domingo, 17 de fevereiro de 2013

DE RODAPÉS E DE ACHADOS- Dia 17 de Fevereiro de 2013


DE RODAPÉS E DE ACHADOS

AdylsonQuando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.  

Adylson Machado

500 anos

A recém descoberta Terra de Santa Cruz embrionava a sanha que a fariaterra brasilis, primeiras expedições descortinando acidentes geográficos e a dimensão territorial da conquista portuguesa que alimentaria brevemente a partilha em favor dos senhores da fidalguia portuguesa.
Naqueles idos, mais precisamente em 1513, escorraçado das bandas da Florença retomada pelos Médici e refugiado em San Casciano, o historiador, poeta, diplomata e músico Nicolau Maquiavel elabora (a partir de sua experiência como Secretário de Negócios Diplomáticos e de Guerra durante os quatorze anos anteriores), trazia a público, exatamente no dia 19 de fevereiro, o que ainda é considerado bíblia da Ciência Política e da governança.
São 500 anos de O Príncipe, o clássico que perdura sob os mais convenientes vieses da interpretação, conforme os interesses do príncipe de plantão, ainda que o autor, em sua pretensão, se limitasse a oferecer elaborado princípio da separação da política, moral e religião em um mundo que saía da Idade Média embalado na Renascença.
Leitura que continua obrigatória. Inclusive para este Brasil de quinhentos anos depois.

Fernando, o Lyra

fernando lyraMorreu na quinta-feira 14 uma das vozes políticas que constituíram a resistência à ditadura militar ao lado de Lysâneas Maciel, Chico Pinto, Alencar Furtado, Amaury Muller, integrando o denominado “MDB autêntico” na Câmara dos Deputados. Dele a famosa frase – ainda que tenha sido ministro em seu governo – “Sarney é a vanguarda do atraso”. Seu livro “Daquilo que eu sei – Tancredo e a transição democrática” traduz, sob sua visão, um dos significativos instantes da recente história do país.
Para ele o erro na política era perdoável desde que houvesse rumo de propósitos e não fosse este levado de roldão. O que anda faltando em muita administração na região.

Benefícios

Há estudos, realizados pela consultoria Ernst & Young em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, que analisam os impactos sócio-econômicos da Copa de 2014 afirmando que para um gasto que supera 22 bilhões de reais outros 142 bilhões serão injetados na economia.
Resta saber com quem ficará a maior parte da diferença. Ou seja, os reais beneficiados.

Mensalão em versões I

ayresMerval Pereira, o último incesto da Academia Brasileira de Letras, como o escorpião da fábula, exercita sua natureza em livro (Mensalão). Não se discute sua natureza, tampouco seu compromisso com a obscuridade.
Estranha na obra, no entanto, quem a prefacia: o ex-ministro Ayres Britto, que presidia o STF durante o julgamento.
Não à toa o ministro perdeu o bonde da história, sacrificou sua biografia e o confessa subscrevendo prefácio em defesa de um lado.
Que não é o do Supremo Tribunal Federal como ente e muito menos o do primado da Justiça.

Mensalão em versões II

livro mensO jornalista Paulo Moreira Leite, que passou pelas redações da Época e da Veja, traz ao leitor, ainda no frescor do inconcluso julgamento da AP 470 (falta publicação dos acórdãos), “As contradições de um julgamento político”, subtítulo de “A Outra História do Mensalão”.
Para o autor os acusados estavam previamente condenados por aquilo que denomina de “opinião publicada” antes mesmo de o julgamento começar – o mais midiático do Brasil e, talvez, do mundo, transformado em típico reality show.
A obra, prefaciada por Jânio de Freitas, editada pela Geração Editorial, integra a coleção História Agora, é o 7º título de uma série que tem no “A Privataria Tucana” o grande sucesso de vendas.
A leitura de “A Outra História do Mensalão – As contradições de um julgamento político” é recomendada a todos que busquem informações desprovidas de maniqueísmos políticos e, certamente, será um documento para o público compreender que o Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição, cometeu injustiças e gerou, para alguns condenados, uma versão de “O Processo” de Frans Kafka, quando condenou acusados sem que contra eles houvesse prova, justamente porque cometeu a heresia jurídica de, em matéria penal, transferir para o acusado o ônus de provar a inocência, isentando a acusação de sua função primordial.

Solução à vista

papaOs comandantes das três armas (Marinha, Exército e Aeronáutica) avaliam a forma de divulgação de informações sobre discos voadores.
Pode ser que através delas venham as verdadeiras razões da renúncia do Papa Bento XVI.
Não conseguindo, recomendamos apurar no âmbito das “forças ocultas” que fizeram Jânio Quadros trilhar idêntico caminho.

Desfaçatez

Chegam até a anunciar a queda do lucro da Petrobras como prejuízo. Não desistiram da luta pela privatização plena.
Enquanto isso os especuladores vão ganhando seu trocado. É do sistema.

