segunda-feira, 23 de julho de 2012

A pomba e o porre

Nem Dom Eugênio admitiria
Anunciaram como manifestação divina em torno de um santo que se encontrava velado. Uma pomba - sempre ela, desde Noé - sofre mais uma vez. Nas mãos de uma provável manipulação. Trata-se da que pousou sobre o caixão de Dom Eugênio Salles.

Exibido o fato como um fenômeno da presença de algo extraordinário para traduzir a importância do falecido, a televisão (a Globo, com detalhes) mostrou a "insistência"  da columbídea em buscar o espaço sobre o qual repousava o corpo de Dom Eugênio. Voara da mão de quem a amparara como porto primeiro e a portara até a cerimônia fúnebre para posar ao lado do exemplo de vida que aguardava ser levado à tumba.

Claro que tudo poderia ter ocorrido de forma natural e mesmo uma ave de estimação, criada e educada para conviver com o grande número de pessoas presentes, a ponto de não fugir delas.

Sobre o episódio até um respeitado teólogo e parapsicólogo mineiro, José Reis Chaves, se desincumbiu de ofertar uma explicação "científica" (afinal, os parapsicólogos expõe em torno dos fenômenos espirituais como se o fizessem com regra, compasso e esquadro, para delimitar-lhe uma precisão tal, que só a Ciência se permitiria fazê-lo), saindo-se com a pérola de que "no citado episódio, não é Deus que desceu em forma de pomba, mas um espírito de Deus, falando em nome de Deus".

E, admitindo a "incorporação": "Trata-se da manifestação de um espírito que gosta dele e de suas ideias, e que, por isso, se manifestou daquela forma".

Mas como não falta incrédulo que assuma a responsabilidade e o dever social de combater quem explora a parvoíce humana, alguém resolveu estudar o fenômeno utilizando-se simplesmente da íntegra do vídeo (essa internet torna-se às vezes inconveniente) onde parte fora exibida na televisão para os quatro cantos do universo. E descobre que a pomba não apareceu por lá; fora levada por um funcionário da Cruz Vermelha que, piedoso, procurou o cinegrafista e combina com ele o voo da columbidae.

Em seguida, o que foi editado: ave presa nas mãos lançada sobre o caixão, que estava a um metro (afirma-o o desmistificador). A pomba lá pousou e lá ficou. Corte.

Observa ainda Carlos Newton, em texto publicado no Tribuna da Imprensa on line desta segunda 23, que, não tardou, a pomba voou para o teto da catedral e ficou por lá, parada.

A propósito - aventa Newton e com ele concordamos e acrecentamos -, a pombinha bem podia ter sido levada a comemorar alguma coisa e ficou lesa, como aqueles canários, papagaios, sofrês e cardeais mansinhos apoiados no dedo do vendedor em feira-livre ou beira de estrada e que logo que passava o porre (já no dedo do comprador) davam de reencontrrar a liberdade.

De nossa parte queremos entender que a pomba preferiu a catedral, lugar mais sagrado. Não porque não visse méritos no falecido. Mas não gostou coisíssima nenhuma de vê-lo sob um necrológio que lhe outorgava a "salvação" física de milhares de perseguidos pelas ditaduras latinoamericanas.

Afinal, tinha programa dominical na Globo, escrevia n' O Globo e, para completar, tanto Hildergard Angel como Sebastião Néry testemunharam em texto que Dom Eugênio Salles podia ter todos os méritos, menos aqueles que lhe punham quando não mais podia desmentir.

Ou, ainda especulando, considerando o caráter conservador de Dom Eugênio Salles, não gostou nada daquela ideia que alguém poderia aproveitar: de ser ela, doce pomba, "manifestação de quem gosta" das ideias do falecido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário