Ao lugar nenhum
A expressão não pode ser tributada a ele. Mas ainda a lembramos por causa dele: o irreverente Manuel Leal, criticando o viaduto então posto a andar pela administração Fernando Gomes em seu segundo mandato, mais precisamente entre janeiro/89-dezembro/92, dizia ser uma obra que levava o nada ao lugar nenhum. Afinal, razão tinha Leal; apenas não percebia a visionária obra de Fernando para valorizar as terras que ele e os amigos possuíam ou passariam a possuir no "lugar nenhum".
Certamente Manuel Leal diria algo semelhante diante da solução final encaminhada pela Presidente Dilma Rousseff ao Congresso nesta terça 2 envolvendo a convocação de um plebiscito para a reforma político-eleitoral.
No arremedo encaminhado vislumbra-se de imediato a renúncia da Presidente ao pretendido pelas ruas, visto que não busca um plebiscito para ouvir o povo sobre a conveniência ou não de convocação de uma Assembleia Constituinte específica para corresponder à grita popular no que diz respeito à política (classe política, processo eleitoral e mesmo administração das casas legislativas).
Vemos, com pesar, que a Presidente da República perdeu o bonde que passou apinhado de apelo popular e jogou pela janela uma oportunidade histórica que não mais recuperará: a de ser a estadista brasileira que traduziu os apelos de rua e os fez introduzir na Lei Maior. Que não perca o bonde da reeleição, que - reconhecemos - pode ser ocupado por outros caminhos.
Da empolgação que aqui registramos a partir do pronunciamento da Presidente Dilma Rousseff quando dizia pretender tal convocação através da oitiva popular fica-nos uma frustração infinita, de quem via um horizonte e hoje vê um precipício.
Afinal, deixar a cargo do Congresso a definição em torno do que o povo entenda como necessário rever ou instituir leva-nos à certeza de que estamos saindo do nada para lugar nenhum - como lembrou Manuel Leal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário