Idos de fevereiro de 2017, domingo 19, quase dois anos antes das
eleições de 2018, registramos em nosso dominical (“Gargalhares e ironias”) o
seguinte raciocínio:
O que assusta e ensina
Nessas pesquisas para 2018 vão surgindo duas
coisas: uma que não surpreende; outra, surpreendente.
Não surpreende Lula capitaneando. Até porque não lhe falta mídia – se não bastasse ter sido presidente com reconhecível índice de aprovação – e a perseguição por que passa (levando-o à vítima, no entender do observador diante de tanta denúncia e nada ter sido provado até agora).
No entanto – em que pese haver saído do armário a
turma, inebriada no aroma de 1964 – uma candidatura escancaradamente
reacionária estar no imaginário dos entrevistados é sinal preocupante.
Não porque tal não devesse ocorrer (a candidatura),
mas em razão das razões que a alimentam, contrárias – em muitos pontos de vista
– aos anseios da cidadania.
Isso posto, o que mudou de lá para cá?
Em nível de povo, o que mudou de lá para cá? O
instante, apenas o instante?!!!
Cremos – sem pretensão à profecia – que vivemos uma diferença entre o comum de um e outro instante: o de que aquela parcela da sociedade muito mais próxima do delírio (ver) mais segura se sente por haver descoberto o líder que antes nunca teve. O que lhe dá ganas e certeza de que seu universo de pensamento(?) é possível e profético.
A denominada classe dominante, ideologicamente
conservadora, controlou a quase totalidade das eleições, elegendo
representantes no curso da história republicana. Que lhe asseguravam o poder,
apropriando-se do Estado, como se particular o fosse (patrimonialismo), para consumar
políticas voltadas à acumulação da riqueza produzida, promover e ampliar a
concentração da renda e aprofundar mais e mais a distância entre os desiguais. Reproduziu
a praxe universal de o interesse privado detentor do capital ditar, com rédeas
presas, as regras para que todos trabalhem para uns poucos, não preocupado com
o interesse coletivo, tampouco desenvolver a cultura do debate político.
Ultrapassado o controle através dos púlpitos
encontrou na imprensa o meio ideal para formar juízos de valor conformados à
sua forma de defender seus interesses individuais e a educação levada a
reboque.
O nosso alerta em 2017 continha a provocação
para que o leitor percebesse que algo remoto norteava aquele instante. E o ‘remoto’
residia no controle remoto. Ou seja, os meios de comunicação ditavam o ‘pensar’
e o ‘que pensar’ a partir da agenda do que poderia voltar a corresponder aos
interesses da classe dominante.
Como não bastasse, os desdobramentos
(amparados na divulgação manipulada da realidade) resultaram no que vivemos.
A caixa de Pandora tupiniquim, até então, não
liberava os males, guardados com quem com eles sonhava.
Mas os sonhos reprimidos (a dimensão
patológica destes sonhos), expressavam-na apenas na ‘mesa de bar’, nas
discussões pessoais. Porque o poder nunca lhe havia ofertado um teatro que
trouxesse exemplo vivo para sua catarse.
E quem sonha defende com unhas e dentes o que
acredita. Especialmente quando percebe que o sonho se materializou.
Em nível de Brasil não desenvolvemos uma
cultura sob o cadinho das sociedades e costumes das gentes que contribuíram
para sua construção. Uma parte significativa de experiências sucumbiu à saga
pelo poder oriundo da amoralidade. Porque para tal gente a moralidade é coisa
apenas afeta à Filosofia.
Em nível de Humanidade é “o passado que controla o presente às ocultas” (Eric Hobsbawn). Este passado é o registro da história do homem em virtudes e defeitos. Há um certo quê de que o homem não se fez a caminho da felicidade quando descobriu a acumulação material – em detrimento da participação/distribuição – como instrumento de reconhecer-se capaz de deter poder. Dividiu-se em explorador e explorado.
Este passado, presente na experiência exitosa recente – contrária “aos anseios da cidadania” – nos deixa um quê de que as lições ficam – e se consolidam – apesar de trágicas.
Lamentável – razão por que do trágico – que não há encanto ou sentido de avanço em benefício da cidadania a lição daquele instante se fazer permanente razão para uma parcela da população.
Caso indagação surja do trágico no contexto
exposto, compreender que tudo que ora aparenta esperança pode não sê-lo como
muitos imaginam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário