sábado, 24 de agosto de 2013

Seis décadas

Em conteúdo e forma
Nesta "terra de São Saruê" falta-nos o fundamental: poder dominar a memória. Difícil fazê-lo. Não dispomos do compromisso de que a educação seja, antes de tudo, um instrumento que nos conduza à leitura como hábito saudável e enriquecedor, tampouco que os denominados meios de comunicação cumpram com o papel de mais informar e menos manipular.

No que diga respeito à imprensa, em cada instante, ou em cada época, os fatos ocorreram e ocorrem, repetindo-se quando têm por escopo atingir governos e ideias, quando em jogo a ideologia que alimenta o topo da pirâmide. O que não muda é o centro do ataque: a possibilidade de alguém pretender melhorar o país. Se tal não ocorre sob auspícios da elite a iniciativa está fadada a ser alvo para experimentação pura e simples da arte de atirar. Coisa assim, como malhação de Judas.

Hoje poucos lembrarão que se trata de 24 de agosto. Apenas mais um dia do calendário, um 24 de agosto que se repete a cada ano. No entanto, há 59 anos um presidente da república dava um tiro no peito para não ser apeado do poder. O gesto extremo salvou, naquele imediato, as propostas nacionalistas que trazia em seus projetos de governo.

Duvidarão muitos leitores que haja uma relação entre uma data e outra, no limiar de quase seis décadas. Ilação ou vertigem deste escriba em ver coisas que talvez não estejam a acontecer - complementarão outros. 

Mas a campanha a que se lança a imprensa brasileira em relação a um simples julgamento que tramita no Supremo Tribunal Federal - alçado a "maior escândalo do país - bem dá a conta de como os fatos se assemelham.

No passado, Getúlio Vargas se tornava alvo por tudo que ocorresse à sua volta pelo sonho nacionalista que encetava; no presente, afastada a circunstância de dirigir o Governo um partido de origem na classe trabalhadora (ainda que tergiverse em relação a muitos dos princípios que nortearam a sua criação) a efetiva melhoria de camadas da população em razão de programas sociais sem que às elites seja tributada qualquer participação idealística fazem unir os mesmos de hoje aos mesmos de ontem.

Apenas para ilustrar, Getúlio era chamado de "comunista" pela Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda; e de "entreguista", pela Voz Operária, "voz" do Partido Comunista". Mal começava o velório no Catete ambas as redações haviam sido empasteladas pelo povo, como também depredada a sede da rádio O Globo.

Entre o incidente da rua Toneleros e o caixa 2 do PT a diferença reside apenas na natureza de cada um deles. Em termos de objetivo midiático são um só.

Falta-nos compreender a razão por que de as coisas acontecerem. Muitas se repetindo ao seu modo. Que seis décadas as torna únicas, em conteúdo e forma.

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