domingo, 23 de fevereiro de 2014

Destaques

DE RODAPÉS E DE ACHADOS *

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Não falta nada
Muitas religiões exercitam expedientes os mais diversos para efetivação de típicos negócios: da venda de lasca da cruz de Cristo a areia e água do rio Jordão. A escassez, tanto o universo consumidor, está levando a uma criatividade nunca imaginada.

O inusitado chega através de mais um ‘produto’: perfume com cheiro de Jesus. 

Caso não seja brincadeira com coisa séria não temos como entender que a exploração/mercantilização da Fé chegue a ponto de exercitar um típico comportamento estelionatário.

Cabe explicar se o cheiro é do suor ou das essências com que mulheres 
lavaram os pés do Mestre; ou se tem natureza afrodisíaca (heresia!) ou simplesmente de incenso.

Bem provável que sua criadora propague que o aroma é o que o incauto sinta. Fica melhor para quem engana. E realização/sublimação para o enganado.

Estesia plena!

Mais um capítulo
Nada pior do que perder a confiança. Assim nos sentimos diante do que faz o ministro Joaquim Barbosa. Temos que toda ação por ele promovida tem finalidade específica; assim o foi quando escondeu (sob o pálio do segredo) o inquérito 2474 que inocentava Dirceu e quejandos do crime de corrupção; como na tentativa de ver a decisão dos embargos infringentes ‘negados’ às vésperas do 7 de setembro; ao ressuscitar Martinez; na prisão, sob rojões, da cúpula petista da AP 470 no dia da Proclamação da República etc. etc.

Assim determinar – quase pedindo desculpa, tamanha a demora – a prisão de Roberto Jefferson soa em nós – com essa mania de perseguição joaquina – como mote para não acolher o pedido de prisão domiciliar de José Genoíno.

Talvez estejamos errado. Mas não custa aguardar a próxima semana... ops!, o próximo capítulo.

Respostas I
O ministro Gilmar Mendes – um risco para as instituições democráticas nacionais, como alertava o jurista Dalmo de Abreu Dallari quando foi ele indicado para o cargo por FHC – não deve andar muito feliz. 

Em decorrência de suas declarações de que as contribuições para pagamento de multas de petistas cheiravam à lavagem de dinheiro da corrupção o ânimo e a autoestima da militância voltou ao programa da campanha.

A reação não se bastou nas campanhas em favor de Genoíno, Delúbio e Dirceu, plenas de êxito, mas na indignação de próceres do mundo jurídico, também doadores, que se tornaram – pela fala de Gilmar – em lavadores de dinheiro sujo.

Como resposta à inconsequente declaração estão chovendo interpelações judiciais interpostas contra Sua Excelência, até o presente salvo pela interpretação do ilustre par Luiz Fux.

Respostas II
Por fim a resposta última, também dirigida ao ministro Joaquim Barbosa: a campanha para pagamento da multa de Dirceu já ultrapassara o necessário ao meio-dia deste sábado, quando contabilizadas 3.972 doações que atingiam pouco mais de 920 mil reais, que somadas aos 143 mil restados das campanhas em favor de Genoíno e Delúbio alcançavam 1.083.694,38, suficientes para cobrir a multa 971 mil aplicada e os impostos.

Respostas diretas, como um soco bem desferido. Para Joaquim Barbosa: não conseguiu ‘matar’ José Dirceu. Para o patético Gilmar Mendes, ficar entre dois fogos: a solidariedade dos petistas e a declaração implícita de que houve injustiça no julgamento.

Particularmente receberá os disparos da artilharia das interpelações. Que, se o pretender – basta outra declaração como a anterior – para levar outros 4 mil doadores a interpelá-lo.

