Nas falas de Francisco
Inegavelmente o papa Francisco surpreendeu. Mais por corresponder às expectativas dos que esperavam ouvir uma Igreja que esquecera de dizer as lições a que está obrigada a lecionar, todas elas pautadas a partir da mensagem de Cristo.
Ainda que veículos de comunicação tenham "editado" a dimensão política do discurso papal - por confundi-lo, em seu maniqueísmo, com a política partidária a que estão acostumados a defender - a dimensão filosófica da expressão esteve presente em todos os momentos em que se manifestou.
Menos espiritual e mais material, assim podemos dizer, afastou-se da vocação à conversão espiritual pela comiseração e pobreza e criticou um sistema que prioriza o dinheiro e os bens materiais em detrimento do bem estar de todos.
Afastou das ambições individuais, individualistas e concentradoras de riqueza, a possibilidade da construção de um mundo mais igualitário para remeter ao estado laico a responsabilidade por conduzir tal processo. Afinal, como não poderia ser compreendido de outra forma, ao Poder instituído tal responsabilidade pesa sobre os ombros como dever.
A dimensão teológica não se fez presente como sonhavam muitos que o escutaram. A defesa da luta por melhores condições, dentro dos postulados democráticos, sinalizaram a recomposição de valores do cristianismo sob a leitura da Teologia da Libertação, a que encontra no povo, em cada dos seus miseráveis e oprimidos o semblante de Cristo chamando à conversão como exemplo de existir.
Dirão os que controlam a informação que o papa Francisco rezou e convocou para a reflexão pura e simplesmente. Mas quem o ouviu - e o escutou - pode afirmar que o Santo Padre cá esteve e fez política. A boa política.
Para quem não o ouviu ou não leu a íntegra de seus pronunciamentos tire suas conclusões a partir de trecho de sua fala na comunidade de Varginha:
"Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para
integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e
necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de
pacificação será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade
que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma
sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de
essencial para si mesma. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de
compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se
multiplica! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta
trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua
pobreza!"
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