domingo, 20 de fevereiro de 2022

As lições que ficam, ainda que trágicas possam ser as consequências

 

Idos de fevereiro de 2017, domingo 19, quase dois anos antes das eleições de 2018, registramos em nosso dominical (“Gargalhares e ironias”) o seguinte raciocínio:


O que assusta e ensina

Nessas pesquisas para 2018 vão surgindo duas coisas: uma que não surpreende; outra, surpreendente.

Não surpreende Lula capitaneando. Até porque não lhe falta mídia se não bastasse ter sido presidente com reconhecível índice de aprovação  e a perseguição por que passa (levando-o à vítima, no entender do observador diante de tanta denúncia e nada ter sido provado até agora).

No entanto – em que pese haver saído do armário a turma, inebriada no aroma de 1964 – uma candidatura escancaradamente reacionária estar no imaginário dos entrevistados é sinal preocupante.

Não porque tal não devesse ocorrer (a candidatura), mas em razão das razões que a alimentam, contrárias – em muitos pontos de vista – aos anseios da cidadania.

Isso posto, o que mudou de lá para cá?

Em nível de povo, o que mudou de lá para cá? O instante, apenas o instante?!!!

Cremos  sem pretensão à profecia  que vivemos uma diferença entre o comum de um e outro instante: o de que aquela parcela da sociedade muito mais próxima do delírio (ver) mais segura se sente por haver descoberto o líder que antes nunca teve. O que lhe dá ganas e certeza de que seu universo de pensamento(?) é possível e profético.

A denominada classe dominante, ideologicamente conservadora, controlou a quase totalidade das eleições, elegendo representantes no curso da história republicana. Que lhe asseguravam o poder, apropriando-se do Estado, como se particular o fosse (patrimonialismo), para consumar políticas voltadas à acumulação da riqueza produzida, promover e ampliar a concentração da renda e aprofundar mais e mais a distância entre os desiguais. Reproduziu a praxe universal de o interesse privado detentor do capital ditar, com rédeas presas, as regras para que todos trabalhem para uns poucos, não preocupado com o interesse coletivo, tampouco desenvolver a cultura do debate político.

Ultrapassado o controle através dos púlpitos encontrou na imprensa o meio ideal para formar juízos de valor conformados à sua forma de defender seus interesses individuais e a educação levada a reboque.

O nosso alerta em 2017 continha a provocação para que o leitor percebesse que algo remoto norteava aquele instante. E o ‘remoto’ residia no controle remoto. Ou seja, os meios de comunicação ditavam o ‘pensar’ e o ‘que pensar’ a partir da agenda do que poderia voltar a corresponder aos interesses da classe dominante.

Como não bastasse, os desdobramentos (amparados na divulgação manipulada da realidade) resultaram no que vivemos.

A caixa de Pandora tupiniquim, até então, não liberava os males, guardados com quem com eles sonhava.

Mas os sonhos reprimidos (a dimensão patológica destes sonhos), expressavam-na apenas na ‘mesa de bar’, nas discussões pessoais. Porque o poder nunca lhe havia ofertado um teatro que trouxesse exemplo vivo para sua catarse.

E quem sonha defende com unhas e dentes o que acredita. Especialmente quando percebe que o sonho se materializou.

Em nível de Brasil não desenvolvemos uma cultura sob o cadinho das sociedades e costumes das gentes que contribuíram para sua construção. Uma parte significativa de experiências sucumbiu à saga pelo poder oriundo da amoralidade. Porque para tal gente a moralidade é coisa apenas afeta à Filosofia.

Em nível de Humanidade é “o passado que controla o presente às ocultas” (Eric Hobsbawn). Este passado é o registro da história do homem em virtudes e defeitos. Há um certo quê de que o homem não se fez a caminho da felicidade quando descobriu a acumulação material  em detrimento da participação/distribuição  como instrumento de reconhecer-se capaz de deter poder. Dividiu-se em explorador e explorado.

Este passado, presente na experiência exitosa recente  contrária “aos anseios da cidadania”   nos deixa um quê de que as lições ficam  e se consolidam  apesar de trágicas.

Lamentável  razão por que do trágico  que não há encanto ou sentido de avanço em benefício da cidadania a lição daquele instante se fazer permanente razão para uma parcela da população.

Caso indagação surja do trágico no contexto exposto, compreender que tudo que ora aparenta esperança pode não sê-lo como muitos imaginam.


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