segunda-feira, 12 de março de 2012

Tempos modernos

Conto de fadas contemporâneo

A realeza britânica alimenta o turismo pátrio espalhando mundo a fora alguns dos pares para manter viva a manufatura moderna – o turismo – menos dispendioso que os antigos galeões e piratas vários que contribuíam para manter o mundo sob domínio da coroa de um “império onde o sol não se punha”. Dos jovens filhos da princesa Diana ao feioso Charles (aquele que preferiu a fera à bela). Saem em missões humanitárias ou voltadas para plantar interesses, como o faz o do “tampax” periodicamente no Amazonas.

A passagem recente do Harry pelo Brasil fez debruçar parcela significativa de adolescentes femininas no batente da janela/televisão para suspirar. No imaginário os contos de fadas ainda se fazem presentes nos sonhos. No fundo o renegado casamento para muitos, em tempos “de ficar”, ainda se mantém na crista da onda. Para quem duvidar indague a razão por que de alguns aquinhoados gastarem milhares de reais com vestidos de noiva, festas de solteiro e de casamento. Até a Igreja Católica, em algumas paróquias, estabeleceu critérios singulares que ajudam a alimentar a nova indústria.

Nos veio à mente Clara, parte desse universo. Sonhava casar-se no civil e no padre, com direito a violinos executando a marcha nupcial na entrada e a “Serenata” de Schubert na saída, jogando buquê para as amigas e brindada com alguns quilos de grãos de arroz.

Fora preparada para o casamento à antiga, aprendendo até a coser e cozinhar, ainda que tivesse que estudar, porque os tempos são outros e quem não tem diploma não vai a lugar nenhum. Lia clássicos e dispunha de respeitável repertório de música, do popular ao erudito. Achava as festinhas chatas com essa coisa de sertanejo universitário e quejandos. Mas, para dançar, aprendera que mais interessava o ritmo e menos a melodia. E, afinal, seus humores não podiam interferir no alheio nem impedi-la de viver.

Concluiu o curso universitário e logo encontrou ocupação no mercado de trabalho. Outros cinco anos haviam passado e o sonho adolescente persistia. Com a estabilidade financeira faltava-lhe apenas o príncipe – ainda que sem castelo – que ajudasse a trilharem juntos o caminho do futuro.

E tudo aconteceu. Numa tarde, percebeu o rapaz que a olhava com regular insistência há dias, procurando um jeito de sempre estar perto dela. Não tardou a devolver olhares. Descobriu-o com todas as virtudes. Trabalhador, honesto, preocupado em constituir uma família estável etc.

Namoraram, como todo mundo. As famílias vendo no par uma realização privilegiada. Encontravam-se sempre que podiam, comedidos diante da labuta de cada um. Almoços alternados com familiares aos domingos. Quem os via percebia-os apaixonados.

Programaram férias nos respectivos empregos a um só tempo e casaram-se dois anos depois, cerimônia realizada com pompa e circunstância (a famosa marcha de Edward Helgar pelos violinos, dando ares de realeza ao instante), com direito a lua-de-mel.

O caro leitor, ainda vivendo no tempo da fantasia, pergunta se viveram felizes para sempre. Não. Divorciaram-se há pouco. Sem filhos. Passados quatorzes meses ela descobriu que o consorte bebia e jogava.

No entanto tudo isso ainda dava para suportar – confessou a uma amiga – porque passível de tratamento. Mas se isso não era o pior o que a fez tomar a medida extrema?

A princesa não suportou descobrir um príncipe viciado em BBB.
                                                         

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