sexta-feira, 11 de abril de 2014

Perfumaria

Global
Não se negue a capacidade técnica da televisão Globo. Seu padrão é por demais respeitado e tornou-se paradigma para muito do que se faz na telinha brasileira. Seguir-lhe a trilha tornou-se, nesta “terra de São Saruê”, sinal de inteligência de cultura técnico-televisiva. Também não se lhe negue a importação de formatos, em detrimento do desenvolvimento de uma produção autóctone – observada aí no plano de valores tipicamente brasileiros – em muito utilizados desde os primórdios da emissora.

O mal de tenra infância da Globo ocorreu pelo viés de servir ao poder. Nasceu servida pelo Estado para contrapor-se a qualquer outro sistema. Tanto assumiu o compromisso que hoje costuma ser brindada com a nada augusta expressão “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. 

Ultrapassada a fase dos ditos anos de chumbo não se afastou de servir ao poder, como mais dedicação do que Jacó a Labão “pai de Raquel, serrana bela”. No caso da Globo não servia por ela mas ao que através dela pretendia e conseguia. A fortuna dos atuais filhos de Roberto Marinho bem o diz.

Uma ruptura – ou retorno às origens, caso tomemos a vocação atual como aquela que o grupo manifestava antes do golpe civil/militar – retoma a telinha, em dimensão orgástica quando por tema do “J’Acuse” o poder atual. 

A campanha cerrada que vem fazendo ao Governo Federal – naturalmente em sua versão petista – não é criticável por ocorrer, mas por ultrapassar os limites da informação isenta.

Mas, faz parte de sua natureza, adquirida em tempos de chumbo, quando aliada da ditadura militar, à qual ajudou no tempo em que o grupo limitava-se a jornal e rádio, buscando uma estação de TV. Habituou-se a Globo a ser ‘poderosa’, a impor seu ponto de vista, arvorada na capacidade de botar e tirar governantes (clássico caso o de Collor).

Para quem analise as contradições postas em diferentes instantes de noticiário haverá de perceber que a manipulação da informação é flagrante e que nela há objetivo político-eleitoral. 

A utilização do “axioma” ricuperino - através dela vazado em madrugada - o que é ruim deve ser mostrado à exaustão e o que é bom será escondido vai chegando a paroxismos tais – quando os interesses da platinada emergem – como semantizar racionamento no fornecimento de água em São Paulo com rodízio, a mais recente expressão de sua inovação estilística. 

O rodízio é justamente a expressão da materialização do racionamento. Mas não é assim que o Jornal Nacional mostra a realidade.

A edição desta quinta 10 beirou a hilaridade, quando usou como destinatário da panaceia a defesa da incompetência da gestão tucano-paulista no affair reservatório da Cantareira.

A muito bem elaborada edição pautou a ‘maravilha’ de aprender a economizar água, de descobrir vazamentos, de aplaudir a pouca água que chega nas torneiras etc. Uma gente lavando roupa uma vez por semana ‘feliz’ com tudo aquilo. E por aí...

Só faltou aparecer faixa aplaudindo o governador Geraldo Alckmin pelo racionamento – ops!, ‘rodízio’.

E afirmar que a água que sai escassa da torneira é perfumada e milagrosa, razão por que é escassa.


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