terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O sistema

Presente
Este 2014 não é um ano qualquer. Muitos estarão voltados para dois eventos que nele se destacarão: a realização da Copa do Mundo (64 anos depois da primeira – bem provavelmente a última no continente sulamericano, como já o sinalizou a própria FIFA) e as eleições presidenciais, que podem alimentar mais quatro anos para o PT e sua gestão de centro-esquerda no Brasil.

A Copa é criatura do Governo do PT, que incomoda com a possibilidade concreta de permanecer no poder. Aí reside o conflito: sucesso para a Copa representa propaganda indireta para o Governo (leia-se, PT). Então, os que lhe fazem oposição ficam contra a Copa, não importa o que traga ela de vantagem para o Brasil. É a luta e o embate político eleitoral que estão em jogo. Em ringue de vale-tudo.

Não nos devemos pautar, no entanto, tão somente nos dois eventos. Mas tomar outros dois a serem lembrados neste mesmo ano e que, de uma forma ou de outra, apresentam lições para o observador em relação aos vários elementos que se interligam e se fazem presentes em todos.

Para que o leitor possa melhor entender o raciocínio, partamos para os dois outros fatos históricos de significação a que nos referimos acima, que devem ser lembrados este ano, especialmente por suas contradições e íntimas relações: a campanha das “Diretas Já”, em 1984 e o golpe de 1964. Separados por exatos 20 anos. 

Um para ser lembrado com alegria, por ter sido o móvel do processo da retomada da Democracia no país, completando trinta anos; outro, para não ser esquecido, já que o esquecimento sobre as razões que o levaram a ocorrer não podem escorrer para o limbo; mesmo porque ainda se fazem presentes, por outros meios, neste mesmo ano eleitoral, ainda que vetusto em suas bodas de ouro.

As eleições deste ano, por exemplo, trazem projetos antagônicos no âmbito de anseios políticos: as forças que enfrentam o poder instituído trabalham da mesma forma como trabalharam as que levaram ao golpe. Em 1964 um governo que buscava implementar reformas ‘de base’ e políticas públicas de caráter nacionalista e distributivista – reformas agrária e educacional, tributação sobre a riqueza etc. – foi destituído pelos ideais conservadores, que alimentaram e beberam não na vontade popular, mas na manipulação da informação e na distorção dos fatos acontecidos, parte deles custeada e promovida pelo reacionarismo, como meio de gerar o caos social, como hoje acontece através de manifestações de classe média alta nos mesmos moldes das ‘marchas’ da família com Deus pela liberdade e pela democracia naquele fatídico ano para a contemporaneidade brasileira.

Alguns movimentos ou mobilizações hoje correntes movem-se no mesmo ideário – se assim podemos chamá-lo – que norteou a atuação de elites em 1964: frustrar políticas que alcançam camadas mais miseráveis da sociedade. Em 1964, ainda em projeto; em 2014, já implantadas e em curso de aperfeiçoamento.

Hoje, como ontem
A presença de veículos de comunicação em um e outro merece consideração especial, porque a atuação permanece. Estiveram ao lado do golpe militar e, caso consigam o que insinuam, não seriam contrários a outro, desde que lhes fosse – e aos que defendem – assegurados o controle e a hegemonia político-administrativa.

Não se diga que contra a Copa do Mundo não está sendo desenvolvida uma campanha solerte, de conteúdo político-eleitoral para gerar factóides a serem utilizados na presidencial. Tal campanha encontra nos meios de comunicação um baluarte especial: a TV Globo.

(A propósito da Globo, a Polícia Federal finalmente instaurou inquérito para apurar o crimes fiscais e financeiros cometidos em 2002 e que hoje representam mais de 1 bilhão de reais de sonegação fiscal).

Não passa por nós apenas insinuar que tanto no golpe militar como na campanha das “Diretas Já” o sistema Globo atuou exemplarmente. Com o golpe ganhou o sistema de televisão, com o qual ignorou a campanha pela aprovação da emenda Dante de Oliveira.

Hoje, em relação à Copa do Mundo – ainda que detenha os direitos de transmissão – faz dela mote para campanha contra o Governo. Tornou-se lugar comum em sua programação jornalística o “imagine na Copa” para anunciar um caos que só ela enxerga.

Não à toa torna-se lugar comum palavras de ordem em manifestações, como “a verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”.

Difícil será, para a maioria da população, compreender que o sistema – ontem e hoje – continua presente para derrubar o que seja melhor para o povo. 

Objeto, objetivo e meios são os mesmos.


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