domingo, 15 de abril de 2012

DE RODAPÉS E DE ACHADOS Em: 15 de Abril de 2012

Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.  
Adylson Machado

                                                                              

Da ficção à realidade

Os fatos adiante registrados podem ser inscritos dentre típicos “dramas virtuais”, tratando-se de uma sociedade que encontra na tecnologia, em suas múltiplas vertentes, a fonte de singulares valores.
“Em 2005, o jogador chinês Qiu Chengwei matou um colega do jogo The Legendo of Mir 3 por vender (no eBay) uma rara espada virtual que lhe havia emprestado”. É o que lemos na janela “Pagando por pixels”, do encarte do The Economist “O mundo todo é um jogo”, da Carta Capital, na edição 677.
A matéria trata dos rumos alcançados pelo mundo virtual onde ocorrem negócios como a transação que “permite que os jogadores deem um valor no mundo real para seus itens nos jogos... Alguns jogadores vendem itens cobiçados para outros jogadores por dinheiro real”, tema já explorado por Julien Dibbell em Play Money (2006).
É provável que além do valor real atribuído por Chengwei à sua espada virtual nela também estivesse um significativo valor sentimental.
Certo é que do mundo virtual Chengwei partiu para o mundo real, onde cumpre pena de prisão perpétua.   

Dor de cotovelo contemporânea

Aqui em Itabuna Grazielle, amiga de Yan, neto primogênito, com ele falava do que acontecera com um amigo. Fora presenteado pela namorada com uma destas inovações, um chip ultra moderno, para seu celular.
Mas – assim o disse Grazielle – foi traído pela namorada. Que, não bastando trocá-lo por outro sem prévio aviso, lhe pediu de volta o alentado chip. O amigo estava não só magoado, mas simplesmente arrasado.
Nestes tempos de outros valores, ou de refazimento de valores, a dor de cotovelo não o era porque ela o abandonara, mas porque exigira o chip de volta.
De fazer Lupicínio tremer na cova.

Márcio Thomaz Bastos

sinopeHá dias anunciada a assunção por Márcio Thomaz Bastos da defesa de Carlinhos Cachoeira. (O Estado de São Paulo, de sexta 6). Chegam a falar num contrato de 18 milhões de reais. Não o vimos. No entanto é fato. O Estadão, em matéria de Mariângela Galluci, afirma que Bastos protocolou pedido de habeas corpus para Carlinhos Cachoeira no STJ, na segunda 9. (Negada a concessão de liminar pelo Ministro Gilson Dipp na quinta 12).
Um homem de poucos escrúpulos defendido por um ex-Ministro da Justiça. Surrealismo à brasileira.
A moeda, como valor, não deve ser a orientação de um homem, mas a virtude – propagava Diógenes (404 ou 412-323 a.C.) em tempos idos.
Reconheçamos que o grego de Sínope não sabia o que representava 18 milhões. Tampouco o ex-ministro é Alexandre, o Grande.

Decreto moral

Não se trata no caso de uma atitude como a de Sobral Pinto, católico praticante e anticomunista convicto, que assumiu a defesa de Luiz Carlos Prestes por suas convicções de advogado e mesmo chegou a se utilizar da lei de Proteção aos Animais quando se esgotavam os fundamentos jurídicos amparados no direito natural, primado da Civilização, como argumento contra o Estado que torturava o seu cliente.
No caso sob vertente, não se pretende negar ao criminoso Carlinhos Cachoeira o direito a defender-se. Mas, o pouco que esperávamos, cabia a Márcio Thomas Bastos – que ocupou o Ministério da Justiça – ser mais seletivo na escolha de seus clientes. Afinal, para o ex-ministro dinheiro não seria o problema – imaginamos.
Caso fôssemos o ex-presidente Lula redigiríamos um “decreto moral” exonerando-o, ou tornando sem efeito a sua nomeação para o Ministério da Justiça.

Revista bandida

vejaNão há credibilidade, tampouco legitimidade na revista Veja para investir contra a instalação de CPI para apurar as intervenções de Cachoeira no mundo da política, de governos e dos negócios, inclusive escusos, buscando vinculá-la (a CPI) a uma tentativa de melar julgamento do caixa 2, alcunhado de “mensalão”.
Está chafurdada até às vísceras no escândalo, uma vez que beneficiária direta, através do tal Policarpo, da sucursal de Brasília, em escutas ilegais para alimentar matérias sensacionalistas. Dentre elas aquele famoso “grampo sem áudio” de um telefonema entre o senador Demóstenes Torres e o ministro Gilmar Mendes, do STF.
O próprio Carlinhos Cachoeira jacta-se de que as matérias que repercutiram no noticiário nestes últimos anos foram fruto da atuação de sua quadrilha. Como “o hábito faz o monge”, a prática indecorosa chegou a fazer com que um repórter da Veja invadisse o apartamento de José Dirceu, em Brasília, o que demonstra a desfaçatez da semanal.
No fundo, tenta enterrar a CPI. Na defensiva ataca: mensalão neles! Ainda que tema requentado, sob apreciação do STF.

