sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Difícil

Fazer entender
Temos acompanhado os fatos no curso dos processos eleitorais. Neste 2014 repetem-se. Especialmente no quesito manipulação.

O mais triste é o papel  concreto e nada dissimulado  da Polícia Federal e do Poder Judiciário quando vazam depoimentos selecionados para a seletiva atuação do noticiário da mídia, com destaque para a televisão, jornais e revistas, em pleno período eleitoral. (O depoimento de José Serra a PF, sobre o escândalo e propinoduto de trens e metrô de São Paulo foi marcado para 'depois das eleições')

Em determinado instante chegamos a imaginar que tal procedimento não produziria resultados, especialmente junto a pessoas esclarecidas. Esta a decepção: as pessoas esclarecidas não são tão 'esclarecidas' como imaginávamos.

Mas, o que se há de fazer?

Não vimos o Jornal Nacional desta quinta. Mas encontramos a melhor resenha dele no Viomundo (www.viomundo.com.br):

"JORNAL NACIONAL: SÓ VÔLEI E THE VOICE SEPARAM ESCÂNDALO DA PROPAGANDA ELEITORAL DO PT; “VANTAGEM NUMÉRICA” É EMPATE


por Luiz Carlos Azenha


E a tão falada “vantagem numérica” de Aécio Neves sobre Dilma Rousseff, segundo o Jornal Nacional — que trombeteou assim o resultado — se resume a dois míseros pontos percentuais, dentro da margem de erro.


No Datafolha, em votos válidos, 51% a 49%. No Ibope, 51% a 49%.


Já a soma dos que consideram o governo Dilma ótimo, bom ou regular, é de 72% no Ibope e de 77% no Datafolha.

...

Chamou a atenção, hoje, a paginação do Jornal Nacional, ou seja, a sequência das notícias determinadas pelos editores.


Para quem não tem intimidade com televisão, os telejornais seguem o que é chamado, no jargão dos telejornalistas, de “espelho”.


O espelho, ou seja, a sequência de notícias, é determinada pelos chefes. Por gente graúda. Eles é que escolhem a notícia supostamente “mais importante” do dia.


Eles é que determinam o que virá primeiro, no momento de maior audiência do telejornal.


Eles é que determinam o que será falado com destaque, naquele pingue-pongue entre os apresentadores, na abertura do telejornal: as manchetes ditas com grande ênfase pelo William Bonner e a Patrícia Poeta.


Pois bem, como começou o Jornal Nacional de hoje?


Abertura acusando sem provas três partidos de terem recebido propina em esquema montado na Petrobras: PT, PP e PMDB, com direito a sílabas vagarosamente pronunciadas por William Bonner.


Em seguida, as pesquisas registrando “vantagem numérica” de Aécio Neves.


Depois, 10 minutos e 8 segundos dedicados à denúncia de véspera de eleição.


Independentemente das denúncias serem verdadeiras ou falsas — qualquer pessoa pode dizer o que bem entender ao Ministério Público Federal –, os depoimentos “coincidentemente” foram marcados para esta quarta-feira e as gravações vazaram… para o Jornal Nacional de quinta, data do início da propaganda eleitoral do segundo turno na TV.


Como me disse um advogado esta tarde, é a desmoralização da “delação premiada”, usada para fins eleitorais.

...

Desta vez, curiosamente, o resultado das pesquisas e a longa reportagem sobre as denúncias do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef foram seguidas… pela propaganda eleitoral do PT.


O Jornal Nacional sabia, com certeza, que logo depois da longa denúncia, viria a propaganda de Dilma.


Sabe o que separou a denúncia da Petrobras da propaganda eleitoral do PT?


Uma notícia sobre um campeonato de vôlei e um anúncio do programa global The Voice.


Como se vê, foi tudo muito bem arquitetado no Jardim Botânico.


Ah, sim, a pesquisa propagandeada pelo 247 (Aécio 54% x Dilma 46%), que saiu primeiro no site da revista Época, das Organizações Globo, foi reproduzida no programa eleitoral de Aécio Neves.


Outra coincidência.


Entenderam?"


Entender, Azenha, entendemos. Difícil é fazer entender. Mas, estamos aprendendo. 

Melhor retomar leituras, que parcela considerável de esclarecidos não faz. Como a de "Desenvolvimento e Subdesenvolvimento" (1961), de Celso Furtado.

Para sedimentarmos a certeza de que este país e sua burguesia (elite e classe média alta, dita intelectualizada) continuam os mesmos que sustentaram o estudo de Furtado.

Não mudou o ethos que norteou a tese que defendeu Celso: ela (a elite e a burguesia, esta em sua dimensão pequeno burguesa) se assenta na cultura do subdesenvolvimento econômico de nossa gente para que exista.

Inclusive como "esclarecida".

Então fica fácil explicar.

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