segunda-feira, 23 de março de 2015

O túnel

E a luz
Vozes múltiplas clamam por uma reforma política que  dentre outros aspectos  altere as atuais regras de financiamento de campanhas políticas. Não há uma só voz que trilhe pela racionalidade  excetuam-se, naturalmente, as que se beneficiam do sistema vigente  que não enxergue no financiamento privado/empresarial a fonte de mazelas por que passamos.

Por muitos fica afastada da análise  quando pautada no imediato  as razões por que tal acontece. Poucos os que olham o processo de formação deste país, nascido já na exploração do que aqui existia. Fossem suas riquezas, fosse a sua gente. Esta, aumentada  para fins de exploração  pela imigração negro-africana para corresponder à mão-de-obra escrava que alimentasse o gáudio da casa-grande, alheia e indiferente aos gritos e gemidos da senzala.

Somente entenderemos o que vivemos se pusermos um olhar no passado. Para entendermos que nossas instituições  que não se fazem da abstração de sua existência, mas daqueles que as compõe  reproduzem indefinidamente a remota realidade. Mudam-se as peças, mas a construção é a mesma.

O ministro Gilmar Mendes  expressão nefanda, por seus princípios e posturas no STF  bem traduz uma peça nesta construção que já ultrapassa 500 anos. Sua Excelência repercute, em razão da posição que ocupa, o significado da inserção de peças (idênticas) no contexto do pensamento secular que norteia o espaço em que vivemos.

Ainda que já vencido em decisão dos pares (6 x 1) não se basta em reter indevidamente um processo  com o fito cristalino de evitar a aplicação do quanto já decidido  e se jacta de arauto para dizer  como o fez em entrevista recente  que aquele tema é de competência do Congresso. 

Justamente o que trata de financiamento de campanhas eleitorais, um dos motivos de grita nacional. De nenhum interesse para quem se utiliza à forra do sistema. Delegá-lo à raposa para legislar em benefício do galinheiro é o que pretende Sua Excelência.

Mas este é o Gilmar de sempre. De atuação insofismavelmente político-partidária – travestida de opinião – quando diz que cabe ao Congresso definir – para ele de forma diversa – o que os pares já decidiram e ele insiste em não respeitar como derrotado.

Na outra ponta, um magistrado se deixa deslumbrar  e o faz ostensivamente  recebendo premiação de uma entidade privada que pode ser alvo de uma apuração à qual caiba a ele (juiz) decidir. O recebimento da premiação  sob holofotes  compromete não só a imagem funcional mas o caráter do julgador, que se vê embevecido com o laurel.

Tudo isso é parte deste Brasil  terra de São Saruê  de cinco séculos de dominação. Em diferentes modos. 

Tempo houve que o domínio das elites exploradoras  nunca tiveram os nativos que a compõe qualquer preocupação com o desenvolvimento do país, e sim com a acumulação (a qualquer custo) de sua riqueza e poder  se bastavam em ter na família um padre e um advogado.

Um para conter o povo através do púlpito com ameaças do inferno para quem não os escutasse; outro, para galgar o poder. Político e judicante.

Por este viés há um túnel diante da presidente Dilma Rousseff. E muita luz adiante dele.

Basta que enxergue quem o ilumina. E a quem deve servir. 

Não é difícil perceber que não mais há padres nas famílias, como antigamente. Mas as peças continuam a ocupar a construção com os mesmos propósitos.


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