domingo, 10 de março de 2013

DE RODAPÉS E DE ACHADOS Dia 10 de março de 2013


DE RODAPÉS E DE ACHADOS

AdylsonQuando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.  

Adylson Machado

Conclave

Anunciado para início na terça 12. Resumem vaticanistas a possibilidade de o brasileiro Dom Odilo Scherer estar entre os preferidos da Cúria. Sua candidatura estaria impulsionada pelo próprio cardeal-camerlengo, Tarciso Bertone, que presidirá o processo de eleição. Segundo correspondentes da Folha de São Paulo, para o veterano vaticanista do jornal L’Expresso, Sandro Magister, o brasileiro é o “candidato perfeito” dos “poderosos da Cúria” por ser “dócil e insípido”. Para John Thavis – outro vaticanista – haveria um “consenso crescente” em favor de Dom Odilo, porque seria um “papa brasileiro descendente de alemães”. Ainda outro, o italiano, Antonino D’Anna, o tem como “mais perto do coração de Bertone”.
Não sabemos se tudo isso se apresenta como campanha em favor do brasileiro, ou desvio de atenção para alguém de absoluta confiança da Cúria. Italiano, de preferência.
A bolsa de apostas já pagou 12 para cada euro ou dólar apostado em Dom Odilo. Hoje está em 3. Em nível de apostas é o favorito.
Pela bolsa tudo bem, mas pela Cúria! Aí é onde reside o perigo!

Papável

A turma da gozação, no entanto, tem o candidato ideal.

serra papavel

Dia Internacional da mulher

Nunca se esqueçam das cerca de 130 operárias mortas na fábrica de tecidos em Nova York, em 1857, quando protestavam por melhores condições de trabalho. Uma das propostas era a redução da jornada de trabalho das dezesseis horas então vigente.
Uma greve num domingo justificou para as autoridades a chacina.
Foram trancadas dentro da fábrica, onde protestavam, a que atearam fogo.

Ainda que haja estereótipos

cortrjo chavezNão há registros de textos de Hugo Chávez, além dos discursos, delineando suas ideias, convicções e projetos para a Venezuela. Mais se encontram difundidas as “convicções” que lhe são contrárias onde algumas constituem-se típicos estereótipos da oposição venezuelana feitos difundir como dogma de fé.
A redução da desigualdade social – a menor da América Latina – certamente nos permite compreender a peregrinação ao velório do comandante da revolução bolivariana.

Blefe

O governador Sérgio Cabral anuncia, com todo o estardalhaço de que dispõe, que não pagará dívidas do estado do Rio de Janeiro diante da derrubada, pelo Congresso, do veto presidencial à lei dos royalties do petróleo. O que inclui as do pessoal que cuida do Maracanã.
Pagamos para ver!

Leitura recomendada

No affair conceitual, simbolicamente configurado, envolvendo economistas de várias escolas, preferimos aceitar o condão progressista/desenvolvimentista, para não nos envolvermos com firulas da Ciência “menor”, pura e simplesmente: partindo da premissa de que sendo o Homem o destinatário do progresso científico difícil é entender que haja miséria presente na quase totalidade percentual da população mundial em benefício da insignificância beneficiada (em nível percentual, naturalmente).
No jogo de gato e rato em busca de maior participação para ampliar a concentração da riqueza temos nos defrontado com textos que tentam explicar a resistência de parcela significativa do empresariado nacional em investir, ainda que o Governo venha demonstrando o asseguramento de inúmeras das garantias pretendidas, que vão desde o respeito aos contratos à abertura dos cofres estatais, passando por abrir os ansiados serviços ainda sob controle do Estado à iniciativa privada e à desoneração/redução de impostos para incentivar a produção, não fora aumento do percentual de ganho.
Sob este viés, didaticamente aceitável a argumentação de Luiz Gonzaga Beluzzo em “Os desafios da indústria brasileira”, na edição 738 de Carta Capital. Como contraponto perfeito, e lúcido, para entender o jogo do sistema que já controlou e pretende continuar controlando a “economia” nacional, o autor envereda por avaliar a geoeconomia mundial a partir da expansão sino-asiática (materializada nestes últimos vinte anos fase de maior visibilidade) pondo em evidência as relações produtividade/salário e salário/câmbio.
Leitura obrigatória para quem pretenda entender a postura atual da indústria brasileira (sob égide da iniciativa privada). Acostumada às benesses do tesouro como fomento divino para sua existência.
Em nós fica aquele gostinho de que nos falta uma boa dose de compromisso com o país. Coisa que será contraditada sob o argumento de que dono de dinheiro não tem pátria.

Pedindo favor

O Governo Federal anunciou a desoneração sobre produtos da cesta básica. Tal desoneração incide sobre o produto em sua fonte (produção), o que, em princípio, não significa que efetivamente seja transferido para o consumidor. A desoneração representa a média de 10% do preço final do produto, o que, se transferida, reduziria em 10% o valor da cesta básica.
A redução de 9,25% do Pis/Cofins sobre alimentos pode repercutir entre 03 a 0,4 ponto percentual no IPCA, índice de significativo peso para os números da inflação. Este o objetivo maior do Governo.
Ouvimos que o Ministro da Fazenda pediu aos empresários que promovam a redução de preços em seus produtos proporcionalmente à desoneração, o que nos cheira a fraqueza. Quando nada o reconhecimento de que não está no Governo o poder de promover benefícios para o povão e sim aos senhores empresários.
Neste país, onde a carga tributária é tida como golpe no bolso do contribuinte, seria melhor que pudéssemos reconhecer que desonerações realmente chegam ao povo no imediato do anúncio governamental e não dependessem de “pedido” do próprio Governo. 

