domingo, 15 de dezembro de 2013

Alguns destaques

DE RODAPÉS E DE ACHADOS *

________

Tratamento diferenciado
Gente VIP é outra coisa, chavão dos que se faziam importantes já nos anos 50-60 do século passado, originado da expressão em inglês Very Important Person. 

Assim entenderá o povão – dispensado de compreender os escaninhos do Poder Judiciário – ao saber que alguns dos muitos envolvidos no escândalo do propinoduto tucano-paulista a partir de cartel que comandou aquisições de trens e construção do metrô são tratados no STF, onde se encontra registrado inquérito para apuração dos desmandos.

Lá estão as iniciais. Afinal, gente VIP não pode ser identificada em inquérito que apura a bandalheira. Ainda que o responsável pela apuração seja o Supremo Tribunal Federal.

Métodos e princípios I
Na campanha presidencial de 1950 dizia Carlos Lacerda – expressão maior da UDN, onde se encastelava o conservadorismo econômico e político brasileiro – que Getúlio Vargas não podia ser candidato, se o fosse não podia ganhar, se ganhasse não podia tomar posse, se empossado não poderia governar. O discurso embutia o que há de mais conservador, retrógrado e reacionário, uma vez que o poder – para esse pensar – não pode sair das mãos de quem o detenha (quando sob tutela desse mesmo conservadorismo).

Para alcançar os objetivos estabelecidos nos princípios norteadores qualquer método servia: da campanha difamatória ao extremismo do golpe contra as instituições. Getúlio governou sob permanente crise política e não sucumbiu ao processo golpista em andamento porque optou, entre a vida natural e a política, por perder a primeira, sacrificando-a com um tiro no peito.

Sucederam-se outras tentativas de golpe, desde negar posse a Juscelino, duas rebeliões (Aragarças e Jacareacanga), açodada implantação do parlamentarismo em 1961 até a consumação do sonho em 1964.

Métodos e princípios II
O biombo onde tal postura gerada amparado estava na histórica presença das elites dominantes que nunca permitiram ao país alcançar a mínima participação de outros estamentos da sociedade em seu projeto político. 

Vícios que remontavam à formação da sociedade brasileira, desde os primórdios da Colônia. Do controle de vastidões territoriais sob o comando de armas e chicote ao domínio pleno do poder político sustentado em duas dimensões (únicas) de poder econômico: agricultura e pecuária.

Décadas ultrapassadas e nenhuma das alianças para enfrentar essa dimensão conservadora ainda conseguiu ultrapassar o conflito original, tampouco enfrentar os seus fundamentos. O discurso moralista ainda permeará a campanha presidencial sessenta e quatro anos depois.

As lições e os custos passam ao largo da lembrança conveniente.

Métodos e princípios III
Não nos cabe nesse instante aprofundar expectativas diante do processo de evolução por que estejamos passando. Mas verificar que as eleições de 2014 caminham para o óbvio – “ululante”, como o adjetivou Nelson Rodrigues. A polarização político-partidária liderada por PSDB e PT, iniciada pelo primeiro nos anos 90, sucedida pelo segundo no início deste século – ambos tendo o PMDB como principal coadjuvante – tende a manter-se.

Como mantida será a mesma agenda – em muito desenvolvida nas eleições de 2010 – escancarando a fuga do debate em torno de idéias para consolidação de acusações mútuas envolvendo o mesmo tema: corrupção.

Cada um com sua bandeira e o rótulo alheio como mensagem: contra o PT o moralismo tucano terá o denominado mensalão; contra o PSDB, o moralismo petista terá o escândalo de trens e metrô em São Paulo. Far-se-ão diferentes – já que o objeto de crítica é o mesmo – nos valores envolvidos: pelo menos 500 milhões no governo paulista (envolvendo toda a linhagem governante, de Covas a Alckmin) contra os 70 petistas. (Aqui não nos debruçamos sobre provas ou não da existência de cada, mas tão somente do mote ensaiado para o ano vindouro).

E, ao que parece, a História se repetindo como farsa – como o disse Karl Marx no 18 Brumário.

Métodos e princípios IV
Como o demonstram as pesquisas o discurso moralista não parece disposto a render votos. Nem para um, tampouco para o outro. Em 2010 já o comprovara.
Por que então a insistência? Justamente porque no curso de tantos anos de alegada democracia não conseguimos formar um juízo de valor em torno de ações políticas concretas para o Brasil (e o dizemos em nível de ‘políticas de Estado’), onde a sociedade tenha tido participação efetiva. Limitadas estão para o depois, quando postas em prática pelo governante eleito.

Neste particular a indiferença ao discurso moralista prejudica a oposição. Quando o observador natural, o povo – destinatário do discurso – entende a verdadeira mensagem, compara um e outro período sob uma ótica individualista, como lhes ensinam os discursadores, e conclui respondendo à indagação: o que está melhor para mim?

E assim, relembrando Marx na citação acima, o vazio do debate – destoado de idéias – faz repetir o discurso moralista oco e chocho, ocupando a agenda atual como ocorrido nos idos de seis décadas passadas.

Sonegômetro
O Simprofaz – Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional – dispõe, em Brasília, de um sistema de informação, em tempo real, sobre o volume financeiro da sonegação no Brasil. 

No último dia 11 o valor já beirava 400 bilhões (BILHÕES!) de reais, o que equivale à multiplicação por vinte dos gastos com o Bolsa Família ou o equivalente a 10% do PIB brasileiro. Ou seja, para atender a mais de 13 milhões de famílias gasta o Governo em torno de 20 milhões de reais. Vinte vezes isso paga o país por conta da sonegação.

Outra denúncia do Sinprofaz: aguardam cobrança e execução outros 2 trilhões (TRILHÕES!) de reais de sonegações passadas, ainda não alcançadas pela prescrição.

