quinta-feira, 11 de abril de 2013

Narciso

E seus espelhos
Dois textos da Carta Capital nº 743, que nos chegou esta semana, “A mídia na ditadura”, de Maurício Dias, e “Joaquim Barbosa faz diferença?”, de Cláudio Bernabucci, podem ser lidos no plano sistemático, ou seja, em consonância ou se completando, se tomamos como centro de atenção a postura do atual presidente do Supremo Tribunal Federal e o trunfo que o torna personalidade da mídia: o julgamento da AP 470.

Maurício Dias trata do que representou a ditadura militar para a hegemonia da Globo e Cláudio Bernabucci da “decepção profunda” em ver Joaquim Barbosa premiado pelo jornal O Globo naquilo que denomina de “manifestações autocelebrativas” tipo as que pululam em programas televisos para enaltecer os da própria casa, muito comum, inclusive, na própria TV Globo. Sinaliza Bernabucci haver “o presidente do Supremo, símbolo personificado da Justiça” fugido do perfil público, mais privado e sóbrio que se espera de um titular de tão augusto cargo ao participar do Prêmio Faz Diferença.

No entanto, precisa e preciosa é sua observação trazida no destaque da matéria: “Em meio a atrizes e cantores o presidente do STF recebe um prêmio da Globo, celebrado pelo jornal que mais o submeteu a pressões à época do ‘mensalão’”.

Nossa leitura é simples: da mesma forma, espúria, como as organizações Roberto Marinho ampliaram o domínio sobre o controle da informação (televisão, rádios, jornais e revistas) - aquilo que não ocorre em países civilizados - conivente com a ditadura militar que ajudou a instalar e a defendeu ainda que torturando e matando em seus porões, exerce o poder que detém não em defesa dos valores nacionais, tampouco da democracia, mas da manutenção da denominada casa-grande e para tanto faz ridículos para corresponder aos seus objetivos tantos os que queiram se prestar ao papel.

No entanto, façamos justiça: não impõe. Apenas sinaliza para a vaidade pessoal dos que têm a rede como espelho de Narciso. Aí reside a diferença.

Cabe ao homenageado fazer jus à homenagem; Talvez aí a razão de Joaquim Barbosa desconhecer princípios como o da razoabilidade e da ampla defesa quando nega aos réus da AP 470 a possibilidade de prorrogação de prazos para embargos.

Certamente o preço cobrado pelo sistema para assegurar a Narciso os seus espelhos. Que os aceita e se deslumbra com eles.


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