terça-feira, 1 de março de 2022

Os interesses em jogo ou o xadrez do esconde-esconde

 

De Vladimir Putin, em 2006, sobre o que entende como cerco do Ocidente à Rússia: "Para os Estados Unidos e os seus aliados, é uma política de contenção da Rússia, com óbvios dividendos geopolíticos. Para o nosso país, é uma questão de vida ou de morte, uma questão do nosso futuro histórico como nação. Isto não é um exagero; isto é um fato. Não é apenas uma ameaça muito real aos nossos interesses, mas à própria existência do nosso Estado e à sua soberania. É a linha vermelha de que temos falado em numerosas ocasiões. Eles a atravessaram. Claro que esta situação suscita uma pergunta: o que virá a seguir, o que devemos esperar”?

De lá para cá, desrespeitados os Tratados de Minsk, a anexação da Criméia, a derrubada do governo ucraniano pró Rússia e a tentativa Ocidental de inserir a Ucrânia no Pacto da OTAN.

Imaginemos o que diria o presidente John Kennedy diante da instalação de mísseis em Cuba pela então URSS, em 1962. Nada diferente: ameaça aos EEUU, aos interesses e à própria existência do Estado e à sua soberania.

O que deixou claro Vladimir Putin ao se referir às políticas dos Estados Unidos e Europa Ocidental em relação à Rússia: “uma política de contenção da Rússia, com óbvios dividendos geopolíticos”; para a Rússia uma questão de vida ou morte para o futuro histórico como nação.

O que diria JFK à época? A mesma coisa: ameaça à paz e à segurança do continente; uma questão de vida e morte para o futuro do povo estadunidense.

Na época, mediado pela ONU, um acordo celebrado: a Rússia retiraria os mísseis de Cuba e os EEUU não mais tentariam invadir a ilha e também retirariam seus mísseis tipo Júpiter da Turquia.

Parênteses: a Rússia não admitia mísseis na Turquia (sul do Mar Negro) em 1962; os Estados Unidos (via OTAN) pretende(ia) instalá-los na Ucrânia (norte do Mar Negro e fronteira com a Rússia) desde 2014.

Nikita Khruchov ao instalar mísseis em Cuba (a 100 quilômetros do território dos EEUU) forçou a reação estadunidense. Recuou levando os EEUU a desistirem de duas pretensões: a de atacar Cuba (aliada da URSS) como tentara no ano anterior na Baía dos Porcos  e retirar os mísseis que havia implantado na Turquia.

... 

Mas, como compreender o caro e paciente leitor o tabuleiro planetário recheado de reis, rainhas, bispos, torres, cavalos e peões?

No primeiro instante compreender que há pedras brancas e pedras pretas. Ou seja, um grupo de brancas enfrenta um grupo de pretas e vice-versa. Avancemos: para jogo da manipulação política da informação, uns são os bons e os outros, maus.

Também compreender que ambos têm ambições e detêm poder.

No plano da hegemonia e da geopolítica cada um dispõe as peças no tabuleiro para vencer batalhas. E vencer batalhas significa, nada mais nada menos, que ocupar espaços. Espaços onde estejam as fontes de riqueza primárias, secundárias, terciárias, ou de onde possam vigiar de perto o adversário. Assim, disputam a preponderância sobre áreas ricas em minerais (inclusive estratégicos), em insumos e capazes de produzir alimentos, com população para produzir e consumir (o que produzam e comercializam).

Neste toar às calendas o princípio da autodeterminação dos povos (de respeitar o que internamente este ou aquele decidiu: democracia, absolutismo, ditadura, autocracia etc.).

O instante no tabuleiro geopolítico do xadrez mundial

Queremos crer que o estágio nas relações envolvendo a Ucrânia, aprofundado a partir da ‘revolução’ de 2014, aliado ao descumprimento dos acordos fixados nos Tratados de Minsk, em muito se assemelha  em nível da reação de Vladimir Putin  à de Kennedy em 1962 diante da instalação de mísseis russos em Cuba.

A solução que teria evitado o conflito com a invasão da Ucrânia estaria resolvida simplesmente com um fato elementar (e estopim): não ingresso da Ucrânia na OTAN (caminho para instalação de bases ocidentais no costado da Rússia).

Mas, se tal não ocorreu (ainda)  outras frentes de batalha estão sendo exercitadas pelo Ocidente (bloqueios etc.)  tudo deságua naquilo que registramos anteriormente: a resistência não visa ‘os lindos olhos’ ucranianos e sim o que possui o país no âmbito de interesses dos Estados Unidos e Europa Ocidental à Rússia.

Vejamos por que Biden e seus falcões estão ‘tão preocupados’ com a Ucrânia. Uma amostra, a ser conferida pelo leitor, veiculada na rede:

“A Ucrânia é:

1º na Europa em reservas comprovadas recuperáveis ​​de minério de urânio; 2º lugar na Europa e 10º no mundo em reservas de minério de titânio; 2º lugar no mundo em reservas exploradas de minério de manganês (2,3 bilhões de toneladas, ou 12% das reservas mundiais); 2ª maior reserva de minério de ferro do mundo (30 bilhões de toneladas); 2º lugar na Europa em reservas de minério de mercúrio; 3º lugar na Europa (13º lugar no mundo) para reservas de gás de xisto (22 trilhões de metros cúbicos); 4º no mundo em valor total de recursos naturais; 7º lugar no mundo em reservas de carvão (33,9 bilhões de toneladas).

País agrícola, capaz de atender às necessidades alimentares de 600 milhões de pessoas (7,7% da população mundial), quase toda a da Europa Ocidental, estimada em 738,8 milhões em 2021:

1º na Europa em terras aráveis; 1º lugar no mundo nas exportações de girassol e óleo de girassol; 2º lugar mundial em produção e 4º lugar em exportação de cevada; 3º produtor e 4º exportador de milho do mundo; 4º produtor mundial de batata; 5º produtor de centeio do mundo; 5º lugar no mundo em produção de mel de abelhas (75.000 toneladas); 8º lugar no mundo em exportações de trigo; 9º lugar no mundo na produção de ovos de galinha; 16º lugar no mundo em exportações de queijo.

Como país industrializado:

1º na Europa na produção de amônia; 4º maior sistema de gasodutos da Europa no mundo (142,5 mil milhões de metros cúbicos de capacidade de escoamento de gás na UE); 3º na Europa e 8º no mundo em capacidade instalada de usinas nucleares; 3º lugar na Europa e 11º no mundo em extensão da rede ferroviária (21.700 km); 3º lugar no mundo (depois dos Estados Unidos e França) na produção de localizadores e equipamentos de localização; 3º exportador de ferro do mundo; 4º exportador mundial de turbinas para usinas nucleares; 4º produtor mundial de lançadores de foguetes; 4º lugar no mundo em exportações de argila; 4º lugar no mundo em exportações de titânio; 8º lugar no mundo em exportações de minerais e concentrados; 9º lugar no mundo em exportações de produtos da indústria de defesa; 10º produtor de aço do mundo (32,4 milhões de toneladas).”

Como registramos neste espaço tudo gira em torno da geopolítica e da hegemonia. Não há como fugir de que esses são os interesses em jogo no xadrez do esconde-esconde.

Sobre uma outra vertente, a HIPOCRISIA, nos debruçaremos na próxima oportunidade.   

   

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