domingo, 28 de julho de 2013

Alguns destaques

DE RODAPÉS E DE ACHADOS*

Quando um tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além

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A primeira breada
A realeza inglesa custa milhões de libras aos súditos. No entanto, mais importante se tornou não pelo que representa em razão do processo histórico – iniciado em 1215 – que desaguou no quadro atual a partir do século XVII e sim pelo muito que contribui para a arrecadação, mormente via turismo.

Tudo nela é motivo para fazer girar dinheiro, incluindo apostas sobre tudo, como no caso do nascimento do último rebento na linha ascendente ao trono. A criança nasceu sem que ninguém soubesse o sexo (ainda que a Ciência viabilize tal conhecer a partir dos primeiros meses de vida em gestação) e “estudavam” o nome que receberia. As casas de apostas no centro de atenções.

Não sabemos se apostaram na primeira breada.

Nova versão
Mal o papa Francisco chega ao Brasil para comandar a Jornada Mundial da Juventude e uma das obras projetadas pelo Poder Público do Rio de Janeiro se reveste do que há de melhor do macunaímico caráter nacional: a picaretagem.

O Dia denunciou, a partir de ata do Conselho Municipal de Meio Ambiente originada de reunião realizada em 17 de abril deste ano, de que as áreas 2 e 5 do Loteamento Vila Mar “eram frágeis e com presença de mangues” o que exigia – não fora as preocupações ambientais – grandes somas para terraplenagem a fim de viabilizar edificações. (íntegra em http://odia.ig.com.br/noticia/jornadamundialdajuventude/2013-07-27/obra-em-guaratiba-beneficiou-empresarios.html).

Não é que o Comitê Organizador Local escolheu justamente as duas áreas para instalar o Campo da Fé da Jornada Mundial da Juventude?

Como previsível, ali aplicou 22 milhões de reais em terraplenagem, tendo a Prefeitura gasto outros R$ 6 milhões na infraestrutura no entorno do campo”.

O terreno é propriedade de Jacob Barata Filho, aquele empresário de ônibus da festa de casamento nababesca que ocupou o noticiário social recente.

Nordestino que somos, conhecemos este filme com outro cenário: as barragens, açudes e aguadas construídos pelos flagelados dentro dos programas de obras contra as secas com recursos do Poder Público.

Naturalmente em benefício dos latifundiários nordestinos e suas propriedades.

Os tempos forçam mudanças. Mudam-se os latifundiários, não as obras. O que não muda são as fontes dos recursos.

Henfil tem razão
O fato constrange autoridades do Rio de Janeiro. Um pedreiro de 47 anos, Amarildo, pai de 6 filhos, foi abordado, no dia 14 de julho, por uma equipe de policiais integrantes da UPP da Rocinha. Desde a data está desaparecido. Nas ruas a campanha “Onde está Amarildo?”

Essa coisa de polícia abordar e fazer desaparecer é ainda rescaldo da ditadura militar. Falta a investigação da história reconhecer o que Henfil detectara ao vivo e em cores nas forças policiais da época.

Indigência
Na santa ignorância que nos acomete, mais pautada em certo complexo de vira-lata, nos imaginávamos, como país, a maior expressão do analfabetismo funcional. Debruçado sobre texto, de igual título, de Thomaz Wood Jr., na Carta Capital 758, descobrimos que a preocupação não é recente (sobre ela estudos nos Estados Unidos, nos idos de 1975) tampouco privativa dos que ingressam no mundo universitário através de cotas – como querem fazer crer os agitadores da elite dominante.

A chamada da matéria do pesquisador da Fundação Getúlio Vargas diz muito: “Alarmante! A dificuldade para interpretar textos e contextos, articular idéias e escrever está presente em seletos ambientes do mundo corporativo e da academia”, razão por que “afeta alunos de MBAs, mestrandos e mesmo doutorandos”.

Relata que um professor de universidade estadunidense deu-se ao hábito de exigir dos alunos tarefas como escrever um texto curto, através do qual avaliava a capacidade analítica dos autores. Foi chamado às falas pela instituição, diante da revolta dos pupilos com o procedimento magisterial.

A conclusão de Wood Jr. é dolorosa: “Na academia, multiplicam-se textos caudalosos, impenetráveis e ocos. Se aprender a escrever é aprender a pensar, e escrever for mesmo uma atividade em declínio, então talvez estejamos rumando céleres à condição de invertebrados intelectuais”.

Como todo escrever tem passo inicial no ler ficou-nos um alento: encontramos a razão por que nos cansamos de ministrar aula, numa das instituições onde ensinamos há 32 anos. Sem generalizar, nos apropriamos do expresso pelo professor Jorge de Souza Araujo em entrevista ao ABXZ Caminho da Letras: “Um professor que não lê não pode estimular o aluno a fazê-lo”.

Estamos encaminhando pedido de aposentadoria. Faltou-nos o espírito da caridade cristã para a convivência com o indigente processo de alienação das gerações.

Tidas como culpadas por nada aprenderem!

Gurgel não se emenda
O quase ex-Procurador-Geral da República inscreve mais uma página em seu currículo que tende à mediocridade no âmbito do caráter funcional; ainda que dispondo dos indícios suficientes para pedir a instauração de processo criminal contra o ministro Ari Pargendler junto ao STF optou pelo pedido de arquivamento.

