segunda-feira, 27 de maio de 2013

DE RODAPÉS E DE ACHADOS-Dia 26 de maio de 2013



AdylsonQuando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.  

Adylson Machado

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Procurado pela Comissão da Verdade

Não recebemos ainda a edição de CartaCapital desta semana, nem mesmo a da anterior – anda chegando atrasada, a distribuição não explica o porquê – mas localizamos o texto de Leandro Fortes, que nos inspira, no sítio da revista a partir de matéria desenvolvida no Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim.
emiliano jose

De estarrecer: a Justiça baiana determinou, em sede liminar, a suspensão de circulação de matéria no blogue do deputado Emiliano José intitulada “A Premonição de Yaiá”, que havia sido publicada no A Tarde em fevereiro, vinculada à atuação do torturador baiano Átila Brandão, hoje convertido e tornado pastor evangélico – sem perder a “vocação” inspiradora.
Por desconhecermos detalhes no processo, não nos aprofundamos em torno do que nele está contido, até porque em respeito à magistrada, pessoa que sempre nos mereceu um voto de consideração e apreço, pela seriedade como profissional.
Ensaiado candidato a governador da Bahia em 2010, Átila Brandão foi destacado espancador de estudantes entre os anos de 1968 e 1973, quando andava infiltrado na Faculdade de Direito, enquanto integrante da Polícia Militar. Não perdeu a vocação para a censura, mormente quando alguém lembra de seu passado nada abonador, que deveria cobrar dele penitência diária pelo que fez nos tempos de chumbo. Hoje se esconde na “Fé” – com pregação à Malafaya – e tem programa na TV Aratu, retransmissora da programação nacional do SBT.
Recomendamos a leitura de “O torturador ofendido”, na CartaCapital, ressalvando que as imagens aqui reproduzidas  (à esquerda, Emiliano; à direita, o “procurado”, para não confundir) são de Xando Pereira e da Ag. A Tarde.

 

 

Discussão aberta I

A possibilidade, concreta, de serem trazidos médicos do exterior – cubanos, portugueses e espanhóis, em princípio – levantou a lebre do corporativismo tupiniquim sob o prisma da formação em Medicina em cada país de origem comparativamente à brasileira.
De nossa parte não vemos porque uma graduação em diferentes países ensejasse diferentes “qualidades” profissionais, quando o conteúdo curricular tende a ser universal nas matérias de formação. A diferença residiria, sim, na ênfase dada por cada escola. Em nível de Brasil, por exemplo, o curso de Medicina da UESC difere de outros justamente por dotar o estudante de uma formação construída a partir da experimentação diária. A San Andrés (pública), de La Paz, na Bolívia, transita pelo mesmo viés.
Em Cuba priorizou o governo a Medicina preventiva (coisa que causa urticária em grande parcela de nossos profissionais, curricularmente voltados para a medicina curativa). Naturalmente, não será estranho que cada país eleja prioridades para a atuação médica.

 

 

Discussão aberta II

Por outro lado, parece-nos suspeita a exigência, quando partimos de outro prisma de observação: sempre que “médicos cubanos” estão no contexto os ânimos ficam exaltados, em que pese a Medicina em Cuba ser exaltada por muitos mundo a fora. Nossa dúvida reside em fato elementar, apenas para ilustrar: a reação à “formação” seria a mesma da classe médica tupiniquim se os médicos pretendidos pelo governo brasileiro tivessem origem na Alemanha, Estados Unidos, França, Canadá, Austrália ou Inglaterra?
O debate que se inicia no Brasil, com a intenção do Governo Federal de trazer médicos do exterior para suprir a demanda existente, mormente em regiões hoje basicamente desassistidas em relação à média nacional, como a Norte e a Nordeste, mobiliza a classe médica não somente expondo posição contrária – tanto que exige revalidação do diploma – como trazendo possibilidades de solução a partir da oferta local, desde que o poder público alimente a motivação, inclusive criando uma carreira federal.
Discutir sem corporativismos será proveitoso. E certamente o povo será beneficiado, assim pensamos.

