quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Outro auditório

Para Abílio Pereira
Estivemos ausente deste espaço enquanto singrávamos mares da costa brasileira, “sem rádio e sem notícia das terras civilizadas”, como lembrou Zé Dantas para a melodia de Gonzaga (Riacho do Navio), composta em 1955.

Buscamos o que nos competia buscar (blogues etc.) para ocupar o vazio destes dias e descobrimos que Abílio Pereira faleceu no fim de semana.

Nos veio à lembrança não o Abílio que Itabuna re-conheceu: (ex)proprietário da empresa Fátima ou “marido” de Maria Alice, encontrado em identidade mais individualizada nos raros instantes em que exerceu cargos junto à administração municipal ou se ensaiou para o palco da política partidária.

Veio-nos o Abílio de uma conversa há mais de uma década, quando nos dizia lembrar de nós desde os idos em que comerciava vendendo doces naqueles carros que faziam a festa para os olhos da meninada. Na verdade, um ambulante motorizado que saia de comércio em comércio vendendo seu peixe (doces e guloseimas) no cordão sem contas do interior, em cidades, arruados e roças.

Então nos lembramos do velho “carro de doce” que abastecia o pequeno comércio que meu pai mantinha no posto de gasolina (hoje pomposamente denominado “loja de conveniência”) em Itororó e Bandeira do Colônia.

Mais que isso – disse-nos ainda Abílio – sempre que pernoitava em fim de semana em Iguaí não perdia o programa de auditório que produzíamos e apresentávamos no palco do cinema local nas manhãs de domingo.

Lá se vão entre 45 e 50 anos. Ao final deles Abílio levado a outras plagas, para vender seus doces e assistir outros programas de auditório.

Ainda que tenhamos a morte como certeza absoluta e peremptória determinação do existir começamos a pensar na possibilidade inevitável de que em anos vindouros (que esperamos tardem) venhamos a produzir programas de calouros em outras plagas. Mesmo que apreciemos, e prefiramos, o registrado em lápide de cemitério portoalegrense, como anotado por Jorge de Souza Araujo: “Aqui jaz Fulano de Tal. Muito contra a vontade”.

Enquanto isso, um abraço para o português Abílio, que descobriu o interior desta Bahia para alegrar crianças com suas guloseimas e gostava de programas de auditório em manhãs de domingo provinciano nos tempos em que a Jovem Guarda e os Festivais formavam nosso imaginário.


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