domingo, 1 de dezembro de 2013

Alguns destaques

DE RODAPÉS E DE ACHADOS *

______


Imagem ruim
Não é de agora que o brasileiro alimenta uma imagem moralmente distorcida. Há um atávico comportamento de levar vantagem em tudo. A vantagem pela vantagem, a esperteza como prêmio. Mário de Andrade expôs em Macunaíma um caráter mesclado em etnias várias pautadas num indianismo diverso do romântico. Criou o herói sem caráter.

Cultivamos o hábito de imitar. Mas nem sempre imitamos a realidade, e preferimos fazê-la distorcida. Basta-nos utilizar o objeto da imitação para o fim a que pretendemos.

As liquidações sempre existiram. Com vícios e distorções pautados nesse (não)caráter de levar vantagem em tudo. Para tanto ‘não custa’ aumentar o preço para depois reduzi-lo e fazê-lo parecer menor quando não o é.

Nessa esteira melhor ainda se importamos expressões como “Black Friday” – a liquidação lá de fora. Parece que os “de fora” não gostaram da imitação tupiniquim, pelos vícios que contém.

Para a Forbes o que nos Estados Unidos é conhecido como ‘dia dos descontos’ no Brasil o será como “o dia da fraude”.

Confirma-o o Procon de São Paulo, que listou apenas 325 lojas na rede a serem evitadas. Na rede... na rede!

Pesquisas preocupantes
Mais uma pesquisa – ainda que a menos de um ano das eleições – confirmando a possibilidade de reeleição da presidente Dilma. Que pode ocorrer no primeiro turno.

Ultrapassado o estardalhaço do lançamento de candidaturas em nível de oposição nenhuma delas assegura viabilidade. E pelo andar da carruagem nem com uma crise fabricada pelo sistema.

Somente restará um “salvador da Pátria”. Aí entra Joaquim Barbosa. Que depende da saúde de Genoíno.

Barbosa e o laudo I
O ministro Joaquim Barbosa busca cercar-se de “coadjuvantes” para não assumir sozinho a responsabilidade pelo que venha a ocorrer com José Genoíno.

Ao que parece escolheu a dedo os médicos que comporiam a sua Junta. Num aspecto todos se assemelham: são contra o PT e o Mais Médicos. O chefe da junta, Dr. Luís Fernando Junqueira Júnior, integra uma página na rede que acusa médicos cubanos, escancara ódio contra o PT e festeja a prisão dos “mensaleiros”

O conteúdo do laudo é contraditório: não só ignora o histórico do paciente, desconhece as crises por que passou Genoíno recentemente, como desfaz de laudos oriundos do mais importante centro médico brasileiro, o Hospital Sírio Libanês.

Basta, para perceber as contradições, a informação contida, de que, ainda que o deputado esteja sob medicação hipertensiva de forma regular, acompanhamento ambulatorial periódico, dieta, tratamento medicamentoso somado a dieta hipossódica, restrição de influência de fatores psicológicos estressantes”, razão por que entendem que não é “imprescindível, para tanto, a permanência domiciliar fixa do paciente, salvaguardadas a oferta e administração de medicação” (deduzem que tal atendimento seja satisfeito no ambiente de um presídio), para finalizar com a brilhante conclusão de que "o conceito de doença cardiovascular grave não se aplica ao presente caso em seu contexto clínico-cirúrgico de momento atual, que se apresenta sob impressão de expectativa favorável”.

Definitivamente partem da premissa de que estando Genoíno bem no momento (depois de medicado e acompanhado, tendo alimentação específica, saído do regime estressante etc.) estará bem para sempre (“expectativa favorável”), tanto que ficamos com ligeiro raciocínio de que o presídio da Papuda se assemelha a uma colônia de férias para doentes como Genoíno.

Para os ilustres pares encomendados por Joaquim Barbosa o deputado José Genoíno é único paciente do planeta com dissecação da aorta que não precisa de cuidados. 

Ou que pode encontrá-los no “hospital” da Papuda.

Barbosa e o laudo II
Ao que nos parece – e caminhamos para a certeza – é que o ministro Joaquim Barbosa, caso venha a se basear no laudo encomendado, realmente não passa de um psicótico. Confirmará a suspeita se fizer Genoíno retornar à Papuda.

Registre-se que o comportamento de Joaquim Barbosa para com outro “paciente” também condenado – o ex-deputado Roberto Jefferson – é inteiramente diverso. Jefferson nem mesmo teve contra ele expedida ordem de prisão.

Mantendo vantagem
Nunca se soube que banco perdesse dinheiro. O terrorismo que busca influenciar a decisão do STF sobre a correção da poupança surrupiada em diferentes planos econômicos não se sustenta nem na Aritmética.

São mais de 20 anos de prejuízos para os poupadores, enquanto os bancos permaneciam faturando com o dinheiro que deixaram de pagar a eles. Dos alegados 150 bilhões que o terrorismo insinua (incluindo atores vários, do governo, dos bancos e mesmo ex-ministros da Fazenda) não devolverão mais que 15 bi, apesar de haverem faturado mais de 400 com a mutreta.

