terça-feira, 22 de maio de 2012

Comissão da Verdade

Que há a temer?
De artigo publicado por Emiliano José no A TARDE desta segunda 21 destacamos:

"Saindo dos territórios mágicos da sorte e do azar, diria que o assunto da tortura, dos desaparecimentos forçados de pessoas, dos crimes hediondos da ditadura, veio à tona agora com a força que merecia. Por anos, permaneceu como que submerso, condenado à invisibilidade, como se fosse exagero tudo aquilo que os ex-presos políticos, grupos de direitos humanos, partidos políticos de esquerda diziam sobre a natureza cruel e violenta da ditadura. Agora, uma parte da verdade, da hedionda verdade, aparece na voz de um homem da repressão, que rapidamente é acoimado de louco e desequilibrado pelos seus ex-colegas de crime, de banditismo, de atividades sanguinárias. Será fácil examinar a verdade: basta apenas que todos sejam ouvidos pela Comissão Nacional da Verdade que será brevemente instalada.


Uma usina de cana de açúcar, em Campos, no Rio de Janeiro, foi usada para incinerar 11 ex-prisioneiros políticos, todos nominados por Cláudio Guerra – será que isso não nos remete a Auschwitz?.  Um precipício da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, serviu de cova aberta para inúmeros corpos de militantes assassinados pela repressão. Uma casa na Serra de Petrópolis seria cemitério de vários dos adversários da ditadura. Em Minas Gerais, numa mata, Nestor Veras, dirigente comunista, recebeu dois tiros de misericórdia – neste caso, os dois tiros foram dados pelo próprio Cláudio Guerra, que ainda teria ajudado a enterrar ali os corpos de mais dois líderes comunistas. Um cenário de terror – cenário do terrorismo da ditadura.


Já disse: a verdade tem de aparecer, e ela virá, também, pela voz dos próprios torturadores, e está aparecendo. Agora, neste caso, basta que, por exemplo, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o assassino que comandou Operação Bandeirante, em São Paulo, o coronel aviador Juarez e o delegado Aparecido Laertes Calandra, vivos, se disponham a ser acareados com Guerra para que se examine quem está com a verdade. E mais que isso, que outras verdades apareçam. Guerra, aliás, diz que os três participaram do tribunal informal que decretou a morte de outro assassino, o delegado Sérgio Paranhos Fleury, que certamente vivo seria um problema para todos. Pelas condições do Brasil, pela natureza da Comissão Nacional da Verdade, aprovada por unanimidade pelo Congresso Nacional, nenhum desses torturadores será preso.


Mas, é fundamental que se saiba, com nitidez, o que foram capazes de fazer. A mando de uma ditadura que tinha consciência de que a morte era sua parceira, sua base de sustentação. Não é à toa que Geisel disse ao jornalista Élio Gaspari, que seu governo tinha que continuar a matar. Os matadores que estão vivos devem, ao menos, explicações à sociedade brasileira. Depois do relatório da Comissão Nacional da Verdade, a sociedade brasileira deve decidir qual o próximo passo. Agora, queremos só a verdade. Não é pedir muito, é?"


Bem o disse e escreveu Emiliano José. De nossa parte acrescentamos: o que há a temer?


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