A mensagem
Nenhuma dúvida da pretensão oposicionista, em nível de conquistar apoios/recursos para a campanha entre os abonados. PSDB de Aécio Neves e PSB de Eduardo Campos apregoam a ‘necessidade’ de garantir à especulação o tapete vermelho em seu(s) governo(s). Para tanto, o mínimo que anunciam é autonomia para o Banco Central e atrelamento do Real ao dólar, uma espécie de ‘anexo’ da moeda estadunidense (prática de triste memória para a Argentina, que chegou ao extremo da conversão automática pela paridade).

Hoje detendo 75% do PIB mundial (31% a mais que antes de 2008), ainda que depois de uma crise que ainda não terminou, os recursos estéreis do sistema financeiro e dos fundos de pensão anunciam o caos para quem não siga suas orientações ou não atendam aos seus reclamos.

Para não ficar de patinho feio o Governo Brasileiro fez a sua parte: anunciou na quinta 20 um corte de 44 bilhões no orçamento e fixou pelo menos 100 bilhões para pagamento de juros, através do denominado superávit primário de 1,9% do PIB.

Para a turma que não cansa de lutar para que “esta terra cumpra o seu ideal” (dela turma); o de que o Brasil “ainda vai tornar-se um imenso Portugal”, como lembra “Fado Tropical” (Chico Buarque-Ruy Guerra). 

É que não enxergam as lições da Europa-pátria-de-lições-neoliberais.

Contando os poucos dias
Em setembro, quando completa 70 anos, o ex-deputado, ex-governador, ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo encontrará a paz dos ‘justos’, beneficiado pela prescrição dos crimes a que se vê acusado. Muito difícil que haja julgamento até lá. Sem condenação transitada em julgado fica impossível a interrupção da prescrição.

Palmas para Joaquim Barbosa, que comandou o espetáculo de retardar e fatiar o denominado mensalão do PSDB, instaurando o STF de dois pesos e duas medidas.

Tucanos em conflito
José Serra, em teleconferência para consultores financeiros disse não ver ‘descontrole inflacionário e fiscal’, tampouco situação econômica ‘calamitosa’ para o Brasil. Para Serra, ainda que enxergue “uma perda de manobra na área fiscal” do governo federal isso não há descontrole nem risco de calote.

Suas declarações contrariam o presidenciável Aécio Neves. Enquanto Aécio aposta no caos José Serra nega sua existência.

O PAC 2
Vimos o vídeo institucional sobre o PAC 2. Entendemos porque o Jornal Nacional está fiscalizando o estado das estradas que levam aos estádios da Copa; para a Globo – em campanha aberta contra o Governo, travestindo-a de jornalismo – qualquer 100 quilômetros sem asfalto representa muito – se não tudo – diante de milhares de quilômetros asfaltados.

Não tardará entrevistar o frei Capio.

Mas duro mesmo será ver o vídeo retalhado em publicidade através da Globo. Que receberá o dinheiro da publicidade para ‘bater’ em quem paga.

Mas o masoquista Governo Federal gooooosta!

Paranoia I
Vivemos, particularmente, a paranóia que nos embala neste 2014, que começou bem antes do carnaval, diferentemente dos anos anteriores. “Quem tem os olhos fundos começa a chorar mais cedo” – reproduzia Tormeza a sabedoria popular. Sob esse olhar, vemos as ações dos que temem perder as eleições em processo democrático.

Tanto que avançamos! Não sabemos se merecemos os avanços, as conquistas. Ainda que não estejam no patamar ideal. Mas, parece não existirem. Ou o vídeo institucional mente.

Mas a história se repete. Que esperamos o seja como farsa. Concreta como o cinquentenário de existência.

Talvez isso cobre ouvirmos um fado português. Para fazer fundo à melancolia que nos invade.

Para alimentá-la a nova pesquisa Datafolha.

Paranoia II
Este 2014 se afigura emblemático na memória para quem está próximo a sete décadas de existência: 60 anos da morte de Getúlio (para frustrar um golpe), 50 do golpe e 30 das Diretas Já. 

É que vemos sinais não de luta para preservar as instituições democráticas, que bem poderiam ser lembradas pelos 30 anos das Diretas, mas de retomada de atos bem mais próximos de 1954 e 1964.

