DE RODAPÉS E DE ACHADOS *
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Imagem ruim
Não é de agora que o
brasileiro alimenta uma imagem moralmente distorcida. Há um atávico comportamento
de levar vantagem em tudo. A vantagem pela vantagem, a esperteza como prêmio.
Mário de Andrade expôs em Macunaíma um caráter mesclado em etnias várias
pautadas num indianismo diverso do romântico. Criou o herói sem caráter.
Cultivamos o hábito de imitar.
Mas nem sempre imitamos a realidade, e preferimos fazê-la distorcida. Basta-nos
utilizar o objeto da imitação para o fim a que pretendemos.
As liquidações sempre
existiram. Com vícios e distorções pautados nesse (não)caráter de levar
vantagem em tudo. Para tanto ‘não custa’ aumentar o preço para depois reduzi-lo
e fazê-lo parecer menor quando não o é.
Nessa esteira melhor ainda se
importamos expressões como “Black Friday” – a liquidação lá de fora. Parece que
os “de fora” não gostaram da imitação tupiniquim, pelos vícios que contém.
Para a Forbes o que nos Estados
Unidos é conhecido como ‘dia dos descontos’ no Brasil o será como “o dia da
fraude”.
Confirma-o o Procon de São Paulo,
que listou apenas 325 lojas na rede a serem evitadas. Na rede... na rede!
Pesquisas preocupantes
Mais uma pesquisa – ainda que
a menos de um ano das eleições – confirmando a possibilidade de reeleição da
presidente Dilma. Que pode ocorrer no primeiro turno.
Ultrapassado o estardalhaço do
lançamento de candidaturas em nível de oposição nenhuma delas assegura
viabilidade. E pelo andar da carruagem nem com uma crise fabricada pelo
sistema.
Somente restará um “salvador
da Pátria”. Aí entra Joaquim Barbosa. Que depende da saúde de Genoíno.
Barbosa e o laudo I
O ministro Joaquim Barbosa
busca cercar-se de “coadjuvantes” para não assumir sozinho a responsabilidade
pelo que venha a ocorrer com José Genoíno.
Ao que parece escolheu a dedo
os médicos que comporiam a sua Junta. Num aspecto todos se assemelham: são
contra o PT e o Mais Médicos. O chefe da junta, Dr. Luís Fernando Junqueira
Júnior, integra uma página na rede que acusa médicos cubanos, escancara ódio
contra o PT e festeja a prisão dos “mensaleiros”
O conteúdo do laudo é contraditório: não só ignora o
histórico do paciente, desconhece as crises por que passou Genoíno recentemente,
como desfaz de laudos oriundos do mais importante centro médico brasileiro, o
Hospital Sírio Libanês.
Basta, para perceber as contradições, a informação
contida, de que, ainda que o deputado esteja sob “medicação
hipertensiva de forma regular, acompanhamento ambulatorial periódico, dieta,
tratamento medicamentoso somado a dieta hipossódica, restrição de influência de
fatores psicológicos estressantes”, razão por que entendem que não é
“imprescindível, para tanto, a permanência domiciliar fixa do paciente,
salvaguardadas a oferta e administração de medicação” (deduzem que tal
atendimento seja satisfeito no ambiente de um presídio), para finalizar com a
brilhante conclusão de que "o conceito de doença cardiovascular grave não se aplica ao presente
caso em seu contexto clínico-cirúrgico de momento atual, que se apresenta sob
impressão de expectativa favorável”.
Definitivamente partem da
premissa de que estando Genoíno bem no momento (depois de medicado e
acompanhado, tendo alimentação específica, saído do regime estressante etc.)
estará bem para sempre (“expectativa favorável”), tanto que ficamos com ligeiro
raciocínio de que o presídio da Papuda se assemelha a uma colônia de férias
para doentes como Genoíno.
Para os ilustres pares
encomendados por Joaquim Barbosa o deputado José Genoíno é único paciente do
planeta com dissecação da aorta que não precisa de cuidados.
Ou que pode encontrá-los no “hospital” da Papuda.
Ou que pode encontrá-los no “hospital” da Papuda.
Barbosa e o laudo II
Ao que nos parece – e
caminhamos para a certeza – é que o ministro Joaquim Barbosa, caso venha a se
basear no laudo encomendado, realmente não passa de um psicótico. Confirmará a
suspeita se fizer Genoíno retornar à Papuda.
Registre-se que o
comportamento de Joaquim Barbosa para com outro “paciente” também condenado – o
ex-deputado Roberto Jefferson – é inteiramente diverso. Jefferson nem mesmo teve
contra ele expedida ordem de prisão.
Mantendo vantagem
Nunca se soube que banco
perdesse dinheiro. O terrorismo que busca influenciar a decisão do STF sobre a
correção da poupança surrupiada em diferentes planos econômicos não se sustenta
nem na Aritmética.
São mais de 20 anos de
prejuízos para os poupadores, enquanto os bancos permaneciam faturando com o
dinheiro que deixaram de pagar a eles. Dos alegados 150 bilhões que o terrorismo
insinua (incluindo atores vários, do governo, dos bancos e mesmo ex-ministros
da Fazenda) não devolverão mais que 15 bi, apesar de haverem faturado mais de
400 com a mutreta.
