quinta-feira, 18 de abril de 2013

Leituras

De um tempo preciso
A propósito do recém lançado "Mejigã e o contexto da escravidão" (Editus), obra sob coordenação do professor Ruy do Carmo Póvoas, que centra observações textuais a partir da saga de uma escrava ijexá, africana de origem, trazida para o Engenho de Santana e que assumiu a liderança da luta pela libertação de sua gente, nos vem à mente, pela pertinência de nossa proposição, texto escrito por volta de 2003-2004, a partir de uma outra obra do professor Ruy Póvoas: "A Fala do Santo".

Fazemo-lo, neste instante, por entendermos que o professor Ruy Póvoas está inserido em propostas literárias de resgate não só da cultura afrodescendente, sob ótica específica, mas trazendo a lume dimensão aprofundada da contribuição de parcela da composição cultural brasileira somente começada a ser reconhecida em tempos mais recentes.

Em torno de "A Fala do Santo" registramos o que a obra representa para nossa cultura, sob o viés do que temos perdido pelo caminho de subserviências que nos levam à renúncia cotidiana de nossos valores, como resgate ainda não reconhecido por autoridades, ainda que dez anos de seu lançamento.

"A obra de Povoas revisita não somente infâncias pretéritas como as nossas, mas os próprios fundamentos de um povo empurrado para a trilha de não ser nação, em que pese abençoado e convocado para tornar a sua vida, a sua história, a sua gente num referencial para o planeta.  

À Secretaria de Educação do Município de Itabuna recomenda-se a iniciativa de dar a conhecer 'A Fala do Santo' como meio de abrir caminhos para que futuras gerações não percam o elo entre origens inconscientes, seus arquétipos, e a existência presente.

Pelo menos uma vez por semana, a leitura de cada itan, para interpretação oral e em textos, contribuiria para conviver com valores que não se perdem graças ao registro de visionários como Ruy Póvoas, necessária contribuição para que não percamos nossa identidade. Melhor viver Póvoas a debruçar-se tão somente sobre Esopo e La Fontaine.

'A Fala do Santo' não é apenas obra de registro memorial da ética e da moral de um povo específico. Mas, parte de uma nacionalidade ferida sob o tacão de pensadores de uma educação não voltada para o Brasil. Vemo-lo como livro didático, que deve ser recomendado, pelo menos, em nível das escolas municipais. Como leitura obrigatória a contribuir para a formação da consciência de nossa gente".

Ainda que não tenhamos nos debruçado sobre "Mejigã e o contexto da escravidão" cremos que a contribuição trazida pelo professor Ruy Póvoas está inserida nesta proposta didática, tratando a história de nossa gente como fundamento de nossa nacionalidade, tão espezinhada nestes dias.

Afinal, o que escreve o professor Ruy Póvoas diz respeito à leituras de um tempo preciso.


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