Perdendo audiência

A audiência de carros-chefes da programação da TV Globo está despencando. Notícia que circulou, diante do destaque negativo da platinada.
A qualidade do padrão global, não o editorial, mas o técnico, é indiscutível. Mas é duro ver sempre as mesmas peças comentando “ideologicamente” temas. Como Demétrio Magnoli falando da Venezuela pós-Chávez. Como sabemos, (os que o conhecem), o que vai dizer, a melhor solução é usar o controle remoto.
São certas peças da imagem global que cansaram o telespectador; do ufanismo de Galvão ao convertido Jabor, não fora a eterna “criança” Xuxa.
Por fim, ouvir o que se ouve de analistas econômicos da Globo – sempre conflitando com o dia a dia do telespectador – tende a desqualificar a emissora. Coisa assim de dizer que é pau quando o povo sabe que é pedra.

Mantendo o faturamento

A audiência é elemento vinculado ao custo de cada segundo nos intervalos destinados à propaganda em uma emissora. A equação é simples: mais pessoas vendo/ouvindo o anúncio, mais vendas. O contrário, naturalmente se aplica: menos pessoas vendo/ouvindo a propaganda, menos vendas.
O segundo mais caro é justamente o da Globo, em razão do número de telespectadores alcançado.
Só que tal critério para o custo do segundo foi definido quando a audiência superava, em muito, os índices atuais.
O que não justifica continuar custando o mesmo de antes. Afinal, a diferença entre a emissora A e a B foi reduzida, significando que parte do telespectador migrou da platinada.
Que continua mantendo o faturamento. Acrescido com excrescências como reality shows da vida que fazem corar as antigas casas de tolerância.

Entre o ser e a matéria

Na sociedade de consumo, onde os valores aprofundam-se na contradição entre o ser e o material, rico o será o filósofo não porque domine o conhecimento da Filosofia, tampouco por quanto expresse a partir do conhecimento, mas pelo ganha com a Filosofia.
A propósito de Itabuna, registramos em nosso Rastilhos da Razão Comentada, emhttp://adylsonmachado.blogspot.com, sob o título “Ontem e hoje”:
Vagando por entre gôndolas de supermercado em busca de assegurar a sobrevivência encontramos professor Samuel. Conversa vai, conversa vem, política local (do passado ao presente) e, por fim, um pouco de literatura. Nos disse Samuel, "grapiúna da Abissínia", que por aqui andou Mário Palmério. Indaguei se o escritor. Confirmou que, em terras grapiúnas, pousou o autor de Chapadão do Bugre, obra de grande escopo e um dos grandes textos da literatura brasileira.
Mário Palmério somente publicou dois livros. Terra dos Confins, o outro. Chegou à Academia Brasileira de Letras por méritos que hoje não têm muitos dos que por lá aportam, mais aventureiros que descobridores dos meandros que notabilizaram Machado de Assis.
Veio-nos à mente personalidades outras que andaram por Itabuna. Raquel de Queiroz, uma delas. O poeta Marghella, escapado antes de ser encontrado e morto pela ditadura militar, protegido de Manuel Leal enquanto aqui esteve. Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, também hóspedes de Leal.
E Mário Palmério, como agora nos lembra Samuel.
Impusemo-nos registrar a conversa com Samuel, diante da informação, para lembrar do que representou Itabuna, em pretérito não tão distante, se comparada ao que percebemos hoje. Dos tempos da impressão tipográfica ao ofissete, passando pela linotipo.
E para não nos alongarmos, diante do que pretendemos como conclusão, encaramos parte considerável do que nos é trazido como literatura grapiúna contemporânea.
Afastados os que fazem parte de parcela da velha guarda, quase nada temos de louvável. Encontramos textos que parecem haver saído de mente indigente tirada a inteligente - para lembrar Sérgio Porto, no heterônimo Stanislaw Ponte Preta.
Mais próximos, ditos textos, de corresponder ao sentimento exposto por Agripino Grieco (1888-1973), ranheta paraibano e respeitado crítico e ensaísta literário, diante de determinado texto que lhe fora apresentado para comentário, para o qual definiu a apresentação ideal: “ser encadernado em couro de jumento para fazer jus ao conteúdo”. 

A tradição não pode perder para a produção

Os que defendemos a Lavagem do Beco do Fuxico como evento do calendário turístico de Itabuna para atrair o festeiro regional (basta que a administração organize e planeje como tal) sustentamos a razão no fato, comprovado, de que a festa carnavalesca mais original e popular de Itabuna se ampara na mais pura expressão do folião. Essencialmente ele comparece não para ver atrações, mas para ser a atração. Esta singularidade – a espontaneidade – é o filão ainda não suficientemente percebido.
Assim, quem faz a festa são os blocos locais e o folião independente. Coisa assim como a festa da turma do Garcia, em Salvador, a Banda de Ipanema e o Cordão do Bola Preta, no Rio de Janeiro.
Por tal razão, torna-se uma promoção de baixíssimo custo e de resposta segura. Caminhamos para um retorno à tradição. Importar “produção” não fará de nossa Lavagem do Beco uma festa diferente. E se ela não for diferente será apenas mais uma concorrente, igual a todas que dependem de custosos recursos para investir em nomes famosos.

Para entender

Desconhecido de muitos como intérprete é Théo de Barros, consagrado autor desde que Jair Rodrigues venceu, com “Disparada”, o Festival da Record nos anos 60.
Ei-lo, voz e violão, ofertando sua emoção para a composição em parceria com Geraldo Vandré. Emoção contida, a traduzir a essência da mensagem pretendida, bem diferente (sem demérito) da “emoção” de Jair, embalado por uma torcida de fazer inveja a Flamengo e Corínthians.
Parece-nos falar da dor e da exploração do homem.

_________________
Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e " O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum

Nenhum comentário:

Postar um comentário