Maratona iniciada
Há pessoas e entidades que não deixam a Globo sossegada. Tanto insistiram que a platinada pode ver iniciado contra si a apuração envolvendo a sonegação milionária que tende a gerar denúncia por crimes contra a ordem tributária e de lavagem e ocultação de bens, direitos e valores.

Está em poder do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro a provocação cidadã, que já a encaminhou a Polícia Federal para a devida apuração.

Considerando tratar-se da Globo temos que compreender que não acompanharemos uma corrida de 100 metros livres e sim uma típica maratona. 

Caso não seja cancelada antes do término. Afinal, até mesmo o processo fiscal desaparecera misteriosamente.

Em teste
A criticada forma desenvolvida pelo Governo Federal para as concessões na área de energia, posta em prática com a Medida Provisória 579, de 2012 – que recebeu enfrentamentos vários – está demonstrando acerto em seu principal propósito: redução do preço da tarifa. 

É o que afirma a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica – ABRADEE, comparando a redução média de 20% nos encargos setoriais da tarifa de energia elétrica dentro da nova política de prorrogação de concessões de geração e transmissão.

Hoje – segundo a ABRADEE – o Brasil tem a quarta menor tarifa de luz residencial entre os países pesquisados, tomados como base a partir dos valores disponibilizados pela Agência Internacional de Energia, pelo EuroSat –  provedor de informações estatísticas da Comunidade Europeia – e pela Aneel, tendo por base o ano de 2012. O país fica atrás apenas dos Estados Unidos, da França e da Finlândia.

A indústria passou a ser a oitava. Antes era a 14ª. Enquanto a residencial era a 12ª.

De destacar o fato de o parâmetro em dólar, de 2012, considerou a moeda americana no câmbio de 1,955 reais.

Em queda
Ainda que o TSE tenha reconduzido a governadora Rosalba Ciarlini ao poder no Rio Grande Norte (nenhuma informação se a prefeita de Mossoró o conseguirá) a situação do DEM não alimenta expectativa nem de manter as atuais conquistas eleitorais.

A queda é vertiginosa em número de prefeituras, governos e parlamentares.

Todos têm razão

“’Não se pode confundir o advogado com o réu’, afirma presidente da OAB

Brasília - O presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, manifestou contrariedade com as recentes declarações do chefe da Corregedoria-Geral da União, Jorge Hage, que afirmou durante evento público que “bons advogados” são pagos “muitas vezes com dinheiro obtido da corrupção”.

Ainda que sinalizada alguma razão para a defesa – poder-dever de seu representante – não falta razão ao Corregedor-Geral da União. Afinal, imaginar-se que não exista dinheiro de corrupção em Carlinhos Cachoeira etc. é imaginar sexo dos anjos em pleno Natal.

Como na sabedoria popular: em casa sem pirão todos reclamam com razão.

Jacques Wagner
A pesquisa CNI/Ibope publicada na sexta 13 aponta para um quadro singular, no que pertine à avaliação de governos estaduais e respectivos governadores. Dentre os governadores, o da Bahia, detém 50% de avaliação para aprovação pessoal e 26% de positivo para o governo.

Os quatro melhor avaliados são Omar Aziz (PSD-AM), Eduardo Campos (PSB-PE), Tião Viana (PT-AC) e André Pccinelli (PMDB-MS).

O governo Wagner fica no 19º posto dentre os 27 avaliados, ganhando apenas da rabeira – pela ordem – de Siqueira Campos (PSD-TO), Teotônio Vilela (PSDB-AL), Silval Barbosa (PMDB-MT), Simão Jatene (PSDB-PA), Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Camilo Capiberibe (PSB-AP), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Rosalba Ciarlini (DEM-RN).

Vê mas não enxerga
Um deputado doa ambulância para uma instituição itabunense. Até aí tudo bem. Louvável, inclusive. No entanto, fixa seu nome no veículo, que por onde roda leva a propaganda de Sua Excelência.

Permanente publicidade com dinheiro público. Afinal, o dinheiro da ambulância não saiu do bolso do deputado e sim do Estado.

O Ministério Público não percebe. Ou não quer enxergar. A não ser que não haja lei para coibir o procedimento parlamentar.

Ilha em formação
No Cachoeira, com o quase desaparecimento da famosa “ilha do jegue”, está em formação um novo acidente geográfica de igual dimensão.

Desta fez uma ilha se forma junto aos pilares da ponte do Marabá.

Lamentar, o que resta!
A atriz Eva Lima flagrou mais uma cena para alimento da tristeza itabunense. O velho Cine Itabuna, palco de arte, que se fizera templo, tornar-se-á simplesmente comércio. Suas paredes estão no chão.

No final do ano passado anunciou-se, pela FICC, a iniciativa de tombamento do cinema, último bastião das casas exibidoras que povoaram esta cidade.

Para surpresa suas paredes estão indo abaixo.

Com autorização da Prefeitura, visto que qualquer obra em qualquer espaço físico do município precisa de licença do município.

Salva-se o espaço apenas de tornar-se mais uma área destinada a estacionamento.

Leitura tropicalista
A gravação de “Procissão” levada a termo em 1968 (no LP Gilberto Gil) parece destoar do proposto na original, de 1965 (em compacto simples). 

A mais recente se veste de arranjos de guitarra, transita pelo rock, dispensa as razões postas na proposta poética. 

A primeira exprime, de imediato, o protesto, alimentado de canto carpideiro como introdução, trazendo à tona o sebastianismo nordestino em conflito com o discurso contido nos versos da canção.

Não sabemos – somente Gil para explicar – se o momento político contribuiu ou se foi experimentalismo tropicalista.


_________
* Coluna publicada aos domingos em www.otrombone.com.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário