quarta-feira, 3 de julho de 2013

Da intenção

À reação
A palavra de ordem entre políticos (em todo os níveis de representação) diante da eclosão e desdobramentos das mobilizações populares - iniciadas tão só pela discussão e reforma do serviço público de transporte urbano e suas abusivas tarifas - transitou entre a perplexidade e a incompreensão. Daí, os temores a partir do instante em que passaram a ser alvos diretos das manifestações como agentes da inércia, desinteresses, corrupção etc.

A vitória das ruas residia justamente em haver encurralado a classe política. Foram esquecidas as virtudes deste ou daquele governante, a atuação positiva desta ou aquela gestão em andamento e prevaleceu o que antes estava no recôndito da indignação.

Como guerreiros entranhados num cavalo de Tróia disponibilizado há anos e ainda não recolhido ao interior da cidade, aguardavam o instante oportuno para agir. Até que o "presente de grego" fosse aceito a acomodação da classe política a fazia imbatível no interior de suas fortalezas. 

De um instante para outro descobriram Suas Excelências que podiam ser atingidos pelo tsunami das ruas, onde uma nova expressão de democracia se apresentava como verdadeira, ainda que na força do "barulho e luta", como a entendeu Vladimir Safatle.

Atropelada pelos fatos a classe política de imediato sentiu o nocaute, mas não tardou recuperar o domínio da situação. E aquilo que deveria ser a revolução da intenção horizontalizada nas ruas - uma atuação direta, paralela - ocupando o comando pedagógico com relação às instituições políticas verticalizadas perde espaço no consenso proposto.

E assim, a convocação de um plebiscito para avaliar a possibilidade de convocação de uma Assembleia Constituinte específica para corresponder aos reclamos por uma reforma político-eleitoral caiu no vazio, assim que oxigenada para a vida.

Da intenção das ruas  - e o fruto que dela se originara - à reação da classe política - em defesa de seus privilégios, viveremos a clássica lição eternamente ministrada pelas elites dominantes: dê-se os anéis para que não percamos os dedos.

Pelo andar da carruagem ainda não veremos a vitória da intenção. Nos damos por satisfeitos por festejarmos a da reação.

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