 

 

Governabilidade não tanto assim

bessinha

A semana repercutiu o que podemos chamar de reflexão por parte do Governo Federal: viu o PMDB arrebanhar assinaturas para uma CPI da Petrobrás e a Procuradora Eleitoral Sandra Cureau ajuizar iniciativa contra propaganda do PT por entendê-la política e eleitoral em favor de Dilma Rousseff.
Acabada de sair do embate da MP dos Portos, pretendia encaminhar uma Medida Provisória para regulamentar a mineração no Brasil, anseio, inclusive, dos inúmeros estados e municípios que não têm uma proteção para royalties nos modos como os que hoje tem explorado em suas áreas o petróleo, bandeira de políticos da oposição, a exemplo de Aécio Neves.
O Governo Federal recuou no encaminhamento da MP da Mineração. Afinal, percebe que não dispõe de parceiros confiáveis no partido de seu vice-presidente, onde muitos estão não para defender os interesses do país, mas o de amigos, como Daniel Dantas, que, se tinha interesse na MP dos Portos também o tem na da Mineração.
Alie-se ao cerco da “bancada de negócios” do Congresso os ataques que passa a receber do Judiciário, onde até sobre dimensão de ministérios Joaquim Barbosa deu de opinar.
É o que dá estar bem aprovada e com possibilidades concretas de reeleição no primeiro turno.

 

 

Discussão no Congresso

O Congresso sinaliza desencavar matérias que por lá tramitam há anos, dentre elas a(s) que cria(m) um “serviço médico civil obrigatório”, remetendo graduados em medicina e outras áreas da saúde recém formados à prestação de serviços profissionais em rincões desassistidos (onde se incluem as periferias urbanas, certamente). Neste particular, o Projeto Rondon, do início dos anos 70, sinalizou para essa possibilidade no que dizia aos grotões.
Projeto do senador Cristóvão Buarque torna obrigatório, por dois anos, para os graduados em medicina, desde que o sejam em escolas públicas ou custeadas com recursos públicos (como o defende o senador Humberto Costa), “a cumprir atendimento em regiões carentes, rurais ou periferias metropolitanas”.
Iniciativa regulatória em tal sentido tem sido recomendada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Vemos como positiva a discussão, não só pela importância de ampliar a oferta de médicos por habitante no Brasil, como pela forma posta no Congresso. Até porque, como em outras graduações, o povo custeia a formação de profissionais sem encontrar resposta, a não ser a individual conquista para alimentar materialmente o graduado.
Ou seja, por cinco, seis ou oito anos, o erário custeia a formação de inúmeras carreiras (medicina, advocacia, engenharia, veterinária etc.) sem que os novos profissionais sirvam quem os custeou com algumas poucas e míseras horas de seu trabalho.

 

 

Duvido, logo existo

barroso

Aprendemos a duvidar de pessoas ou coisas quando elogiadas por certos críticos ou “formadores de opinião”. Não há preconceito, tão somente a análise em torno do que defendem como convicções e ideologias ou por estarem na frente de batalha de interesses privados e não dos nacionais. Naturalmente temos ponto de vista que pode ser considerado por quem esteja do outro lado do mesmo modo como os vemos. No entanto, a opinião é nossa.
Por exemplo: Myriam Leitão defende o liberalismo em todas as suas vertentes – nós não temos nele(as) visto vantagem para o planeta, que o diga a crise na Europa, uma das pátrias modernas da corrente. E não falemos de próceres tucanos ou democratas, cujos exemplos são recentes em nível de Brasil.
Por essas e outras ficamos com a orelha em pé diante de tantos elogios ao futuro ministro do STF, Luís Roberto Barroso, em sede de Jornal Nacional. No lado oposto, o que nos parece positivo, o pastor Silas Malafaya critica a indicação de Barroso.
Ou o cara é muito bom ou a turma já começou o processo de vigilância permanente.

 

 

Preciso

Instando a responder sobre a alardeada crise entre o Poder Judiciário e o Congresso, Cláudio Lembo foi preciso: “A crise é o Poder Judiciário”.