Verdade serena I
Há uma trova de Adelmar Tavares (1888-1963), que inspira o título e abre o prefácio do livro “Coisas que o povo diz”, de Luiz da Câmara Cascudo (1898-1986): “A verdade popular / Nem sempre ao sábio condiz / Mas há verdade serena / Nas coisas que o povo diz”.

Aflorada – porque tornada pública – a insatisfação de Rosemberg Pinto diante do que entende deslealdade de Geraldo Simões. Alega que costurou apoios para Geraldo em 2010 sem a devida contrapartida e nunca cobrou por isso. E, ferino, afirma não temer o rompimento, que observadores constataram já ter ocorrido. Basta – dizem os observadores – ver o comportamento de Rosemberg em relação a Geraldo durante o encontro do PT me Itabuna, neste sábado.

Verdade serena II
Não sabemos o que GS conquistou depois do pleito de 2010, quando perdeu 14 mil votos em relação aos 89 mil conseguidos em 2006 (12 mil deles em Itabuna e outros 2 no restante do Estado), mas não pode ser descartada a observação de Rosemberg de que lhe “deu votos”.

Basta que se perceba a votação de GS obtida em Ibicaraí, Itororó e Itapetinga – em torno de 15 mil votos – que pode ter salvo a eleição do itabunense em 2010, em muito atribuída à liderança eleitoral de Rosemberg para a transferência de votos.

Parodiando Tavares, em política e eleições nem sempre a verdade convence a quem ela observa, mas não se negue a verdade que nela está escancarada em atitudes de seus atores.

Mesmo horizonte
Alguns entendiam difícil a reeleição de Geraldo Simões em 2014. Pelo desgaste decorrente de sua insistência na candidatura de Juçara a prefeita (2008 e 2012) uma expressão de típica postura dinástica.

A reação de Rosemberg Pinto decorre de outra manifestação dinástica: GS está apoiando o filho Tiago, para deputado estadual, nos mesmos espaços onde foi apoiado por Rosemberg.

Visível que Geraldo reconquistou votos na região. Afinal, tem sido a única voz, por exemplo, a defender os pequenos produtores da região de Buerarema, Una e Ilhéus, buscando uma solução para um conflito onde tem prevalecido a insensatez.

Mas a imagem de que pretende construir uma dinastia sacrifica o que tem conquistado.

GS continua sentado no mesmo banco da praça enxergando o mesmo horizonte, onde só tem familiares e mais ninguém.

Comunicação
Na rede circularam fotos do prefeito Claudevane Leite acompanhado de um vereador. Veiculadas pelo vereador, enalteciam as iniciativas do edil, reconhecidas pelo prefeito, e concretizadas pela administração.

Como as obras são concretas não concreta é a comunicação do governo, que não as torna públicas na dimensão que representam para a imagem do governante.

Não sabemos quem, internamente, controla a comunicação. Ou, em outras palavras, a quem serve a comunicação.

Quando a melodia define
A melodia universaliza a música. Alguém já o afirmou que letra nela é dispensável. Ocorre que o poema traduz o fato melodizado. Muitas vezes não percebido em si.

Como acontece com “Nunca aos Domingos” (Manos Hadjidakis-Steve Bernard), premiada com o Oscar de Melhor Canção Original, tema de um filme de 1960, de igual título na origem (Never on Sunday), dirigido e interpretado por Jules Dassin, destacando no elenco a grega Melina Mercouri, casada com Dassin, premiada no Festival de Cannes como atriz pelo trabalho.

Aqui a versão (de Valéria), interpretada por Edith Veiga, regida por Poly, lado B de um 78 rpm, que lançou Edith com “Faz-me Rir”. A letra traduz a história filmada. Que somente será compreendida assistindo ao filme. Quando a verdade da letra incomodar os mais pudicos prevalecerá a melodia.


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* Coluna publicada aos domingos no www.otrombone.com.br 


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