Memórias a descoberto

dudaEduardo Anunciação – o “Gaguinho”, o “Bode Rouco”, “Bacurau”, “Duda”, “Bacurau de Terraço” – levou para o túmulo segredos muitos, os que envolviam particularidades das muitas personalidades locais, oriundos da convivência com a sua cinquentenária atividade.
Poucos lembraram da importância de EA na história do jornalismo itabunense, ele que viveu o divisor de águas ocorrido nos anos 60.
Testemunhos ocorreram, à beira do túmulo, desde a bela e pungente oração de Paulo Lima ao depoimento sensibilizado de Eduardinha.

Ausências injustificadas

Sem explicação a ausência de um registro condizente com sua importância nas emissoras de televisão e de rádio. Não fora a ausência de vereadores no velório na Câmara Municipal (como já ocorrera com o de Flávio Simões), casa onde Eduardo exerceu mandato quando o mais jovem vereador do Brasil, eleito em 1966, aos 18 anos.
Como explicar a inexistência de artistas em massa na última homenagem ao agitador cultural que marcou época criando centros culturais, estudantis, políticos e, principalmente, teatros?
Nenhuma moção da ABI, nem fala de Geraldo Simões (presente ao sepultamento), para quem Eduardo representa uma perda irrecuperável, já que se tornara o último bastião de credibilidade a defendê-lo em texto.

Alerta

Descobriu-se, no curso do velório, que não poderia ser retardado o sepultamento (ainda que aguardando a sobrinha Sheila) porque o Campo Santo da Santa Casa de Misericórdia tinha hora para cerrar as portas no sábado (11:30h).
A inusitada circunstância gerou uma provocação em relação ao Poder Público Municipal – para que pense urgentemente em administrar tal situação – e do Cabôco Alencar – para quem “defunto não faz serenata”, razão por que não há como retardar sepultamento.

Registro histórico

Bebíamos Eduardo – inclusive literalmente – em roda de prosa memorialista com Paulo Lima, Ederivaldo “Bené” Benedito e Eva Lima e conhecemos uma das facetas de Eduardo, nunca por ele a nós revelada: a de ativista em defesa da liberdade de imprensa, até as últimas consequências.
Tal circunstância pode ser aferida a partir do seguinte fato:
Quando da inauguração do edifício que abrigaria o todo poderoso Conselho Consultivo dos Produtores de Cacau (tornado “Nacional” posteriormente), com a pompa e circunstância que a oportunidade exigia, onde presentes cinco Ministros de Estado e o próprio Vice-Presidente da República, Eduardo Anunciação, então Assessor de Imprensa do CCPC, era o responsável pelo cerimonial, a quem cabia acompanhar o ingresso de jornalistas.
Houvera a exigência de traje passeio completo para os integrantes da imprensa, o que faltava a um deles, José Carlos Teixeira.
Tudo correria bem, não fora a ingerência dos Órgãos de segurança incumbidos da proteção às autoridades federais, que já haviam espalhado duas centenas de agentes nas proximidades do evento e controlavam o acesso ao CCPC.
Surgido o incidente (Teixeira sem o passeio completo), os agentes que vigiavam o acesso, e tornaram-se assustadora e intimidadora presença, negaram espaço ao jornalista.
Primeiro corte: a intervenção de Eduardo Anunciação foi decisiva para o acesso de Teixeira. Diante da peremptória postura dos agentes federais em manter a proibição afirmou ele que “a festa é nossa” e se o colega não entrasse não haveria nenhuma cobertura da imprensa regional, já que todos tirariam o paletó em solidariedade ao colega. Para ele, acima de qualquer segurança, o respeito à imprensa.
Segundo corte: isso em plena ditadura militar.

Fogo amigo

O que circula em conversas pela cidade, a partir de “informações” oriundas do centro do poder municipal, é de que faltaria comando à administração e de que haveria profundo cisma no cerne do poder.
Não é o que nos informa uma fonte do primeiro escalão: comando há – afirma; e, também, ao que parece, um centro de divulgação do que não existe.

Miltinho

Completou 85 anos no 31 de janeiro Milton Santos de Almeida, o Miltinho, um dos grandes intérpretes da música brasileira, destacado por sua forma de conduzir a melodia, “adiantando” e “atrasando” a divisão. Nos anos 60 (apesar de militando no universo musical desde os anos 40) constituiu-se uma referência e, por seu estilo, imitado por todos os que ensaiávamos agradar as namoradas nas serenatas.
Seu primeiro grande sucesso “Mulher de 30” (Luiz Antônio) tornou-o reconhecido, a partir do início dos anos 60. Aqui ofertamos “Eu e o rio” (Luiz Antônio).  

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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e " O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum

Um comentário:

  1. Caro Adylson parabéns pelos escritos em referência à figura do jornalista Eduardo Anunciação, mais conhecido por todos ou grande maioria como Gaguinho. Fará falta sim a sua voz, a sua máquina de escrever. Descanse em paz!Lá em cima encontrará a figura do meu pai Pedro Marques de Sá que ele muito reverenciava em suas colunas.

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