMDB-MS).
O governo Wagner fica no 19º
posto dentre os 27 avaliados, ganhando apenas da rabeira – pela ordem – de
Siqueira Campos (PSD-TO), Teotônio Vilela (PSDB-AL), Silval Barbosa (PMDB-MT),
Simão Jatene (PSDB-PA), Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Camilo Capiberibe (PSB-AP),
Agnelo Queiroz (PT-DF) e Rosalba Ciarlini (DEM-RN).
Vê mas não enxerga
Um deputado doa ambulância
para uma instituição itabunense. Até aí tudo bem. Louvável, inclusive. No
entanto, fixa seu nome no veículo, que por onde roda leva a propaganda de Sua
Excelência.
Permanente publicidade com
dinheiro público. Afinal, o dinheiro da ambulância não saiu do bolso do
deputado e sim do Estado.
O Ministério Público não percebe.
Ou não quer enxergar. A não ser que não haja lei para coibir o procedimento
parlamentar.
Ilha em formação
No Cachoeira, com o quase
desaparecimento da famosa “ilha do jegue”, está em formação um novo acidente
geográfica de igual dimensão.
Desta fez uma ilha se forma
junto aos pilares da ponte do Marabá.
Lamentar, o que resta!
A atriz Eva Lima flagrou mais
uma cena para alimento da tristeza itabunense. O velho Cine Itabuna, palco de
arte, que se fizera templo, tornar-se-á simplesmente comércio. Suas paredes
estão no chão.
No final do ano passado
anunciou-se, pela FICC, a iniciativa de tombamento do cinema, último bastião
das casas exibidoras que povoaram esta cidade.
Para surpresa suas paredes estão indo abaixo.
Com autorização da Prefeitura,
visto que qualquer obra em qualquer espaço físico do município precisa de
licença do município.
Salva-se o espaço apenas de
tornar-se mais uma área destinada a estacionamento.
Leitura tropicalista
A gravação de “Procissão”
levada a termo em 1968 (no LP Gilberto Gil) parece destoar do proposto na original, de 1965 (em compacto simples).
A mais
recente se veste de arranjos de guitarra, transita pelo rock, dispensa as
razões postas na proposta poética.
A primeira exprime, de imediato, o protesto,
alimentado de canto carpideiro como introdução, trazendo à tona o sebastianismo
nordestino em conflito com o discurso contido nos versos da canção.
Não sabemos – somente Gil para
explicar – se o momento político contribuiu ou se foi experimentalismo
tropicalista.
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* Coluna publicada aos domingos em www.otrombone.com.br
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