Espaço no banco dos réus

Está a revista envolvida em ações espúrias, como aproveitar-se de agentes de Carlinhos incrustados na máquina pública para gerar matérias que chegaram a desaguar em suborno para atender interesses da revista, alcançando benesses em bancos públicos, para não se falar da estranha compra de milhões de exemplares da Veja pelo governo de São Paulo, sem licitação.
Tenta enterrar a CPI. Atacar para defender, desviando a opinião pública do que se espera apurado pela CPI. Que se realmente buscar limpar a sujeira, alcançará, certamente, a Veja e a Editora Abril, que tenta a manobra de assumir o comando da investigação quando, no fundo, é também investigada.
O que esperamos das apurações, se acontecerem a contento, é que não falte espaço no banco dos réus para a revista Veja e a Editora Abril.

Anencefalia

Com a decisão do STF admitindo a possibilidade de abortamento em casos de anencefalia e da iniciativa do Conselho Federal de Medicina de desenvolver métodos seguros de diagnóstico seria interessante desenvolver um método de avaliação de outro tipo de anencefalia: a política.
Na anamnése perguntas tipo se o paciente assiste o BBB ou que revista semanal lê seriam de grande utilidade.

Mudando rumos

A Presidente Dilma olhou no fundo dos olhos de Obama e cobrou “respeito aos contratos”, lembrando que os EEUU sempre assim fizeram com relação ao Brasil. Defendia a venda de tucanos da Embraer, cancelada por iniciativa do Congresso estadunidense. “Como podemos fazer acordo na área de Defesa se o Congresso americano não respeita contratos?” afirmam os que assistiram a prosa entre os dois na Casa Branca, como revelado pelo Estadão, em matéria de V. Rosa com colaboração de D. C. Marin, como veiculou o Luis Nassif Online deste sábado 14. 
Que continue assim!

É também deles

pingaA cachaça, a famosa branquinha que já se torna arco-íris (tudo deve ter começado com aquela “azulzinha” produzida pros lados de Coaraci nos anos 60), recebe o selo de reconhecimento nos Estados Unidos. Vitória do Governo Dilma, dirão os defensores da mais autêntica e brasílica destilada, que consegue, de início, a proeza de fazer com que nossa pinga deixe de ser por lá alcunhada de rum.
Aguarda-se o reconhecimento interno e que venha a ser servida nos rega-bofes do Itamaraty.

Rotos e esfarrapados

PSD e DEM. Fundidos. Não se duvide da força numérica da bancada que adviria da união. Próxima a do PT.
Mas pode representar aquele famoso abraço de afogados: só um escapa, quando não morrem os dois.

bessinhaMais se espera I

Louvável a iniciativa da OAB local, com direito a foto, de buscar junto ao Ministério Público intervenção para coibir propaganda eleitoral antecipada. No entanto, vemos um lugar comum, a considerar que atitudes inconvenientes de candidatos em geral serão objeto de denúncia com vistas a inviabilizar candidaturas na oportunidade em que pretendam registro para habilitar-se ao crivo do eleitor, se o interessado pretender exercer o direito subjetivo de fazê-lo, nele se incluindo o Ministério Público como custos legis.
Para a instituição, com nossos botões dialogamos, esperamos mais afinco por aquilo que mais diretamente está vinculado a OAB: a defesa do advogado e da advocacia.

Mais se espera II

Dizia-nos um causídico, que buscou conversar com um magistrado local da Justiça Federal, na defesa dos interesses do cliente, recebendo a resposta, através de um servidor, de que ele (o magistrado) não conversava com advogado. Este, que peticionasse.
Bons tempos em que o advogado era respeitado, valorizado sem texto constitucional, não era impedido de ter acesso aos autos, era recebido pelos juízes.
E não precisava ser avaliado por um Exame de Ordem. Que o torna distinto e desigual para a definição constitucional de que “todos são iguais perante a lei”, uma vez que todos os graduados são iguais perante a lei, exceto os que cursarem Direito.

Todos iguais

Em época de campanha eleitoral o discurso que o PT dispunha em Itabuna, de que a administração Azevedo (DEM) não cumpria o piso nacional do magistério, foi sacrificado com a greve dos professores do Estado administrado por Wagner (PT).
Partindo do fato de que todos são iguais perante a lei, DEM e PT estão iguais perante a greve.

Hummm!

