domingo, 13 de maio de 2012

DE RODAPÉS E DE ACHADOS- Dia13 de Maio

Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.  

Adylson Machado

                                                                              

Sobre o livro bomba

livro bombaVagueiam no noticiário ilações sobre “Memórias de Uma Guerra Suja” (editora Topbooks), relatos/memórias do ex-delegado capixaba Antônio Cláudio Guerra aos jornalistas Marcelo Neto e Rogério Medeiros.
Duvidam da denúncia de que presos mortos pela tortura tenham sido incinerados na usina em Campos (dentre eles David Capistrano e Ana Rosa Kucinsky), porque a “boca do forno” seria pequena para corpos humanos.
Não bastasse a indefensável atuação (torturar, matar, esconder, incinerar) a defesa da impossibilidade do quanto afirmado pelo ex-delegado pode levar a uma macabra ilação: se incinerados foram no dito forno podem tê-lo sido em pedaços.
Não se imagine que torturadores tenham pruridos no afã de seu desempenho.

Cesteiro que faz um cesto...

A crueza desta consideração encontra em nós apoio ao partirmos de um fato: que circunstância levou o ex-delegado a registrar nas ditas memórias a existência de incineração, inclusive dando nomes de vítimas? Enlouqueceu? Somente arrependeu-se de manter escondido o que assistiu?
A gravidade das denúncias, considerando a “loucura” dos extremistas dentro do regime, encontra amparo em fatos já conhecidos, como a morte de Stuart Angel – amarrado à saída da descarga de um veículo e arrastado pelo pátio do quartel onde fora torturado – ou de Mário Paiva – empalado durante a tortura.
Sem esquecer do projeto de Burnier de explodir o gasômetro da cidade do Rio de Janeiro em 1968 (frustrado pela recusa do capitão Sérgio “Macaco”) para atribuir responsabilidade aos comunistas ou a bomba do Riocentro onde dezenas ou centenas morreriam pisoteados, não fora a Providência Divina tê-la feito explodir no colo de um dos agentes responsáveis pelo atentado.
Parodiando o título do rodapé, quem faz o máximo faz o mínimo, ou vice-versa.

Desmentir ou duvidar não basta

O tema é muito grave para originar denúncias “vazias” como querem fazer crer certas “informações” ou “análises” veiculadas. Melhor apurar que desconsiderar. Afinal, se “Memórias de Uma Guerra Suja” é mentira puna-se o mentiroso. Se verdadeira, total ou parcial, conheça-se a verdade.
Não fora uma solução simples: indiquem, os que o sabem, onde estão os corpos dos desaparecidos. Porque não há como não o estejam. Que o digam os familiares, que ainda buscam pelos seus corpos.

Como sempre

Foi para as calendas a recente pretensão de taxação das grandes fortunas, imaginada através de uma Contribuição Social das Grandes Fortunas (CSGF), cujos recursos seriam destinados exclusivamente para a saúde. Ainda na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara Federal.
Autores da façanha: uma inusitada aliança entre deputados vinculados a CNI e integrantes das bancadas católica e evangélica.
As grandes fortunas continuam imunes. Ou seja, impunes.
Já a classe média... 

Utilidade pública

Com o aproximar dos dias do anunciado fim do mundo com o julgamento da Ação Penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal, que envolve fatos vários e diversos apelidados todos de "mensalão", não custa disponibilizar o que seja disponibilizável, como forma de não ficarmos tão só na dependência do que o noticiário entenda deva ser publicado.

Eis a nossa contribuição: a íntegra do relatório do Ministro Joaquim Barbosa.
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/relatorioMensalao.pdf

Descobrirá o leitor, por exemplo, que não foram encontradas provas com relação a Luiz Gushiken. Apesar de tripudiado por parcela da mídia.

Particularmente vemos nos fatos muito de "caixa 2" de campanhas eleitorais e não compra de votos ou apoios. Tanto que, de início, o Relatório se refere à fonte de tudo: o governo de Azeredo (PSDB), em Minas Gerais, objeto de outro processo, onde tudo começou.

