quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ainda que seja

Para inglês ver
Anunciada a criação de comissões de sindicância, pelas Forças Armadas, voltadas para investigar a realização de tortura e mortes em instalações militares durante a ditadura. A iniciativa atende solicitação da Comissão Nacional das Verdade a partir de depoimentos prestados à Comissão e que declararam terem sido torturados e saberem de mortes praticadas em quartéis das forças armadas em pelo menos sete instalações localizadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Belo Horizonte. (Agência Brasil).

O prazo de trinta dias para apresentarem resultados nos leva a concluir que dificilmente serão alcançados os objetivos pretendidos: a confirmação materializada de que "graves violações de direitos humanos – em especial tortura e práticas ilícitas que, em muitos casos, redundaram nas mortes das vítimas – ocorreram de forma mais intensa ao longo das décadas de 1960 e 1970” em instalações do próprio Estado, sob responsabilidade de seus agentes.

No entanto, por demais simbólico que tal esteja a ocorrer. Justamente por envolver as próprias Forças Armadas, responsáveis por liderar a iniciativa do golpe civil/militar e que assumiram o poder aniquilando as instituições democráticas então vigentes e instalando uma ditadura militar que durou 21 anos. 

Aprofundada em 1968, com a edição do Ato Institucional n. 5, denominado de "golpe dentro do golpe", a radicalização extrema, quando todos que não rezassem em sua cartilha se tornavam inimigos da Pátria e o regime de exceção sentia-se livre para decidir sobre suas vidas.

O extremo reside justamente no fato de que aqueles que enfrentavam pelo debate de ideias a destituição de João Goulart pelo militares passavam a constituir-se escória do país, ainda que jovens, trabalhadores e intelectuais.

Particularmente duvidamos que os resultados pretendidos venham a ser plenamente alcançados. Mas não deixa de ser uma vitória da democracia. E, provavelmente, o início de uma catarse retarda no curso destes 28 anos de redemocratização.

Ainda que seja para inglês ver, melhor que seja assim!

Destruindo álibis
A justificativa e a desculpa (se o há para tantos absurdos cometidos) residia no fato de que o regime enfrentava resistência armada, sustentada numa guerra interna que precisava ser combatida.

Sabido e consabido que a resistência armada ao golpe decorreu de não mais bastarem ao regime ditatorial implantado as cassações de mandatos de parlamentares democraticamente eleitos e a cassação de seus diretos políticos por dez anos, mas de serem lançados na clandestinidade todos os que pensavam diferente da 'doutrina' do regime, não lhes restando (ainda que não tantos como anunciam ter havido) outro caminho se não a resistência.

Recente levantamento da Comissão Nacional da Verdade demonstra que, somente no Rio de Janeiro, foram identificados "ao menos 371 casos de tortura entre 1964 e 1966, período que antecede, segundo estudiosos, a resistência à ditadura pela luta armada. Segundo o levantamento, feito com base em pedidos de reparação à Secretaria de Direitos Humanos do RJ, os torturados, à época, eram trabalhadores e pessoas ligadas ao movimento sindical, não guerrilheiros. (Do G1)

Vão caindo os muros da mentira - deslavadamente alimentada pelo regime ditatorial e divulgada à saciedade pela imprensa que apoio e legitimou o golpe.

Da essência do golpe - isso o que vai se confirmando a cada dia - a eliminação dos adversários.

"A mentira tem perna curta" - diz a sabedoria popular. Ainda que dure quase três décadas. 

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