segunda-feira, 30 de julho de 2012

Boca no trombone

Do queixar-se ao bispo para o Bispo que se queixa
Célebre a provocação “vá se queixar com o bispo”, quando não havia saída para alguma coisa entre os que discutiam ou desapareciam os argumentos de um deles.

Presente no imaginário do povo, de tempos imemoriais, a expressão encontra apoio no tempo em que a Igreja Católica exercia tão profunda influência no poder do Estado que a intervenção de um prelado, ainda que não tivesse força de lei, quando nada fazia corar de vergonha os governantes.

Em tempos mais pretéritos os Tribunais Eclesiásticos conviveram concorrentemente, em certas searas, com os Tribunais estatais durante parte da Idade Média e o Absolutismo Monárquico até mesmo encontrou uma teoria para legitimar o monarca a partir da intervenção divina, sustentada por Jacques Du Bossuet, que afirmava ser o rei um representante de Deus na terra, razão por que da interferência e poder exercido pelos Richelieu da vida, exemplo clássico de representação d’ Aquele por essas bandas.  

O Estado laicisou-se, separou-se da Igreja, tornando-se oficialmente neutro em relação às questões religiosas e, para uma definição mais precisa, não prega nenhuma religião, destinando ao cidadão a plena liberdade de livre escolha da fé religiosa.

O prelado perdeu, assim, aquela força institucional de ser uma peça dentro da organização política (ainda que não correspondesse a um caráter administrativo), quando sua força moral, do alto do púlpito, curvava o poder temporal aos ditames do espiritual, do qual era o representante na terra.

No Brasil, a partir da Constituição Republicana de 1891 o Estado “separou-se” da Igreja, circunstância que se repete em todas as Cartas que lhe sucederam.

No entanto, o exercício da crítica cidadã não ficou alheia a representantes do Clero, ainda que correntes conservadoras da Igreja entendam não caber a qualquer deles dirigi-las ao poder temporal constituído.

Exemplo desta postura crítico-cidadã ocorreu a partir do púlpito da Catedral de São José, no último 28 de julho, durante a missa solene pela passagem dos 102 anos de emancipação política de Itabuna. O Bispo Dom Ceslau Stanula não suportou a inércia do governador Jacques Wagner na busca de uma solução para a greve dos professores da rede estadual e desancou Sua Excelência.

O mesmo Dom Ceslau, não nos esqueçamos, também desancara, ano passado, do mesmo púlpito, o poder público municipal cobrando mais eficácia na atuação em relação à saúde, fazendo-o na presença do próprio prefeito.

Os tempos mudaram, amado leitor. É o que podemos concluir. Antes, mandava-se o insatisfeito “queixar-se ao bispo”; hoje, quem se queixa é o Bispo.

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