O lugar comum - o "caixa 2" - onde bebem todos os partidos e a quase totalidade dos políticos para suas campanhas, enquanto não houver o financiamento público."

Basta explicar!

O Procurador-Geral da República Roberto Gurgel foge de responder às indagações de haver segurado o inquérito da Operação Vegas. Diz ser coisa da turma do “mensalão”.
Que tivesse razão na sua argumentação (chinfrim, por sinal) caberia pelo menos explicar a razão por que do engavetamento, somente liberado depois das cobranças públicas.

Apodrecido

Os rumores da podridão que alcança os poderes da República causam orgasmos nos que alimentam o golpismo como solução maior. Golpismo que não pode ser compreendido hodiernamente tão só como a derrubada pura e simples do poder legitimamente constituído, como em 1964, mas por sustentar os meios que asseguram às elites, mormente a financeira, o controle do Estado, não mais pelas armas.
Nesta defesa o Quarto Poder – a imprensa – ocupa o espaço, manda e desmanda, incólume. Ainda que assumindo interesses escancaradamente o faz afirmando estar informando quando está catequizando.
A CPI do Cachoeira tem tudo, se o quiser, para averiguar o grau de seriedade dos que publicam “informações” muitas vezes não confirmadas mas que corresponderam às pretensões, como reportagens voltadas apenas para atender interesses do bicheiro e dos comparsas. Dentre eles o senador Demóstenes Torres.

Imagem

A ficamos a imaginar o que pensará o mundo do Brasil, singular país que disponibiliza a polícia, parcela da grande imprensa, a Procuradoria da República e até o Judiciário em desabalada corrida atrás de denúncias originadas de bandidos voltadas para distraírem autoridades de suas próprias atividades, enquanto aqueles ocupam o próprio Estado e mesmo sonham em plantar quadros no Supremo Tribunal Federal como ansiava Cachoeira em relação ao senador Demóstenes Torres, tornado paladino da moralidade pela Veja a pedido do criminoso.

Satanás pregando quaresma

O Globo, em editorial na terça 8, assumiu a defesa de Veja (envolvida até às entranhas com Carlinhos Cachoeira) quando defende a não ida de jornalistas à CPI como forma de reconhecer o valor da fonte de informação. Ou seja, em defesa da fonte tudo vale, aainda que criminosa e para fins nada louváveis.
Quando o crime passa a ser reconhecido como fonte privilegiada então descobrimos que o Quarto poder cai de podre.

Paris

A capital francesa tornou-se sede do cinema brasileiro, que pelo segundo ano consecutivo homenageia Jorge Amado. Nesta 14ª edição do Festival do Cinema Brasileiro de Paris, de 9 a 22 de maio, serão projetados 30 filmes, dentre eles “Capitães de Areia”, de Cecília Amado, que abrirá o Festival.

Carisma à brasileira

carismaHá um temor velado a partir da CPI do Cachoeira. A cachoeira de detritos que alcançará poderes da República, políticos deste Brasil, imprensa deste país varonil.
Fiquemos com a charge de Alpino. E percebamos a nova dimensão semântico-conceitual de carisma.

vejacommedoA sociedade alerta I

Parcela da sociedade busca ver reconhecida a necessidade de uma postura ética por parte da imprensa. Em nenhum momento censura. Mas ter a certeza de que a informação não se sustente em interesses, distorções ou mentiras. Como tem ocorrido com a atuação da revista Veja nos últimos anos.
À guisa de ilustração, alguns exemplos: 1. A “Escola dos Horrores”, de 1994, denunciava a Escola Parque por abusos sexuais de crianças. Denúncias infundadas, nada provado. 2. Os “Tentáculos das FARC no Brasil”, em 2005: afirmativa da revista de que a guerrilha colombiana financiava a campanha de Lula. O MP investigou; nada provado. 3. Assim como “Os dólares cubanos para a campanha de Lula”, também de 2005, matéria de capa até hoje não comprovada. 4. Em “José Dirceu mostra que ainda manda em Brasília”, de 2011, utiliza-se até invasão de domicílio, não fora a tentativa de plantar escutas ilegais. 5. “Parece Milagre” catequiza o leitor a consumir um remédio para emagrecimento que a ANVISA considerava de elevado risco para a saúde da população. 6. Com “Militante do PCdoB acusa Orlando Silva de montar esquema de corrupção” envereda por denunciar sem apresentar provas. 7. “Só nos sobrou o Supremo”: entrevista com o senador Demóstenes Torres, a pedido de Cachoeira, para alimentar a caminhada daquele para o Supremo, desde que “ingressasse no PMDB” como o dizia o próprio contraventor.

A sociedade alerta II

Não nos esqueçamos da morte de PC Farias, em 1996, onde a Veja, com a conivência de Badan Palhares afirmava que PC fora assassinado pela namorada. Uma mentira deslavada, reconhecida pelo STF como crime encomendado.
Sem faltar aquele boi com tomate, nos idos de 1983.
Sensacionalismo, oportunismo, associação com o crime, conspiração contra instituições democráticas e o próprio Estado, favorecimento à organização criminosa, manipulação da opinião pública, campanha eleitoral subliminar, auferimento de vantagens através de acordos clandestinos com organização criminosa, calúnia, injúria e difamação etc., não pode ser defendido como liberdade de expressão.
Através da rede a campanha

Não empolga

O convite do deputado Augusto Castro a Adervan (PSDB) para ser vice na chapa encabeçada por Azevedo é tentativa de conciliação interna e vazia quanto ao resultado.
Se não houver uma hecatombe que leve Renato Costa à possibilidade de competir diretamente com Juçara, Azevedo já o tem como companheiro de chapa. Como a possibilidade de Renato alcançar tal densidade eleitoral está no plano do “maior milagre” na existência da Humanidade a iniciativa do deputado Augusto Castro entra no rol de ação típica de “Cavaleiros de Granada” aqueles que em alta madrugada...
No mais, aguardar junho para conferir.

FICC fiasco

A FICC não se emenda. A gestão da “ex-bailarina”, “poeta”, “pedagoga” e “advogada” aprofunda o desastre da imagem da administração Azevedo (mais uma).
Desta vez o calote na turma que venceu editais e está até hoje sem receber.

Itabuna canta Jorge Amado em Itacaré

evaEm sua 10ª edição a Feira do Livro de Itacaré, realizada na sexta 11, tendo por tema O Brasil tem um grande autor, ele se chama Jorge Amado. A iniciativa da Escola João Gomes de Sá tem atualmente a produtora artística Natália Gomes como uma das responsáveis pelo evento.
A convite lá estiveram os grapiúnas Eva Lima e Ari Rodrigues. (Mais detalhes na matéria original, no Blog da AGRAL).

Tudo em banho-maria

Semana morna para os lados de GS. Perdeu um quadro na Câmara Municipal. Mas respira a aliança do PR com o Governo, a partir da nomeação de César Borges para cargo na área federal. Sonha com aliança PTdoG-PR em Itabuna.
Na outra ponta, espera bombeiro para apagar o incêndio causado com desdobramento da sindicância que, estranhamente, em vez de determinar apuração de irregularidades no órgão e o período em que provavelmente ocorreram, de logo definiu responsabilidade e autoria: Miralva Moitinho. (Comentado em “DIREC-7” no http://adylsonmachado.blogspot.com. de 9 de maio).
Com o currículo recente (demissão de jornalista na BAMIN) fica complicado para GS convencer o cidadão comum de que não tem nada a ver.

Do outro lado do mundo

A rede nos permite descobrir pérolas. Como o trabalho do coral esloveno Perpetuum Jazzile, que cultiva o hábito de interpretar música brasileira. Escolhemos, da apresentação no “2010 Concert in Ljubljana”, na Eslovênia, essa singular “Wave”, de Tom Jobim.
Não fora o excelente arranjo (inclusive sonorizando o movimento de ondas, no início), as vozes afinam-se perfeitas e parecem ter sido ensaiadas e regidas pelo próprio Tom.
Surpreende-nos a perfeita interpretação em português, sem sotaque, no final.


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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e " O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum

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