Mas terrorismo é terrorismo. O
STF adiou para 2014 a retomada da apreciação.
Entre conceder e vender
O que poucos dizem: o atual
programa de concessões encontra apoio em Lei Federal datada de 1996 – era FHC,
que dela pouco se utilizou.
O que muitos dizem: concessão
é privatização.
Diferença básica: concessão é
uma forma permissionária que assegura o retorno do bem público ao concedente,
no caso a União; privatização é a transferência por negócio de compra e venda,
definitiva, sem retorno do bem para o poder público concedente. Quem adquiriu
em concessão tem que devolver ao final do prazo; em privatização quem adquiriu
o foi para sempre.
O que não se discute: o que
mais beneficia o país.
Tratamento diferenciado
Não tenhamos dúvida de que a
forma como a grande imprensa trata a apreensão de 450 quilos de cocaína pura em
helicóptero de um deputado, deslocado para uma fazenda de um senador, está muito
longe da apuração jornalística que o fato está a exigir.
Por outro lado, as relações da
família dos políticos com o senador Aécio Neves é fato público e notório. Mesmo
que ninguém tenha a veleidade de relacionar o senador com o fato. Mas, é bem
provável que respingue nele a amizade com turma de tal estirpe.
É isso que a imprensa está a
proteger.
Certamente o senador Aécio
Neves não fará discurso em defesa da turma como o fez em relação ao então
senador Demóstenes Torres quando este se explicava perante os pares em decorrências
das denúncias que levaram à sua cassação.
Mas não custa lembrar: 1. Que o
senador Aécio não foi o único a louvar o colega. Inúmeros outros o fizeram; 2. E
para não esquecer do que disse Aécio trazemos o vídeo veiculado na rede, quando
só faltou canonizar Demóstenes.
A lição de Canotilho I
Deuses se tornaram muitos
membros do STF no curso da AP 470, julgada por nove membros, onde cinco eram
flagrantemente tendenciados a um julgamento político.
Quando os chamamos de deuses
não queremos, nem de longe, mexer ou comparar os bagos de Zeus com os da Corte
brasileira. Mas o poder contido na instituição causa espécie, mormente depois
de explicitado como em decisões e atitudes recentes.
Não custa trazer à baila a
lição de José Joaquim Gomes Canotilho, respeitado constitucionalista português,
para quem “o Supremo do Brasil é o mais poderoso do mundo”.
A lição de Canotilho II
Em entrevista concedida ao Valor
o renomado jurista português respondeu a indagações em torno dos fatos recentes
centrados no STF, de onde extraímos o citado acima. Mas, perceba o leitor o que
foi dito e em que contexto:
Valor: O
senhor acha que deve ser função de uma Suprema Corte decidir se um preso deve
cumprir pena em casa, num hospital ou num presídio, como está acontecendo com o
deputado José Genoino (PT-SP) no mensalão?
Canotilho: Isso depende
de como estão conformadas as questões na Constituição do Brasil. Em Portugal, o
órgão responsável por essas questões é o Supremo Tribunal de Justiça, e não o
Supremo Tribunal Constitucional. Mas, o Supremo do Brasil é o mais poderoso do
mundo.
Valor: Por quê?
Canotilho: O problema é
que o STF não é só a Corte constitucional do Brasil. Ele funciona também como
um Supremo Tribunal de Justiça. Em termos dogmáticos ou jurídicos pode haver um
problema de ver que quem investiga é o mesmo tribunal que julga. O que eu tenho
defendido em meu país é que quem investiga não acusa e quem acusa não julga.
Lutando
Como quer o tucanato fazer
esquecer o escândalo denunciado pela Siemens certamente o conseguirá. É a luta
pelo esquecimento.
Afinal, muitos mesmo já esqueceram
daquele escândalo de ambulâncias superfaturadas no tempo em que José Serra era
Ministro da Saúde. Que, até agora, não deu em nada.
A impugnada eleição do PT
Não sabemos em torno da
definição, uma vez que os desdobramentos da decisão da Estadual obviamente
chegarão a Brasília.
No entanto, fica escancarada –
até prova em contrário – a alegada manipulação/pressão do deputado Geraldo
Simões sobre companheiros e a forma como conduziu a campanha no dia do pleito
em Itabuna.
O PT de Itabuna não passa...
do PTdoG de Itabuna. Ainda que GS detenha tão somente 35% dos votos.
Encontros
Esta composição de Milton Nascimento
e Chico Buarque já encontrou interpretações várias, à altura do que configura a
sua arquitetura. No entanto, a leitura de “Cio da Terra” sob Milton Nascimento
e Pena Branca e Xavantinho é para nós a mais perfeita das interpretações.
Justamente por traduzir o melhor encontro dentre excelentes intérpretes, que
une raízes urbano-campesinas para um hino reverencia o cio de mãe que gera alimento
para o homem. http://www.youtube.com/watch?v=LzK78ktvb9k
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* Coluna prublicada aos domingos em www.otrombone.com.br
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