quinta-feira, 4 de julho de 2013

Dúvida

Como alimento
A produção de alimentos ocupa espaço privilegiado no cenário brasileiro e espécies de produção tem se tornado menina dos olhos dos que enxergam além do horizonte, ou para nosso horizonte. A agricultura de extensão ultrapassa limites distantes do que se poderia imaginar há duas ou três décadas. A soja, por exemplo, saiu dos limites da região Sul e ocupa cerrado e ameaça até a Amazônia Legal, porque parte daquela existente no Mato Grosso já foi ocupada.

Produzir comida encontra resposta na certeza de que sempre há mercado consumidor em potencial. Em teoria. Porque a concentração dos resultados da produção acumulam-se no mercado financeiro, quando não manipulados escancaradamente por este.

Apenas à guisa de ilustração, se tomamos o volume da produção de grãos no Brasil vamos encontrar quase uma tonelada deles por habitante, o que representa uma média de quase três quilos por pessoa/dia, de mamanu a cadacanu - no dizer dos antigos. No entanto parcela de nossa gente ainda depende de programas sociais de transferência de renda para assegurar refeições diárias, não fora a leva que cata a sobrevivência nas latas de lixo.

Temos a clássica apropriação da riqueza produzida por todos por sistemas estéreis, alimento para teorias de economistas e cientistas sociais. Afinal, a perversidade dos artifícios financeiros permanece, porque da sua essência, de criar recursos sem gerar trabalho, muito menos justiça social. E esvai-se pelo ralo a felicidade social em favor de escassos felizardos individuais.

Anuncia-se para hoje um anseio da cacauicultura: a inserção do cacau na política de preços mínimos do Governo Federal. Parece ser oportuna, ainda que tardia, a sua consolidação.

Como a dúvida é nosso alimento diário, diante de uma sociedade cada dia mais desumanizada, não sabemos se atende aos reclamos do produtor. Nos dizia um, sábado passado: falam em 85 reais, mas não dá para cobrir os custos da produção, que hoje giram em torno de 115 - afirmou desencantado.

No instante resgatamos da memória o grapiúna Jorge Amado no primeiro capítulo de Dona Flor e Seus Dois Maridos, nos tempos áureos do theobroma em que "um certo Moyés Alves, fazendeiro de cacau, rico e perdulário", custeara a farra do escocês na manhã do domingo de carnaval em que morreu Vadinho.

Certamente o preço mínimo não dará para importar perfumes da França ou caviar da Rússia. Mas pode ser um bom começo para pensarmos mais na agricultura, como profissão, e menos nos artifícios da esterilidade financeira como vocação.

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