De Vladimir Putin, em 2006, sobre o que entende como cerco do Ocidente à Rússia: "Para os Estados Unidos e os seus aliados, é uma política de contenção da Rússia, com óbvios dividendos geopolíticos. Para o nosso país, é uma questão de vida ou de morte, uma questão do nosso futuro histórico como nação. Isto não é um exagero; isto é um fato. Não é apenas uma ameaça muito real aos nossos interesses, mas à própria existência do nosso Estado e à sua soberania. É a linha vermelha de que temos falado em numerosas ocasiões. Eles a atravessaram. Claro que esta situação suscita uma pergunta: o que virá a seguir, o que devemos esperar”?
De lá
para cá, desrespeitados os Tratados de Minsk, a anexação da Criméia, a
derrubada do governo ucraniano pró Rússia e a tentativa Ocidental de inserir a Ucrânia no
Pacto da OTAN.
Imaginemos
o que diria o presidente John Kennedy diante da instalação de mísseis em Cuba
pela então URSS, em 1962. Nada diferente: ameaça aos EEUU, aos interesses e à
própria existência do Estado e à sua soberania.
O que
deixou claro Vladimir Putin ao se referir às políticas dos Estados Unidos e Europa
Ocidental em relação à Rússia: “uma política de contenção da
Rússia, com óbvios dividendos geopolíticos”; para a Rússia uma questão de vida
ou morte para o futuro histórico como nação.
O que
diria JFK à época? A mesma coisa: ameaça à paz e à segurança do continente; uma
questão de vida e morte para o futuro do povo estadunidense.
Na
época, mediado pela ONU, um acordo celebrado: a Rússia retiraria os mísseis de
Cuba e os EEUU não mais tentariam invadir a ilha e também retirariam seus
mísseis tipo Júpiter da Turquia.
Parênteses:
a Rússia não admitia mísseis na Turquia (sul do Mar Negro) em 1962; os Estados
Unidos (via OTAN) pretende(ia) instalá-los na Ucrânia (norte do Mar Negro e
fronteira com a Rússia) desde 2014.
Nikita Khruchov ao instalar mísseis em Cuba (a 100 quilômetros do território dos EEUU) forçou a reação estadunidense. Recuou levando os EEUU a desistirem de duas pretensões: a de atacar Cuba (aliada da URSS) – como tentara no ano anterior na Baía dos Porcos – e retirar os mísseis que havia implantado na Turquia.
...
Mas,
como compreender o caro e paciente leitor o tabuleiro planetário recheado de
reis, rainhas, bispos, torres, cavalos e peões?
No
primeiro instante compreender que há pedras brancas e pedras pretas. Ou seja,
um grupo de brancas enfrenta um grupo de pretas e vice-versa. Avancemos: para jogo da manipulação política da informação, uns são os bons e os outros,
maus.
Também
compreender que ambos têm ambições e detêm poder.
No
plano da hegemonia e da geopolítica cada um dispõe as peças no tabuleiro para
vencer batalhas. E vencer batalhas significa, nada mais nada menos, que ocupar
espaços. Espaços onde estejam as fontes de riqueza primárias, secundárias,
terciárias, ou de onde possam vigiar de perto o adversário. Assim, disputam a
preponderância sobre áreas ricas em minerais (inclusive estratégicos), em
insumos e capazes de produzir alimentos, com população para produzir e consumir
(o que produzam e comercializam).
Neste
toar às calendas o princípio da autodeterminação dos povos (de respeitar o que
internamente este ou aquele decidiu: democracia, absolutismo, ditadura, autocracia
etc.).
O instante no tabuleiro geopolítico do xadrez mundial
Queremos crer que o estágio nas relações envolvendo a Ucrânia, aprofundado a partir da ‘revolução’ de 2014, aliado ao descumprimento dos acordos fixados nos Tratados de Minsk, em muito se assemelha – em nível da reação de Vladimir Putin – à de Kennedy em 1962 diante da instalação de mísseis russos em Cuba.
A solução
que teria evitado o conflito com a invasão da Ucrânia estaria resolvida
simplesmente com um fato elementar (e estopim): não ingresso da Ucrânia na OTAN
(caminho para instalação de bases ocidentais no costado da Rússia).
Mas, se tal não ocorreu (ainda) – outras frentes de batalha estão sendo exercitadas pelo Ocidente (bloqueios etc.) – tudo deságua naquilo que registramos anteriormente: a resistência não visa ‘os lindos olhos’ ucranianos e sim o que possui o país no âmbito de interesses dos Estados Unidos e Europa Ocidental à Rússia.
Vejamos
por que Biden e seus falcões estão ‘tão preocupados’ com a Ucrânia. Uma amostra,
a ser conferida pelo leitor, veiculada na rede:
“A
Ucrânia é:
1º na
Europa em reservas comprovadas recuperáveis de minério de urânio; 2º lugar na
Europa e 10º no mundo em reservas de minério de titânio; 2º lugar no mundo em
reservas exploradas de minério de manganês (2,3 bilhões de toneladas, ou 12%
das reservas mundiais); 2ª maior reserva de minério de ferro do mundo (30
bilhões de toneladas); 2º lugar na Europa em reservas de minério de mercúrio;
3º lugar na Europa (13º lugar no mundo) para reservas de gás de xisto (22
trilhões de metros cúbicos); 4º no mundo em valor total de recursos naturais;
7º lugar no mundo em reservas de carvão (33,9 bilhões de toneladas).
País
agrícola, capaz de atender às necessidades alimentares de 600 milhões de
pessoas (7,7% da população mundial), quase toda a da Europa Ocidental, estimada
em 738,8 milhões em 2021:
1º na
Europa em terras aráveis; 1º lugar no mundo nas exportações de girassol e óleo
de girassol; 2º lugar mundial em produção e 4º lugar em exportação de cevada;
3º produtor e 4º exportador de milho do mundo; 4º produtor mundial de batata;
5º produtor de centeio do mundo; 5º lugar no mundo em produção de mel de
abelhas (75.000 toneladas); 8º lugar no mundo em exportações de trigo; 9º lugar
no mundo na produção de ovos de galinha; 16º lugar no mundo em exportações de
queijo.
Como
país industrializado:
1º na
Europa na produção de amônia; 4º maior sistema de gasodutos da Europa no mundo
(142,5 mil milhões de metros cúbicos de capacidade de escoamento de gás na UE);
3º na Europa e 8º no mundo em capacidade instalada de usinas nucleares; 3º
lugar na Europa e 11º no mundo em extensão da rede ferroviária (21.700 km); 3º
lugar no mundo (depois dos Estados Unidos e França) na produção de
localizadores e equipamentos de localização; 3º exportador de ferro do mundo;
4º exportador mundial de turbinas para usinas nucleares; 4º produtor mundial de
lançadores de foguetes; 4º lugar no mundo em exportações de argila; 4º lugar no
mundo em exportações de titânio; 8º lugar no mundo em exportações de minerais e
concentrados; 9º lugar no mundo em exportações de produtos da indústria de
defesa; 10º produtor de aço do mundo (32,4 milhões de toneladas).”
Como
registramos neste espaço tudo gira em torno da geopolítica e da hegemonia. Não
há como fugir de que esses são os interesses em jogo no xadrez do esconde-esconde.
Sobre uma outra vertente, a HIPOCRISIA, nos debruçaremos na próxima oportunidade.
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