segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Às baratas, tudo!

 

Afirmam que restarão a qualquer hecatombe nuclear somente as baratas. Sabendo-se quão grave a realidade e de que o homem como espécie não anda lá muito bem das pernas só uma retomada de experiências tipo o suicídio coletivo em Jonestown, de Jim Jones, há 43 anos, para explicar a ameaça estadunidense à Rússia de impor o ingresso da Ucrânia a OTAN-Organização do Tratado do Atlântico Norte (aliança entre Estados Unidos e Europa Ocidental) caminho para instalação de bases militares em território ucraniano, no costado da Rússia.

O inverso do ambicionado levou a uma crise nos anos 60 quando a URSS começou a instalar bases de mísseis em Cuba. Naquele instante os Estados Unidos alegaram (com razão) ameaça à sua soberania. Hoje, pretendê-lo em relação a Ucrânia não o é.

No âmbito do princípio da autodeterminação dos povos cabe respeitar o que internamente este ou aquele decidiu ou vive: democracia, absolutismo, ditadura, autocracia religiosa etc. Ou seja, não cabe intervenção que atinja aspectos estritamente locais. Ou seja, não havendo iniciativa deste ou daquele país que materialize ameaça ao concerto das nações é inconcebível qualquer intervenção.

Mas afastada a fonte da informação que recebemos, ou seja, a versão trazida aos fatos conforme os interesses particulares deste ou daquele país  intervenções têm ocorrido à sorrelfa neste planeta de todos nós!

Não mais os mesmos  talvez por força do ditado de que ‘o hábito do cachimbo põe a boca torta’  os Estados Unidos pensam que ainda são aquele em plenitude e que o resto do mundo é seu quintal como se América Latina o fosse. Mas, qualquer observador que não paute a sua informação de mundo nas histórias em quadrinhos de Superman, Homem América e quejandos tais, sabe  e o sabe muito bem  que o Tio Sam não é mais aquele. O necrológio como potência hegemônica vem sendo escrito e mesmo há quem afirme que os limites do seu poder (ora ainda mais aparente) tem data marcada, em lapso temporal que pode não ultrapassar uma década.

A sanha intervencionista, imperialista (de império, mesmo), de ter os demais submetidos ao ‘big stick’ há trinta anos vem se degradando. A alardeada vitória sobre o ‘mal’, cantada e decantada como a vitória da ‘liberdade’ e da ‘democracia’ no imediato do que foi denominado fim da ‘guerra fria’, simbolizada na queda do Muro de Berlim, levou o país e seu complexo militar que o sustenta e aos seus governos (democratas ou republicanos) a imaginar que detinha as rédeas do mundo para que suas vontades imperialistas fossem satisfeitas bastasse um psiu.

Esqueceu, no entanto, de combinar com a sabedoria de Garrincha, e saber se os russos, os chineses, os coreanos do norte estavam de acordo.

Para os Estados Unidos é muito cômodo promover guerras fora de seu território. Para lá manda os seus jovens sustentados no hinário e na bandeira como vestidos de libertação para os povos oprimidos enquanto travestem a opressão que promovem por outros caminhos.

...

A informação sob controle de quem a emite  e no Ocidente através das agências europeias e estadunidenses  reflete as reações ‘do mundo’ contrárias às ações russas em território ucraniano. Carregadas estão de protestos em defesa da autonomia e segurança territorial dos povos, no particular o da Ucrânia.

Nenhuma pergunta que aprofunde a busca da razão por que de a Rússia estar chegando ao ponto extremo. Nenhuma ponderação envolvendo a clássica definição de que ‘países não têm amigos, têm interesses’. Sob tal jaez os interesses em conflito são muito mais profundos do que o leitor meramente informado pela conectividade internética possa imaginar.

Os russos (de Putin) são acusados, mas os estados nacionais que apoiam um cerco estratégico à Rússia, que se materializa através da instalação de bases ao redor do território russo, capazes de atingir mesmo Moscou com artilharia balístico-nuclear, escondem o jogo oriundo da postura imperial do complexo militar estadunidense.

Somente os Estados Unidos possuem mais de 700 bases militares ao redor do mundo. A subordinação da Europa aos interesses estratégicos e hegemônicos dos Estados Unidos  e as decorrentes relações econômico-financeiras  há muito (fato aprofundado deste a desarticulação da ex-União Soviética) vem buscando sufocar os russos.

Em meio a tudo que nos chega como informação ninguém discute se os reclamos da Rússia, em nível de proteção aos seus interesses locais encontra ou não apoio da China. A China sabe que os avanços dos Estados Unidos buscando sufocar a Rússia se alcançarem sucesso abrirão o campo para idêntico avanço estadunidense sobre a própria China.

Sabendo o que representa a Ucrânia em termos de produção agroindustrial gostaríamos de ver a informação que nos chega permeada do que possui e interessa aos Estados Unidos, além do que significa como cabeça-de-ponte estadunidense no costado da Rússia.

Naturalmente, de direito idêntico inversamente dirá a Rússia deter.

Podemos afirmar que a pretensão dos Estados Unidos em defender a ‘liberdade’ e a ‘democracia’ ucraniana não corre pelos lindos olhos de sua gente. Caso ‘liberdade’ e ‘democracia’ o fossem paradigma a justificar suas intenções há muito não alimentaria terroristas (como o fez com Bin Laden, quando lhe convinha) ou Sadan Russein (quando lhe interessava) e há muito já teria destituído as ditaduras árabes. A Arábia Saudita, um exemplo. Mas – ora, mas  o petróleo da Arábia Saudita já está sob controle dos interesses dos Estados Unidos, servindo às suas corporações. Como não o tem da Venezuela promove bloqueios, ou derruba governos legítimos, como o do Brasil em 2016 para dispor do pré-sal.

Nos últimos anos não custa lembrar do Iraque, da Síria, da Líbia. Fundam-se na mítica da defesa da liberdade e afogam a liberdade dos outros. Na concepção em muito sedimentada no cinema como instrumento de controle da ‘verdade’, desde os faroestes, são eles os guardiães da Liberdade dos povos. Desde que a eles estejam submetidos. Sob o tacão de sanções econômicas levam povos a estado de penúria.

O parque agroindustrial da Ucrânia, herdado de investimentos ao tempo em que integrava a União Soviética  incluindo indústria voltada para usinas nucleares  atrai interesses de potências. A sua autonomia, no entanto  em que pese intervenção do Ocidente (leia-se Estados Unidos) no que resultou no atual governo (que tirou da algibeira um ator e comediante para servir de fantoche do Ocidente)  estava sendo respeitada até a mais recente tentativa de impor o ingresso da Ucrânia na Otan (leia-se, abrir caminho para a instalação de bases visando Moscou).

Como registramos na coluna anterior “Nada se faz sem que haja vantagem material” e para assegurar controles “A guerra é um instrumento exercido por quem detém o poder de promove-la e os meios de efetivá-la”.

Também registramos que o Ocidente capitaneado pelos Estados Unidos acabaram de transformar os ucranianos em "espingardas de Satanás".

Resta perguntar, considerando a possibilidade de uma guerra nuclear  único caminho para compensar a desmoralização diante da invasão bélica da Rússia a Ucrânia  se estão preparados para conviver com as baratas! Os que sobreviverem, claro!

Amanhã daremos continuidade abordando o tema ‘interesses’ em jogo sobre o prisma da hegemonia e da geopolítica, partindo do que representam para o mundo e a economia planetária, isolada e conjuntamente, a Rússia e a Ucrânia.


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