domingo, 7 de julho de 2013

Alguns destaques

DE RODAPÉS E DE ACHADOS *

Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode dizer tudo e ir um pouco além

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Cavalo de Troia
Há declarações de membros do Governo Federal que não se coadunam com suas obrigações e deveres institucionais. E pior ficam quando se utilizam do inimigo para criticar iniciativas que brotam da casa que os alimenta.

Somente assim podemos entender um Ministro das Comunicações de um governo que precisa corresponder à grita das ruas falando em “páginas amarelas” sobre a inconveniência de uma lei de meios.

Não bastasse o Governo custear para que falem mal do que faz. Não que “falar mal” seja inconveniente (caso ocorresse sob o viés da crítica positiva) mas justamente por exercitar escancarada campanha contra, de natureza política para fins eleitorais.

Fechando o cerco
No nó górdio em que vão fechando as propostas da Presidente Dilma Roussef para corresponder à grita das ruas – destacamos um plebiscito voltado para avaliar a possibilidade de convocação de uma Assembleia Constituinte específica para a reforma política, ora lançada às profundezas – vão se destacando os conflitos que pareciam não existir no limiar de sua gestão, decantada pela ampla base de sustentação no Congresso, onde dispunha em números, de mais de 60% da base parlamentar.

Esquecido, na oportunidade, foi avaliar a credibilidade desta base. Ou seja, se estava a favor do Brasil ou da manutenção de interesses particulares, os próprios ou dos grupos que alimentam o caixa 2 que os elege.

O desencanto vai se aprofundando – ainda que defendamos mais o que aí está, pela transparência, do que o que esteve, pela obscuridade – não por vermos as forças obscuras de sempre no papel que lhe é histórico de trabalhar em defesa dos privilégios de uma elite em detrimento do povo, que existe apenas para sustentá-la.

A ruptura construída, a partir da eleição de Lula, que não podia acontecer nos moldes da Revolução Francesa – não só por faltar iluminados (referência ao Iluminismo) à burguesia local, mas pela inoportunidade histórica – cadenciada na elaboração de passos para alimentar o imaginário de nossa gente a partir da compreensão do que representam(vam) políticas sociais concretas, transitando por distribuição de renda, busca de pleno emprego etc., começa a ser solapada sob o álibi de que a governante atual tem um governo atabalhoado, o que refletiria incompetência na condução do país.

Aquela base já não é tão ou nada coesa com os propósitos da governança. E parte dela luta de corpo aberto contra o Governo, ainda que pendurado nele: de parcela do PT, que anuncia Lula como solução, ao PMDB de emérito caráter fisiologista, passando por penduricalhos partidários que começam a se imaginar representação quantitativa sem quantidade.

Competentes, no entanto, no quesito coagir o Governo, vão fechando o cerco, como jiboia em torno da presa.

Confundir para explicar
Isso porque o torpedeamento que vem sofrendo a proposta de uma Constituinte exclusiva para a reforma político-eleitoral (necessária pela falta de interesse e credibilidade da classe política que aí está no conceito do próprio povo) mais alimenta a contra-revolução ocorrida no seio do processo revolucionário da França do final do século XVIII quando a nobreza incrustada na alta burguesia retomou o controle da situação, vitoriosa em seus propósitos, mal saída a França dos cueiros do 14 de julho de 1789. Afinal, em 1795 o Diretório traduzia o retorno ao estado de coisas de antes, apenas substituída a monarquia absoluta porque incompetente o foi Luis XVI para mantê-la sob a égide constitucional, como assegurado pela Constituição de 1791.

Ninguém pode entender que Constituinte para corresponder a uma finalidade específica ocorra só em instantes de ruptura institucional. Ou que conflite com uma Constituição em vigor. Os que vêem nela um golpe executam o verdadeiro golpe: ir contra os anseios populares.

O processo de elaboração da atual Carta Magna, por exemplo, em nenhum instante pode ser reconhecido como originado do povo, uma vez que resultou da transformação de um congresso em Poder Constituinte. As circunstâncias que envolviam a época toleravam.

O momento histórico demonstra exigir o aperfeiçoamento das instituições. E se todo o poder emana do povo, afastá-lo de manifestar-se sobre a conveniência ou não de uma Constituinte específica, é negar a premissa de sua existência como fonte do poder.

No mais, é confundir para explicar. Se não explicando para confundir. Coisa assim como as elites, em 1984, trabalhando contra a campanha das Diretas Já! A balbúrdia que constroem é tal que só falta haver defesa de democracia sem povo.

Ou declará-lo ilegal, como observou Henfil à época.

E la nave va
Os gastos em lojas de pequenos animais – que nossa síndrome de vira-latas nos deixa inflados de orgulho em chamá-las pelo original em inglês, petshop – no Brasil superam o PIB do Haiti. Ouvimos na chamada do programa Infiltrado.

Viva!

Fugindo da cruz
O financiamento público certamente é o mais inconveniente dos temas levantados pela Presidente Dilma Rousseff ao encaminhar proposta de convocação de um plebiscito. Incomoda os que defendem com unhas e dentes o atual modelo de financiamento privado, alimentador de caixa 2, o grande negócio para a perpetuação de uma classe política oligarquizada.

Do financiamento público a classe política foge, como o Diabo da cruz.

Para ver e lembrar
Disponibilizamos o link http://www.youtube.com/watch?v=nPGcQM5nb8M para o leitor reencontrar uma época, em que o cineasta francês Pierre Barouh gravou “Saravah”, documentário de 1969, envolvendo, de forma despretenciosa de técnicas de cinema – além do compromisso com o resgate – expressões de gerações distintas como Pinxinguinha e João da Baiana ao lado de Baden Powell (em tessitura vocal joãogilbertiana) em conversas livres e descompromissadas, no limite dos registros pretendidos.

Na celulose Márcia, Maria Bethânia, Paulinho da Viola, Raul de Barros. Todos novinhos, descontraídos, fumando desbragadamente e regados à cerveja.
Aos 41:30 minutos Bethânia se acompanha em “Pra dizer adeus” (Edu Lobo-Torquato Neto).

Na Segunda Parte, destaque para Walter Sales Júnior, acompanhando Barouh, em 1996, para encontro com Adão Xalebarada, no morro do Cantagalo. Sivuca e Bia presentes no final, transitando por A Noite de Meu Bem (Dolores Duran) vertida para o francês pelo próprio Barouh (também autor da versão de Samba da Bênção (Baden-Vinicius), que estourou em 1966 na França.

Dois Brasis para ver e ouvir. A música como contraponto de uma cidade/sociedade que mudou. Expressados pela mesma influência negra, discutindo o samba entre João da Baiana e Bob Marley. De um Brasil à mesa de bares ao do estúdio. Reconhecido lá fora.

Brasil, Terra de Contrastes
Com esse título, publicado em 1957, o sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974) – andante por este país, onde integrou a missão de mestres europeus na criação da USP – procura um ponto de convergência para a compreensão do Brasil sob os vários contrastes que nele subsistem (geográficos, econômicos, sociais, étnicos, religiosos) em fase de mesclagem. A visão do europeu diante de um país continental, no entanto, não se basta, tantas as contradições presentes, aprofundadas na contemporaneidade.

Paulo Henrique Amorim teria sido condenado à prisão por crime de injúria praticado contra Heraldo Pereira. Ainda que solucionada a demanda em sede cível o Ministério Público agiu em defesa da sociedade (afinal, crime de racismo ou coisa tal espera ação do Estado) encontrando célere resposta judicial.

Independente das razões de fundo ficamos a observar quão contrastante são certas instituições deste país. No particular, o exposto Ministério Público. Se louvável ver alguém condenado (afinal, para isso a instituição existe), ainda que por haver o jornalista apenas criticado a postura editorial de Pereira, deixa-nos a dúvida do porquê com uns e não também com outros.

Apenas para ilustrar: o jornalismo aliado a bicheiros, criando fatos a partir de grampos ilegais; todos livres e faceiros. Ainda que diante do Ministério Público provas da existência de crime que dispensa representação.

Não bastasse a extensa lista disponível, onde o Ministério Público está diante do pedido de abertura dos procedimentos necessários contra a Globo de Pereira por sonegar mais de 600 milhões de reais em valores de 2006?

Não queremos crer que à espera de uma oportunidade de aparecer na telinha!