 

 

Perdendo o bonde

Decididamente a região não está se dimensionando, pelo menos em nível de planejamento, para o futuro a que está vocacionada. Será surpreendida com a realidade que se avizinha e sobreviverá pelas circunstâncias naturais, não por estar preparada para o está por acontecer.
Não vemos quaisquer iniciativas, claras, de que nossos administradores estejam construindo os caminhos para o futuro que nos espera.
Sobremodo preocupa-nos que os interesses individuais – e neles inseridos o de grupos político-partidários – sobreponham-se aos da sociedade. Esta, por sua vez, parece navegar no desconhecido.

 

 

Destaque da semana

Em nosso Rastilhos da Razão Comentada, no http://adylsonmachado.blospot.com o destaque da semana foi “Seleção suspeita”:
Circulam na rede denúncias de irregularidades em procedimentos para seleção de servidores temporários em prefeituras da região. Insinuam a existência de indícios de manipulação quanto aos resultados, beneficiando apadrinhados.
Acresça-se aos inusitados processos a seleção para preenchimento de vaga temporária em órgão da Justiça Federal Especializada de Itabuna para uma determinada Vara onde concorre filha de juiz(a) titular da vara que, por coincidência, coordena, avaliará e julgará o certame.
A turma que pretende concorrer apenas pergunta se há mais de uma vaga!
Maldade!

 

 

Furtaram o jacaré

Nos anos 70 e 80, ainda residente em Itororó, não perdíamos oportunidade de comprar animais: tucanos, tatus, corujas, teiús, camaleões, em falar em perus e galinhas. Até mesmo um jacaré. Nada para atender ao estômago, mas para abrir “diálogo” com outro reino: o animal. Sentíamo-nos protegendo a fauna.
Em casa, cada um causava furor, pelos transtornos. Quando não fugiam – o tucano não aceitava a gaiola, torcia o arame e sumia; a coruja nos convencia de que era doméstica, abríamos a janelinha e ela buscava a primeira árvore e nos olhava com seu peculiar olhar, como se dissesse “viu, besta”; o tatu escafedia-se, não sabíamos como, assim que a noite chegava.
O camaleão e o jacaré, no entanto, foram utilizados pela Escola Monteiro Lobato, da professora Genira, que, em comitiva e excursão, fez com que a criançada os levasse sob festa ao zoológico da Matinha, em Itapetinga.
Tomamos conhecimento de que um jacaré de dois metros foi furtado daquele zoológico. Pelo tamanho estamos temendo que seja o “nosso” jacaré, para lá levado em tenra idade, com cerca de quarenta centímetros de “cabo a rabo”.

 

 

De biblioteca e de livros

Escrevemos recentemente sobre livros, sua importância e a frase de Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros”. Temos acompanhado, do exterior, a reforma na Biblioteca Plínio de Almeida – de responsabilidade da FICC – e percebe-se que simplesmente o espaço a ela destinado (que já se encontrava reduzido) mais reduzido o foi, para dar lugar a gabinetes para os novos oito vereadores.
Externamente vislumbra-se a existência de novos aparelhos de ar-condicionado para os novos gabinetes; nenhum para a velha biblioteca.
Certamente não é falta de dinheiro, caso contrário a Casa do Povo não estaria ensaiando novo trem da alegria.

 

 

Sobre livros

Em homenagem aos que não enxergam nos livros e na leitura a importância que merecem e, por conseguinte, pouco fazem pelo país (parodoxando Monteiro Lobato) trazemos uma ilustrada peça da lavra de Caetano Veloso, “Livros”.
O baiano de Santo Amaro, não fora a elaborada letra como lição, onde trabalha oblíquas transversais entre “distraída” (“Chão de Estrelas”, de Orestes Barbosa-Sílvio Caldas) e “desastrada”, transita pelo maracatu, como ritmo, para mostrar que a Bahia não se faz só de axé e samba de roda, mas também na busca do universo pelo verso, neles vendo a estrela entre as estrelas.
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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e " O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum

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