terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Efeito viral

Antídoto
Os denominados rolezinhos começam a chamar a atenção de observadores e estudiosos. Para estes não se trata de um fenômeno de desajustamento de parcela da sociedade, como querem alguns que pretendem sua criminalização. 

Neles está presente - afirmam muitos - a força da comunicação da rede, que multiplica o chamamento. A ferramenta utilizada, portanto, torna-se mais preciosa que a razão em si para o observador. Não que a "razão" não contenha importância. Afinal, ela (a razão) está a constituir a repercussão de um outro fenômeno: a descoberta da luta, desprovida de conteúdo ideológico, por participação e igualdade de acesso.

A propósito da vertente aqui abordada, lembramos de uma festa de 15 anos programada em uma cidade de interior provinciano, de menos de duas dezenas de milhares de habitantes. O universo de convidados não ultrapassava 300. Quase mil 'convidados' compareceram. Não fora a precaução do promovente teria passado vergonha.

O que aconteceu na festinha da província está a acontecer nos denominados rolezinhos. A diferença de convocação difere para a sua multiplicação participativa: na cidadezinha o denominado "convite de orelha'; para os shoppings a rede social.

Alguns denominam o processo de 'efeito viral', metáfora para permitir a compreensão de como se espalha/multiplica a convocação, como fora de um vírus em determinado corpo físico vital.

A compreensão desta dimensão comunicativa - pela extensão que em si encerram as redes sociais - pode reduzir a conceituação criminalizadora de que há pré-elaborada convocação, organizada para fins definidos, com o fito de ocupar espaços discriminativos em plano de participação social.

Não há que ser negado que ocorre - assim pensamos - uma confluência entre sociedade de consumo em sua dimensão de consumismo (como extremo, de natureza patológica, compreendido como o consumo do supérfluo e do dispensável) e a busca pelo espaço onde ofertado, propagandizado e propagado. Propagandizado - porque a propaganda é o seu alimento - propagado - porque a rede se incumbe de convocar um outro grupo (não)destinatário do quanto disponibilizado em espaços tais (shoppings).

Está a ocorrer - outra visão pessoal, passível de contradição - uma reação químico-física para conformação de um 'universo'. Prótons, elétrons e neutros perdidos em sua gênese começam a confluir para a constituição de futuros organismos.

Estamos diante da saída de um funil que a sociedade de consumo desenvolveu e que começa a produzir desdobramentos. A propaganda e os meios de realizá-la - em suas várias dimensões, como rádio, televisão, revistas etc. - destinada a motivar e convocar consumidores em potencial encontra destinatários alijados de um sistema antes discriminador pela força do poder aquisitivo (shoppings) que passam a exercer o direito de 'conhecer' ditos espaços. 

Convocados pelas redes sociais. Que já se apresentam como vetores de vírus e seus efeitos multiplicadores.

No entanto, não há, neste instante, procedimentos químico/normativos para conter a expansão.

Quem sabe? mais igualdade, melhor distribuição da riqueza. Talvez o único antídoto capaz de conter o espanto ora causado. Que está em poder de quem não pretende (nunca pretendeu) socializá-lo.


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