domingo, 3 de março de 2013

Antecipando destaques

DE RODAPÉS E DE ACHADOS

Quando o tema se esgora em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além
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Olhai, região cacaueira!
Lemos (Agência Brasil) que Dilma Rousseff (Brasil), Evo Morales (Bolívia) e Olanta Humalla (Peru) se reunirão no dia 5 de abril em San José dos Chiquitos, no estado boliviano de Santa Cruz, para inauguração do corredor rodoviário interoceânico que unirá o Atlântico ao Pacífico passando pela Bolívia, com 2.700 quilômetros de extensão (1.561 estão em território da Bolívia, 947 em solo brasileiro e 192 em área do Chile).

Não pretendemos aqui nos debruçar sobre o significado de tal corredor para a integração latino-americana, com destaque para a Bolívia – que passa a ter uma saída terrestre para o mar, ainda que não em território próprio, sonho negado pelo Chile que lhe tomou o acesso à costa (guerra do Pacífico, entre 1879 e 1881), ainda que parte do trajeto ocupe território chileno.

No entanto, cumpre-nos registrar que tende a idêntico percurso de integração uma ferrovia que interligue os dois oceanos, abrindo espaço para a redução de custos na oferta, por exemplo, de produtos brasileiros para a Ásia. E dentro de tal projeto está o futuro porto de Ilhéus.

Que alguns não querem que exista. Agravado inclusive pela má vontade do governo da Bahia, a considerar-se a denúncia de Ed Ferreira em seu Photossíntese, ainda que simples pressão (se tudo não fizer parte da “guerra dos portos” – ler “Experiência”).

Edital
O DNIT lançou na segunda 25 edital de licitação para estudos ambientais da obra de duplicação da BR-101 na Bahia, pelo sistema de Regime Diferenciado de Contratações – RDC Eletrônico (site do Dnit), o primeiro eletrônico realizado por ele e tido como facilitador da competitividade, o que faz aumentar a participação de empresas na concorrência.

O perigo reside – pelos exemplos que pululam – na respostas dos estudos ambientais.

Que em tempos pretéritos não teve ação para impedir a perda de 40% da Mata Atlântica, mas que, para preservar alguns metros no curso da duplicação, não terá pejos em negar o ansiado.

E, em instantes não tão pretéritos, aceitou o eucalipto como redenção regional para atender a uma multinacional.

Experiência
A revista Carta Capital nº 737, no bojo da matéria “A abertura dos portos enfrenta o obscurantismo”, na seção Seu País, registra o expressado pelo “Ex-presidente da Companhia Docas da Bahia e membro da comissão que examinará a MP, o deputado Geraldo Simões”, para quem a iniciativa do Governo Federal “legaliza os ilegais e bota da ilegalidade contratos que por lei o governo já deveria ter adequado”.

Menos nos atemos aqui ao fato trazido a lume pela Medida Provisória que desencadeia a “guerra dos portos”, onde – como em toda guerra – defrontam-se interesses poderosos a envolver bilhões de reais. Basta, para entender a dimensão do tema, dizer que Daniel Dantas, de nebulosas iniciativas, está envolvido e é tido como incentivador de paralisações que se voltam para pressionar o Governo Federal e o Congresso a fim de que seus interesses no porto de Santos e em outros dois sejam mantidos, os quais, certamente, fazem parte dos “contratos que por lei o governo já deveria ter adequado”, como afirma Geraldo Simões.

Mas, aqui destacamos a presença de Geraldo Simões – não só por ter sido ouvido pela revista – pelo fato de que foi certamente quando presidente da Companhia das Docas da Bahia que descobriu caminhos das pedras a ponto de levar ACM e César Borges, então senadores, a se alternarem diariamente na tribuna do Senado para bater no conterrâneo.

Tudo por causa de um porto privado em Aratu, pretendido pelos interesses de ACM e César Borges, que Geraldo teria desviado para uma multinacional.

Construindo feudos
Não será surpresa para este escriba – considerando informações que lhe chegam e vão sendo reunidas conclusivamente – que uma emissora AM Itabuna venha a sair da posse dos atuais proprietários nos próximos meses.
Tudo passa por acertos entre as partes, já entabulados, envolvendo antigos contratos inadimplidos.

As dificuldades financeiras e técnicas por que passa a emissora podem levar a uma possível negociação, que se encontra intermediada por quem se diz interessado e que pode ser testa de ferro de um político regional.

Que já seria proprietário de outra emissora na região. E que não se bastará com apenas mais uma aquisição.

Batalha I
Os produtores queimarão sacos de cacau, anunciam os que integram a classe produtivo-cacaueira da região, como reação para chamar a atenção das autoridades competentes diante da invasão de cacau africano em prejuízo dos estoques acumulados da sofrida produção regional.

Hoje a pressão para reduzir os preços no eixo Itabuna-Ilhéus não mais ocorre tão somente a partir da Bolsa de Nova York, tampouco dos métodos dos exportadores locais, como ilustrado por Jorge Amado em “São Jorge dos Ilhéus”. Não mais o jogo em torno do “excesso” exportável como objeto de ação, mas o de importação.

O método leva ao estrangulamento do produtor, impedido de comercializar a sua produção, sacrificado diante da importação desnecessária, uma vez que – ainda que não correspondendo aos áureos tempos que antecederam à vassoura-de-bruxa – a demanda interna (sob o controle do complexo empresário/moageiro/produtor) não absorve a produção, que é mantida em estoque, de forma planejada, para gerar pura e simplesmente a redução do valor da arroba paga ao cacauicultor.

Na ausência de uma política governamental que o olhe com a dignidade, a proposta de Geraldo Simões de que o cacau seja incluído na Política de Garantia de Preços Mínimos soa alvissareira, cabendo apenas esperar o que entendem governo e produtores como “preço mínimo”.

Em defesa do enfrentamento, destaque para o empresário Helenilson Chaves, capitão-mor do capitalismo regional.

Batalhas II
A batalha anunciada nos remete a olhar os métodos que os tempos exigem. E a conversão dos praticantes ao que antes condenaram (pelo menos muitos deles). Queimar pneus e o mais que seja mais estava para – nestes tempos em que os movimentos sociais clássicos são criminalizados – bagunceiros e quejandos que alimentam os MSTs (Movimento dos Sem Terra e Movimentos dos Sem Teto etc.), criminosos e vadios em busca da desestabilização do Estado de Direito e das virtudes da democracia liberal, violadores das virtudes da propriedade etc. etc.

Ao que parece a turma do andar de cima da região começa a perceber – como já o fizera o cafeicultor nos anos 30 – que o método se apresenta viável.

No entanto, um ou outro – diante das dificuldades pessoais enfrentadas – pode entender constituir-se um luxo a queima de amêndoas do theobroma e queimar pneus de verdade.

Helenilson Chaves, voz respeitada, observa no curso da peroração feita circular na sexta 1º, “que a manifestação contra a importação de cacau pode sinalizar um novo paradigma...”, o que podemos entender como reconhecimento também ao método para chamar a atenção. Afinal, assim inicia o texto “União pelo cacau”, que nos chega através da rede: “É com satisfação que vemos a iniciativa dos produtores de cacau do Sul da Bahia de promover manifestação contra a importação de cacau”.

Considerando os atores no palco da batalha ficamos a imaginar Helenilson Chaves queimando pneus para protestar.

O mores o tempores, sentenciava Cícero para os romanos.

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DE RODAPÉS E DE ACHADOS é uma coluna do autor publicada semanalmente em www.otrombone.com.br

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