Não fosse o contexto em que posta, a fala de Rui Carvalho a “O Tabuleiro” – radiofônico comandado por Vila Nova, na Conquista FM, em Ilhéus – mais apropriada estaria para o divã psicanalista: “A gente não pode ir por interesse e sim por amor. Todo casamento tem que ter tesão”.
Coisa assim de dor de marido traído sem possibilidade de retorno ao lar que abandonou, tipo “arrependido quer voltar”, “ruim com..., pior sem...”.
Certo que estamos em novos tempos para a política. Mas... a linguagem e o vocabulário!

Não deixa a cena

Geraldo Simões continua no olho do furacão. As dificuldades políticas estão a lhe chegar por vertentes as mais diversas e impensáveis no passado. Destaque-se a falta de crédito na cidade. Pelo menos no setor gráfico. Ninguém admite realizar um serviço para GS se o dinheiro não for pago adiantadamente.
Nem fotógrafo está admitindo fiar quatrocentos dinheiros para GS. Sem dindim adiantado não tem fotografia.

Informativo

Aguardam a circulação de um informativo ou outro título que lhe deem. Para louvar a importância do PTdoG na eleição local.
Circulará assim que o dinheiro chegar... Para pagar a impressão.

Difusora ainda é notícia

Não diremos que seja responsabilidade direta de Geraldo Simões, mas tem gente diretamente vinculada ao negócio que fez cair a emissora no colo de GS que não anda nada satisfeita com o deputado.
Lamenta-se o indigitado haver lutado com unhas e dentes para que o negócio fosse realizado entre Fernando e Geraldo (ops! amigo de...), chegando a inviabilizar a pretensão de um empresário local e a de pessoas vinculadas ao governo Azevedo, a fim de que fosse selado o pactuado com o petista, tudo assegurado graças à sua intervenção.
Andou paparicado e ciceroneado em Luzimares. Hoje amarga o desengano. Descobriu que Geraldo Simões deu de não cumprir a palavra dada.
Esqueceu o coitado de exigir que o prometido o fosse por escrito, com firma reconhecida... Afinal, Geraldo Simões não usa bigode!

Caminhos ásperos

Não trataremos do clássico faroeste, dirigido por John Farrow em 1953. Não há tambores apaches. Mas o périplo por que tem de passar a candidatura do PTdoG, selada neste instante em torno de Juçara, que não assegura nenhum “caminho de Compostela”.
Vazam por aí que fonte estranha ao universo local mandou levantar o cenário eleitoral em Itabuna sob o plano de uma ópera. Lá está Juçara e seus 32 fiéis amigos, acompanhada por Azevedo, com 26 vassalos e Vane cavalgando 12 potros.
Como nos contaram existir uns 35 desconhecidos a fugir de todos, pode haver ator demais para tão pouca cena.

Lembrança

Paulo Sarraceni (1933-2012) morreu neste sábado 14. Dos mais respeitados cineastas brasileiros, ao lado de Glauber, Ruy Guerra, Nélson Pereira dos Santos, Alex Viany, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues, Roberto Farias, dentre outros, iniciou o movimento “Cinema Novo”. Glauber declara ser de Sarraceni a frase a ele atribuída, de que se faz cinema “Com uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”.
Desde o documentário “Arraial do Cabo” (1959) até “Banda de Ipanema” (2001) – uma homenagem a Albino Pinheiro – Sarraceno trilhou pela reformulação conceitual do cinema brasileiro, a partir da realidade pátria (Arraial do Cabo é típica premonição em relação aos problemas modernamente contemplados como preocupação pelos danos causados ao meio ambiente na relação progresso-natureza, que Eliane Caffé retoma poeticamente em “Narradores de Javé”, em 2003).
Destacamos aqui, no espaço para música, uma cena de “O desafio”, de 1965 (filme que lida com os impasses da esquerda brasileira, derrotada em 1964), onde Sarraceni utiliza parte do Show Opinião (direção de Augusto Boal, com textos de Ferreira Gullar, Paulo Pontes, Oduvaldo Viana Filho e Armando Costa), dele destacando o instante em que Maria Bethânia interpreta “Carcará” (João do Vale-José Cândido).


Cantinho do ABC da Noite

cabocoOutro destes sábados para os “paroquianos” do ABC. Conversa vai, conversa vem. Sai um, entra outro. Batida saltando do frízer para o bucho da moçada, até que o valor de chás, como medicamento, dominou o espaço. Citado um tipo, outro e mais outro. Não tardou alguém definir:
– Lá em casa não falta capim-santo.
– Dez anos desse chá, Cabôco, garante lugar no Paraíso – não perdeu o mote o filósofo do Beco do Fuxico. – Basta comunicar ao Papa e você terá a canonização garantida.

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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e " O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum

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