O fato que motivava a manifestação ministerial diz respeito ao ocorrido numa agência bancária, em outubro de 2010, entre o então ministro do STJ e um estagiário, confirmado testemunhalmente, que ficou nas gavetas do procurador durante três anos e delas sai para o gran finale da carreira. Caso o leitor deseje mais detalhes do fato, além dos conhecidos, acesse http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/07/27/estagiario-negro-cinismo-de-gurgel-foi-longe-demais/

Sendo negro o estudante e ex-estagiário, pode Sua Excelência sabê-lo também petista, praga a ser arrancada a fórceps do planeta sob o condão de sua chibata.

Coincidências
Em 1963 – há 60 anos, portanto – assumia o papado Giovanni Montini (1897-1978), tornado Paulo VI naquele 21 de junho, em inusitado conclave que gerou informações de quem seria o sucessor de João XXIII e o nome que adotaria antes mesmo de a fumaça branca aparecer. Assegurando continuidade ao ConcílioVaticano II (interrompido com a morte do antecessor que o instalara) ofertou à Igreja um dos instantes de expressivo reformismo a partir dos muros da Santa Sé.

Não somente no plano litúrgico mas também nas relações com outras religiões a Igreja Católica de Paulo VI se abria para conhecer o mundo.

Reconheceu as mazelas do planeta, exigindo mudanças concretas na América Latina e ofertou à África dimensão até então inimagináveis para o continente que acolhera o pequeno Filho de Deus e sua Sagrada Família.

Em evento no curso da Jornada Mundial da Juventude o papa Francisco, que se despe da pompa para ouvir, recebeu representantes vários, inclusive do candomblé.

Coincidência ou não há afinidades no que dizem um e outro.

Legado
Da passagem do papa Francisco – resplandecente de simpatia e carisma – cabe investigar se alcançará os resultados que a Igreja Católica precisa em nível de Brasil, um deles fundamental: recompor sua base de fieis.

Tudo parece estar as mil maravilhas. No entanto a (re)aproximação com o povo depende de uma proposta firme de Fé. Não aquela que se sustenta pura e simplesmente na recomendação à reclusão interior para encontrar o Paraíso como destino último.

Não são os dogmas em si mesmos o que afasta muitos da Igreja. Quando lutávamos por romper tabus nos anos 50 e 60 (dentre eles o da virgindade) não significou afastamento da juventude dos templos católicos, ainda que os valores defendidos pela Igreja à época se equivalessem aos de hoje no que diz respeito à castidade como virtude.

O contraponto que nos levava – os que o desejassem – à procura da Igreja era uma mensagem concreta que havíamos encontrado com a Mater Magister e a Pacem in Terris, que nos remetia a conhecer documentos mais pretéritos como a Rerum Novarum e a Quadragésimo Ano.

E na esteira de tudo a conversão acompanhada de uma esperança de mudar o mundo como proposto pelo Cristo, amparando os pobres e desvalidos de bens materiais que os fazia “de espírito” por não poderem acreditar em Deus se tinham a “barriga vazia”, como acentuava Dom Hélder Câmara lembrando Santo Agostinho.

Os sinais são positivos. Para a atual geração peregrina. Mas não se recupera o que foi destruído em quatro décadas num passe de mágica.

Até porque, se o carismatismo e o pentecostalismo fossem o caminho a Igreja Católica no Brasil hoje teria quase tantos fieis quanto habitantes. 

A maior dificuldade que encontra a missão do Papa Francisco é o reencontro da Igreja com a América Latina marginalizada. Que antes nela encontrava a Teologia da Libertação, despedaçada e estuprada pela visão doutrinária dos que responderam pelo Vaticano recentemente.

Em penitência
De tanto acompanhar o papa Francisco em sua programação alguns já imaginam estar a Globo fazendo mea culpa com vistas a ser perdoada pelo que faz.

Começando por criticar a política fiscal do Governo Federal quando a ele deve bagatela que hoje supera 1 bilhão de reais.

Eventos
Paralelamente às comemorações pelos 103 anos de emancipação político-administrativa de Itabuna dois ventos marcaram a semana: a exibição de documentários sobre a cidade na quinta-feira dentro da programação do Cineclube Grapiúna Mário Gusmão e os 81 anos do ABC da Noite, no Beco do Fuxico, antecipado para o sábado.

No Beco o Cabôco Alencar foi homenageado com uma placa alusiva ao instante.

Itororó
A velha Itapuhy ainda não acordou do sonho de ver em Pierre um dos poucos baianos campeões da Taça Libertadores da América.

Há ensaio para Marrocos.

Mensagens e mensageiros
Há 40 anos ocupava espaço na música popular uma música religiosa que superava o canto litúrgico por um toque nos corações de quem a ouvia.

Destituído de vocação comercial, a harmonia de Padre Zezinho apenas evangelizava as gerações que conviviam com os porões da ditadura militar.

Há mensagens e mensageiros. Em tempo de viagem do papa Francisco ao Brasil, um brasileiro cantando a mensagem de “Um Certo Galileu” em http://www.youtube.com/watch?v=OlzHfUddSkA

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* Coluna publicada aos domingos em www.otrombone.com.br

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