Tais contrastes não teve oportunidade de observá-los Roger Bastide.

De cacau e de cultura
A decadência do cacau, como alardeada, é a decadência de uma casta que esbanjou os resultados proporcionados pelos frutos de ouro de áurea era em tempos não tão distantes cronologicamente e infinito na representação ostensiva.

Construiu-se, como nos primórdios, a expressão física da ostentação. Em Itabuna, não é o Góes Calmon o reflexo do idealismo de um Mário Padre mas o destino da grandeza em novos e modernos castelos para a época. Alguns de reconhecido valor estético-arquitetônico, amparados em nomes de reconhecimento internacional.

Dentre os que assinaram projetos Oscar Niemayer e Lúcio Costa. Pouco sabemos do que deixaram. A sede da fazenda Santo Antônio, de Gileno Amado, projeto de Niemayer foi ao chão para nada. Em Itabuna, projeto de Lúcio Costa já não foi à rés do chão porque o Ministério Público teria intervido com vistas a tombá-lo – o que nos informam. Caso contrário já seria um espigão destes que alimentam o não-eu.

Enquanto isso os responsáveis pela cultura itabunense preocupam-se com o social. Como se cultura não fizesse parte da construção do homem.

Comovido agradecimento
De um instante para outro a voz das ruas, assumida pela Presidente Dilma quando propôs um plebiscito para ouvir a população sobre a conveniência de uma Constituinte exclusive para a reforma política, começa a ser tachada de precipitada. Caberia ao Congresso a iniciativa de tal desiderato etc. etc.

Em andamento, ninguém duvide, o enterro da vontade popular. A Presidente já recuou, quando desistiu da convocação de uma Constituinte.

A classe política agradece.

Humberto Barreto I
Idealista comprometido com o que faz, o médico Humberto Barreto, recentemente defenestrado da administração municipal por exigência do Secretário de Saúde, em entrevista concedida ao Itabuna Notícias de 28 de junho afirma haver confrontado “o projeto do secretário e do seu partido” (dele secretário).

Afirmou o entrevistado que Itabuna ainda não está preparada para reassumir o comando único da saúde, por não haver correspondido a mudanças nas metas em relação à dengue, à atenção básica, tendo havido melhora (ainda que não suficiente a alimentar a reassunção) nos quesitos Hospital de Base e Regulação, sem falar na incógnita que envolve administração e prestadores de serviço.

Mais disse, sobre a relação município/secretaria de saúde e prestadores de serviço: “...infelizmente eu não tenho como avaliar, porque é uma caixa preta. Aliás, essa foi  uma das coisas que logo revelaram minha incompatibilidade com o secretário. Ele tinha à frente do departamento administrativo financeiro uma pessoa da própria família, o cunhado... este setor administrativo financeiro, infelizmente, para nós é uma caixa preta. A gente não sabe realmente o que acontece ali”.

Fecha o pano. Cabe apenas a interpretação do dito por Barreto.

Humberto Barreto II
O “partido” do secretário é o PCdoB. O secretário tem um cunhado na administração financeira. Não há transparência de dados.

Incompatibilidade entre o que pensa Humberto Barreto (experimentado sanitarista e gestor público) e o PCdoB para a área da saúde. A incompatibilidade reside na administração dos recursos financeiros e no projeto de administração da saúde em si.

Itabuna terá um acréscimo de 110 milhões de reais anuais com a reassunção da plena. Administrados em dimensão familiar, sem transparência.

Davidson Magalhães é candidato a deputado federal. Precisa de recursos para custear a campanha. Afinal, placas de propaganda da Bahiagás têm repercussão limitada como força de propaganda eleitoral.

Fica difícil explicar que não haja possibilidade da existência de caixa 2 alimentado de algum lugar.

Para contrariar o raciocínio só resta abrir as contas da saúde. Escancaradamente.

Afinal, à mulher de césar não basta ser honesta, precisa parecer honesta.

Na moita
Caladas estão as empresas. Evitam polemizar em torno da discussão da tarifa, quando o assunto tenha de envolvê-las diretamente. Contarão, como sempre, com a anuência da classe política. Que fará de tudo para não perder uma fonte de caixa 2.

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* Coluna do Autor publicada em www.otrombone.com.br nos fins de semana 

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