sábado, 19 de julho de 2014

Permanecemos

No front
Há dúvida em nós, desde sempre, em relação à segurança da urna eletrônica brasileira, alardeada como concentração das virtudes teologais. Máquina inventada pela ciência humana em torno dela impôs-se a infalibilidade e perfeição no plano axiomático: ainda que não provada o é por si mesma, por existir, por que assim o dizem.

Neste plano, como objeto de crítica, nega o primeiro axioma cartesiano ("Penso, logo existo") porque 'pensar/duvidar' em torno da urna eletrônica e a dimensão de sagrado em que se sustenta está fora de cogitação.

Nenhum país que adotou a votação e apuração eletrônicas repete a 'experiência' brasileira. Alhures se aplica o princípio elementar de duvidar do resultado e como boa prática democrática é possível conferir o resultado. Há casos – como expressão de lisura –, como na Venezuela, onde o resultado é avaliado por amostragem (conferido mesmo) sem que haja qualquer provocação ou requerimento para tal.

A última tentativa de viabilizar a recontagem - que exige o voto impresso para conferência – o foi por iniciativa do senador Roberto Requião. Os pares negaram aprovação.

Considerando 'mistérios' que ocorrem neste país, onde os que detêm o controle de alguma coisa sempre dele se utilizam em benefício próprio, de sempre estranhamos a defesa intransigente que a Justiça Eleitoral faz do processo eletrônico por ela implantado, que fere o elementar direito de dúvida e de requerer a recontagem de votos. 

E nos vem novamente a dúvida diante da última pesquisa Datafolha (que avaliaremos em alguns de seus aspectos no "DE RODAPÉS E DE ACHADOS" deste final de semana).

Antes, a propósito da dúvida, para demonstrar que não estamos isolado em tal idiossincrasia, a íntegra de texto de Luiz Cordioli, na Tribuna da Imprensa on line (incluindo a nota de redação do blog Tribuna) a mais recente manifestação em torno do tema que já foi bem mais aprofundado (e comprovada a razão da dúvida) em outros instantes do jornalismo pátrio.


POR QUE NENHUM PAÍS IMPORTANTE USA A URNA ELETRÔNICA?


Luiz Cordioli
É minha visão que que esta eleição continuada de corruptos se deva tão somente à qualidade de nossas babaqueadas urnas eletrônicas inverificáveis e sem voto impresso. Ninguém pode conferir o que elas totalizam.
A eleição é o que está na lista impressa, talvez muitos dias antes da própria eleição.
Eleição eletrônica com nossas urnas é apenas um algoritmo matemático. E só os seus “donos” têm acesso a ele.
Para elegerem um determinado candidato, não precisam alterar a totalidade dos votos.
Basta alterarem um pouco dos votos de algum (ou de todos) para a conta dele, que ele vence. Aí, às 17 horas, tiram-se as totalizações já alteradas e desligam-se as máquinas.
Simples assim, nesta fase e possibilidade. Existem outras, mais sofisticadas.
E as pessoas se surpreendem por que tantos votaram num candidato tão corrupto e ele se elegeu… Discussão para muitos meses, quantos quiserem. Sem saída. Não houve votação nele, mas ele se elegeu. Com votos eletrônicos, só isto.
Quem poderá recontar, conferir e discutir o resultado impresso? Ninguém, forever.
Está na Lei que se possa recontar os votos. Só que na prática, na realidade da própria urna, a recontagem está proibida, com outras palavras e fatos: pode recontar, sim, só não temos o quê, porque a urna foi desligada, e é só eletrônica, não existe voto impresso…
É muito fácil, mesmo. O corrupto se elege… mas com votos só eletrônicos.
Repito, acredite quem quiser. Quem não quiser, continue reclamando dos brasileiros que não sabem votar…
Quem faz o que faz, na cara de todos, e nada lhe ocorre, o que não fará por baixo dos panos? É muita ingenuidade, gente! Estamos procurando há muito tempo, mas não se encontraram santos, por enquanto. E a coisa é feia, especialmente onde não se vê.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Já está mais do que provado que as urnas eletrônicas não são confiáveis. Brizola costumava pedir que houvesse uma lista impressa dos votos, mas ninguém tomou providências. Há alguns anos, quando a Seaerj (Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro) era presidida por Eduardo Konig, houve um importantíssimo debate sobre a urna eletrônica, com participação de um hacker, que inclusive mostrou como conseguiu entrar no sistema da Justiça eleitoral para alterar a votação. Ninguém tomou providências. A Universidade de Brasília também mostrou publicamente como adulterar a votação da urna eletrônica. Ninguém tomou providências. E por que nenhum país aceita usar a urna eletrônica, uma espécie de jabuticaba eleitoral que só existe no Brasil? (C.N.)

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