Mas terrorismo é terrorismo. O STF adiou para 2014 a retomada da apreciação.

Entre conceder e vender
O que poucos dizem: o atual programa de concessões encontra apoio em Lei Federal datada de 1996 – era FHC, que dela pouco se utilizou.

O que muitos dizem: concessão é privatização.

Diferença básica: concessão é uma forma permissionária que assegura o retorno do bem público ao concedente, no caso a União; privatização é a transferência por negócio de compra e venda, definitiva, sem retorno do bem para o poder público concedente. Quem adquiriu em concessão tem que devolver ao final do prazo; em privatização quem adquiriu o foi para sempre.

O que não se discute: o que mais beneficia o país.

Tratamento diferenciado
Não tenhamos dúvida de que a forma como a grande imprensa trata a apreensão de 450 quilos de cocaína pura em helicóptero de um deputado, deslocado para uma fazenda de um senador, está muito longe da apuração jornalística que o fato está a exigir.

Por outro lado, as relações da família dos políticos com o senador Aécio Neves é fato público e notório. Mesmo que ninguém tenha a veleidade de relacionar o senador com o fato. Mas, é bem provável que respingue nele a amizade com turma de tal estirpe.

É isso que a imprensa está a proteger.

Certamente o senador Aécio Neves não fará discurso em defesa da turma como o fez em relação ao então senador Demóstenes Torres quando este se explicava perante os pares em decorrências das denúncias que levaram à sua cassação. 

Mas não custa lembrar: 1. Que o senador Aécio não foi o único a louvar o colega. Inúmeros outros o fizeram; 2. E para não esquecer do que disse Aécio trazemos o vídeo veiculado na rede, quando só faltou canonizar Demóstenes.

A lição de Canotilho I
Deuses se tornaram muitos membros do STF no curso da AP 470, julgada por nove membros, onde cinco eram flagrantemente tendenciados a um julgamento político.

Quando os chamamos de deuses não queremos, nem de longe, mexer ou comparar os bagos de Zeus com os da Corte brasileira. Mas o poder contido na instituição causa espécie, mormente depois de explicitado como em decisões e atitudes recentes.

Não custa trazer à baila a lição de José Joaquim Gomes Canotilho, respeitado constitucionalista português, para quem “o Supremo do Brasil é o mais poderoso do mundo”.

A lição de Canotilho II
Em entrevista concedida ao Valor o renomado jurista português respondeu a indagações em torno dos fatos recentes centrados no STF, de onde extraímos o citado acima. Mas, perceba o leitor o que foi dito e em que contexto:

Valor: O senhor acha que deve ser função de uma Suprema Corte decidir se um preso deve cumprir pena em casa, num hospital ou num presídio, como está acontecendo com o deputado José Genoino (PT-SP) no mensalão?

Canotilho: Isso depende de como estão conformadas as questões na Constituição do Brasil. Em Portugal, o órgão responsável por essas questões é o Supremo Tribunal de Justiça, e não o Supremo Tribunal Constitucional. Mas, o Supremo do Brasil é o mais poderoso do mundo.

Valor: Por quê?

Canotilho: O problema é que o STF não é só a Corte constitucional do Brasil. Ele funciona também como um Supremo Tribunal de Justiça. Em termos dogmáticos ou jurídicos pode haver um problema de ver que quem investiga é o mesmo tribunal que julga. O que eu tenho defendido em meu país é que quem investiga não acusa e quem acusa não julga.

Lutando
Como quer o tucanato fazer esquecer o escândalo denunciado pela Siemens certamente o conseguirá. É a luta pelo esquecimento.

Afinal, muitos mesmo já esqueceram daquele escândalo de ambulâncias superfaturadas no tempo em que José Serra era Ministro da Saúde. Que, até agora, não deu em nada.

A impugnada eleição do PT
Não sabemos em torno da definição, uma vez que os desdobramentos da decisão da Estadual obviamente chegarão a Brasília.

No entanto, fica escancarada – até prova em contrário – a alegada manipulação/pressão do deputado Geraldo Simões sobre companheiros e a forma como conduziu a campanha no dia do pleito em Itabuna.

O PT de Itabuna não passa... do PTdoG de Itabuna. Ainda que GS detenha tão somente 35% dos votos.

Encontros

Esta composição de Milton Nascimento e Chico Buarque já encontrou interpretações várias, à altura do que configura a sua arquitetura. No entanto, a leitura de “Cio da Terra” sob Milton Nascimento e Pena Branca e Xavantinho é para nós a mais perfeita das interpretações. Justamente por traduzir o melhor encontro dentre excelentes intérpretes, que une raízes urbano-campesinas para um hino reverencia o cio de mãe que gera alimento para o homem. http://www.youtube.com/watch?v=LzK78ktvb9k

_______

* Coluna prublicada aos domingos em www.otrombone.com.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário